
Desde que o Atlético vendeu 75% das ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), os torcedores do Galo cobram que os acionistas se comuniquem de forma mais frequente. No entanto, a primeira vez em que um deles concedeu uma entrevista coletiva foi nesse sábado (7/6).
Rafael Menin, principal gestor do clube, foi o responsável por responder diversos questionamentos em um evento que durou três horas. Ele justificou que os empresários aparecem pouco por terem um perfil mais fechado, além de pedir desculpas por não ter uma linguagem que o aproxima mais dos atleticanos.
“Quem está na SAF tem um pouco do perfil que o torcedor precisa entender. Nós não temos o perfil do boleiro, então não esperem de mim essa comunicação do boleiro, não é minha característica. Não estou falando que é defeito ou qualidade. Talvez eu tenha uma fala mais técnica, até pela minha formação, eu sou CEO de uma grande empresa de capital aberto, então tenho uma fala menos conectada com o torcedor de verdade”, disse.
“Eu concordo, me desculpa por não conseguir me expressar tão bem com a nossa torcida, mas não é por má vontade, é por estilo, eu tenho o meu e você o seu. No futebol brasileiro, nós nos acostumamos a ter figuras mais comunicativas com o povão. Mas isso vem mudando, não sei se para o bem ou para o mal”, apontou.
Comparações com outros clubes
Rafael também comparou a situação do Atlético com a de outros clubes europeus. Apesar de admitir a diferença cultural de cada país, o empresário citou os donos do Liverpool e do Arsenal que, segundo ele, não aparecem frequentemente.
“Lá fora os donos do Liverpool são uma família de Boston que é dona de um time de beisebol. Eles se comunicam pouco da torcida, mas a torcida está feliz porque entre 2013 e 2025 estão bem, então não estão muito preocupados em escutar os acionistas. Eles querem escutar o Klopp (ex-técnico do Liverpool), agora o Slot (atual técnico do Liverpool), o diretor”, apontou.
“No Arsenal é a mesma coisa, uma família americana, quem falava era o Edu (ex-diretor de futebol do Arsenal) e o Arteta (treinador do Arsenal). Mas lá existe uma cultura, os torcedores já estão acostumados. Esse movimento de transformação em empresa aconteceu há 20 anos, então é mais comum o torcedor escutar pouco o acionista”, prosseguiu.
Rafael Menin cita Bill Gates
Outra comparação feita por um dos investidores do Atlético foi com outros donos de empresas mundiais. Ele diz que Bill Gates também tem um perfil low-profile (discreto) na Microsoft , enquanto Elon Musk já se comunica mais frequentemente em relação à Tesla.
“Não sei se é certo ou errado, mas é uma definição do clube. Isso vale para o futebol e para outras indústrias. O maior acionista da Microsoft é o Bill Gates, ele não fala pela empresa há 10 anos, o Elon Musk já fala todo dia pela Tesla. O que definimos como estratégia de comunicação, com participação do Domênico (Bhering, diretor de comunicação), de outras empresas, é que temos um time de diretores muito bom e vamos tentar trazer o máximo possível de informação de qualidade”, afirmou.
Além disso, Rafael acredita que a imprensa pode ajudar o Atlético a estar mais próximo dos torcedores.
“Mas precisamos também de vocês (imprensa). Acho muito importante a imprensa estar mais próxima do clube. Todos esses temas mais polêmicos, nós temos que trabalhar mais em conjunto para que o torcedor tenha uma informação cada vez mais transparente”, disse.
Entrevistas vão ser mais frequentes?
Apesar do pedido de desculpas, Rafael Menin optou por não prometer uma frequência maior de entrevistas dos donos do Atlético. Ele até citou uma possível periodicidade, mas deu a entender que todos vão continuar se comunicando de forma esporádica.
“Você tem acionistas no Brasil que são mais presentes na comunicação do clube, outros menos. Temos um perfil mais low-profile. Até fomos menos na época de Covid-19, tinham as lives, eu participei de algumas, meu pai de outras, hoje temos participado muito menos”, iniciou.
“O que me proponho a fazer, de tempo em tempo, sei lá, a cada três meses, não sei, sem definir uma periodicidade, ter uma manhã com vocês, igual estamos tendo, para ter esse bate-papo. Mas não esperem de mim ou do Rubens, do Ricardo, do Renato, nem do Sérgio, esse contato diário com o torcedor, por característica e porque achamos que o clube tem profissionais que são remunerados e muito qualificados que devem fazer esse papel”, prosseguiu.
Na visão de Rafael, os dirigentes do Atlético podem cumprir bem o papel de explicar e passar as principais informações do clube para a torcida e imprensa.
“E vai ser mais como é hoje do que como era lá atrás. Tenho certeza que o clube tem profissionais na área da comunicação, Paulo (Bracks, CSO), e Victor (Bagy, diretor de futebol) no futebol, Bruno (Muzzi, CEO), e Tiago (diretor financeiro) na parte financeira, o Carlinhos (Pinheiro, diretor de engenharia) para falar da Arena, temos profissionais que dedicam o tempo ao Galo, que têm todas as condições de falar pelo clube”, finalizou.