
As finanças da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Atlético têm sido tema de debate frequente nos programas esportivos de Minas Gerais – e também entre os torcedores alvinegros – nos últimos meses. Com pendências no mercado e com atletas, o Galo segue lutando contra o endividamento bilionário, que interfere diretamente no cenário esportivo. Qual o tamanho do aporte necessário para mudar significativamente a situação? O economista Cesar Grafietti respondeu.
Nas últimas semanas, foram divulgados diferentes números relacionados à dívida do Atlético. O Relatório Convocados, da Galapagos Capital – elaborado pelo próprio Grafietti -, aponta que o montante supera os R$ 2,3 bilhões. Já o clube mineiro calcula a cifra em R$ 1,3 bilhão.
“Olhando os números aqui, tem que separar algumas coisas. Primeiro, tem as dívidas da Arena MRV, que já estão alongadas. É mais difícil você pagar dívidas que estão alongadas, que tem um fluxo mais ou menos estruturado. Olhando do ponto de vista de dívidas que incomodam e que atrapalham realmente a gestão do clube, a gente tem mais ou menos ali R$ 1 bilhão de dívidas onerosas, que nós chamamos”, iniciou o especialista à Rádio BandNews.
“Para reduzir esse número para um número razoável, talvez tivesse que aportar ali entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões, para reduzir bem essa dívida. E tentar alongar o máximo possível. Do ponto de vista de corte de folha e tudo mais: eu evito falar em corte de folha, porque os clubes têm uma série de outros gastos e custos que às vezes a gente não sabe o que é. Estão sempre em contas ali de ‘outros, serviços de terceiros’, algumas coisas assim”, prosseguiu.
Grafietti ainda fez recomendação aos clubes de futebol, de modo geral: que gastem no máximo 80% de tudo o que geram em receitas. “Eu sempre recomendo que, do ponto de vista operacional, o clube deva gastar no máximo até 80% de tudo o que ele gera de receita. Para quê? Para que sobrem 20%, e esses 20% sejam capazes de ir pagando as dívidas, de ir fazendo os investimentos necessários”, argumentou.
“Nesse sentido, acho que, em grandes números, precisaria aportar ali uns R$ 600 milhões, R$ 700 milhões, e cortar para ficar com uma geração de caixa (que a gente chama, que é a receita menos custo e despesa) da ordem de 20%. Isso é um pouco de receita de bolo para tentar equilibrar as contas”, concluiu.
O que diz a SAF do Atlético sobre novos aportes?
Em entrevista concedida no último sábado (7/6), na Arena MRV, Rafael Menin reconheceu a urgência de novos aportes no Atlético. Ainda assim, deu a entender que os atuais gestores da SAF alvinegra não farão investimentos neste sentido nos próximos meses.
O Conselho de Administração da SAF do Galo segue enxergando com bons olhos a entrada de um investidor externo. Ainda assim, prega cautela com a possibilidade.
“Futebol não é fácil. É uma indústria muito peculiar. ‘Ah, arruma investimento, traz um árabe para pagar essa dívida toda. Os Menins não querem colocar, vendam o Atlético’. O mundo real não funciona assim. Conseguir um investidor de boa reputação, que possa colocar a quantidade de recursos necessários, que tenha visão de longo prazo, é uma mosca branca”, afirmou Rafael Menin.
“O que temos procurado fazer é um processo muito bem feito, que já fizemos há dois anos. Já fizemos o primeiro passo: consultar bom consultores e assessores para, quem sabe, trazer em algum momento mais capital para dentro da SAF. Não significa que estamos vendendo a nossa parte, não é isso. É trazer capital, que seria diluído”, explicou.

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Economista explica “cálculos diferentes” sobre a dívida do Atlético
Ainda à BandNews, Grafietti explicou os diferentes critérios adotados para o cálculo da dívida do Atlético. A análise do Relatório Convocados é mais abrangente e também leva em consideração nas contas os adiantamentos de receitas feitos pelo clube mineiro.
“São critérios. Os critérios, a gente pode elencar diversos. Em geral, os dirigentes usam critérios mais favoráveis. No meu caso, eu uso sempre os critérios que o mercado financeiro adota: dívida é o quanto se deve. Não a relação entre o quanto se deve e o quanto se tem a receber. Isso tem outros nomes. Então, dívida é: o Atlético deve R$ 2,3 bilhões porque eu pego todas as dívidas onerosas (com banco, com pessoas físicas, empréstimos, gerais), pego todo o valor a pagar a clubes, a agentes, salários, todos os adiantamentos”, explicou.
“No caso do Atlético, tem um volume grande de adiantamentos que são os adiantamentos feitos para a Arena MRV. Então, tem quase R$ 500 milhões ali de adiantamentos feitos. Disso tudo, eu deduzo só o caixa. Só a posição de caixa. Alguns clubes deduzem ali o valor a receber de venda de jogador – e aí, por isso, talvez tem essa diferença. Eles deduzem o valor a receber da venda de jogador e não devem considerar os adiantamentos em relação às receitas, especialmente no caso da Arena MRV”, acrescentou o economista.
Em seguida, o consultor de gestão e finanças no esporte justificou o porquê de considerar os adiantamentos de receitas na conta das dívidas de um clube. No caso do Atlético, as antecipações feitas para a conclusão das obras da Arena MRV pesam negativamente neste sentido.
“Por que eu considero as duas coisas? O próprio Atlético deve pagamento de aquisição por causa da contratação do Deyverson. Se ele não deve para outro clube, por que ele deveria considerar o que tem a receber? Esse é um valor que não é certo. Eu não posso deduzir. Eu não sei se ele vai entrar no caixa ou não. Segundo: os adiantamentos não são dívidas. O clube não vai ter que pagar. Mas ele vai deixar de receber. Ele já recebeu esse dinheiro”, afirmou.
“Conforme for passando o tempo, esse dinheiro não vai entrar no caixa. Então, aquela receita de 100 e você já adiantou 20, vai ser de 80. Te sobra menos dinheiro para pagar as dívidas. Por isso que a gente considera também os adiantamentos. A minha visão é uma visão mais ampla. É de fato a necessidade de aportes ou de pagamentos que o clube têm que fazer – inclusive, aquela que deduz as receitas que virão para pagar essa dívida”, encerrou Grafietti.