A dívida bilionária tem sufocado o Atlético e tido reflexos no elenco profissional. Nessa terça-feira (22/7), uma enxurrada de notícias trouxe à tona cobranças, judiciais ou não, de atletas contra o clube. A seguir, o No Ataque detalha como o momento financeiro conturbado da SAF alvinegra chegou ao campo – e de que forma a diretoria tenta retomar o controle da situação em meio às turbulências nos bastidores.
O Atlético convive com uma situação financeira delicada há algum tempo. Os atuais gestores assumiram a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) em novembro de 2023, mas não conseguiram diminuir expressivamente a dívida do clube. O balanço do Galo mostrou débito de R$ 1,3 bilhão ao fim daquele ano e de R$ 1,4 bilhão em dezembro de 2024.
Nesse período, o clube ainda contou com o aporte de R$ 200 milhões do banqueiro Daniel Vorcaro, montante que foi dividido em seis meses. No entanto, a reportagem apurou que esses valores logo eram diluídos para colocar o fluxo de caixa em dia.
A situação foi ficando cada vez mais delicada até que, nesta temporada, o Atlético começou a atrasar pagamentos ao elenco profissional. Isso já havia ocorrido em outros momentos, como em maio de 2023, mas não era algo recorrente.
Dívidas com jogadores, clubes e agentes
Neste ano, o Atlético atrasou pagamentos aos jogadores em pelo menos três meses. Além de salários e direitos de imagem, o clube deve luvas a alguns agentes no mundo do futebol.
O Galo também não tem honrado com parcelas de compras de alguns jogadores. O alvinegro deve valores a Corinthians, Athletico-PR, Cuiabá e Botafogo pelas contratações do volante Fausto Vera e dos atacantes Cuello, Deyverson e Júnior Santos, respectivamente.
Movimentação dos jogadores
A “bomba” estourou na tarde dessa terça-feira, quando a notícia de que Rony pediu rescisão com o Atlético veio à tona.
Em seguida, o No Ataque confirmou que os meias Igor Gomes e Gustavo Scarpa realizaram notificação extrajudicial em relação aos atrasos de pagamentos. O lateral-esquerdo Guilherme Arana também.
A reportagem apurou que o clube vê essas manobras extrajudiciais como algo mais frequente no futebol brasileiro. Além disso, são notificações que ocorrem há mais tempo. Segundo fonte do Galo, o que fugia do padrão era a ação de Rony – que, por fim, voltou atrás e decidiu continuar no clube.
Houve jogadores que não aderiram ao movimento de cobrança. Publicamente, o zagueiro Lyanco e o meia Bernard negaram ter notificado o clube.
O goleiro Everson, o lateral-direito Saravia, o zagueiro Igor Rabello, o meio-campista Gabriel Menino e o atacante Cuello também evitaram ir à Justiça.
Palavra do líder
Ídolo do Galo e principal líder do elenco, o atacante Hulk falou sobre a situação em entrevista em 9 de julho. Ele admitiu estranhar a situação, mas externou publicamente confiança nos gestores da SAF.
“É uma situação meio delicada. Cheguei aqui em 2021, desde então nunca vivemos esse momento. Ontem (terça) tivemos uma reunião com o CEO. Nos passaram algumas situações, temos esperança que as coisas voltem a melhorar. A gente acredita nos investidores, são pessoas responsáveis, grandes empresários, eu tenho certeza que estão pensando em algo para poder resolver essa situação”, afirmou.
Como o Atlético vê a situação
O Atlético se manifestou apenas em relação à ação de Rony. O clube garantiu que está em dia com os salários.
“O Atlético informa que foi notificado pela Justiça do Trabalho, em ação ajuizada pelo atacante Rony, cujos pedidos ainda desconhecemos. O Galo esclarece que está com os salários (CLT) em dia, e somente com uma parcela dos direitos de imagem atrasada em dois dias. O Clube aguarda obter mais informações para tomar as medidas necessárias e cabíveis”, diz a nota.
O No Ataque procurou o alvinegro sobre outros processos, como o do massagista Belmiro e o do centroavante Deyverson, mas a comunicação do clube não quis se manifestar. A reportagem apurou que o Atlético não deve ficar se posicionando a todo momento e que vai aguardar as estratégias jurídicas.
Ao mesmo tempo, o Galo prometeu a Rony que todos os débitos serão colocados em dia nesta quarta-feira.
A explicação dos gestores
Gestor da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Galo, o empresário Rafael Menin justificou o cenário em entrevista coletiva concedida em 7 de junho na Arena MRV, em Belo Horizonte. Veja a declaração do empresário:
“A gente previa, ao longo do primeiro semestre, fazer uma captação – uma captação significa o alongamento do endividamento – que a gente não conseguiu concluir ainda, infelizmente. O mercado está um pouco mais difícil, eu diria. Um pouco mais hostil. A gente tem um processo em andamento, que infelizmente não foi concluso até maio, que era nossa data prevista.
Esse processo deve ser concluído, se tudo correr bem, no fim do terceiro trimestre, ou no começo do quarto trimestre. A gente espera resolver essas pendências. Para a gente, como gestores e sócios de outras empresas, empresas de capital aberto, você não sabe o quanto ruim é não honrar um pagamento.
E de fato aconteceu. De alguns clubes, a gente atrasou parcelas. Pagamos algumas, não pagamos outras. Deixamos de receber também, isso é bom que se fale. Tinha no nosso fluxo de caixa uma previsão de receber R$ 24 milhões até agora, que nós não recebemos.
A Arena, infelizmente, demorou um pouco mais para ser reaberta. Vocês sabem que o desempenho financeiro da Arena é muito superior ao que é do Mineirão e também do Independência. Isso nos atrapalhou um pouco. Então, de fato, foi um semestre duro.Tem sido falado com muita frequência sobre atraso de salário, atraso de imagem. Teve alguma coisa. Não são atrasos de 30 dias. São atrasos menores.
O salário tem que ser pago até o dia 5, foi pago no dia 10. Imagem que tem que ser paga até o dia 20 atrasou 10, 15 dias em alguns meses. Isso até aconteceu, não foi a primeira vez. Já aconteceu em 2023, em 2022, em 2021… O que a gente luta muito é para que não haja um acúmulo de atraso, porque a gente sabe que isso pode ter impacto em campo e também porque a gente tem que honrar.
Se existe um contrato assinado com um empresário, com um atleta, a gente tem que honrar. De fato, a gente piorou um pouco nesse quesito no primeiro semestre desse ano, principalmente por essa operação que não foi concluída a tempo. Mas não é a primeira vez. Nesse ciclo nosso de 20 a 24, ocorreram eventos dessa natureza numa magnitude menor. Mas você pode ter certeza que eu não estou dormindo por isso.
Eu sofro demais. O Bruno (Muzzi, CEO) sofre demais, o Thiago Maia (CFO) também sofre demais. A gente ter que pegar o telefone e, às vezes, ligar até para um banco, para um fornecedor e ter que pedir desculpas. Falar: ‘Pô, estamos tentando. Vamos tentar te pagar’. Isso é muito ruim. É muito duro para quem está aí numa trajetória empresarial de décadas, construindo uma reputação. Eu acho que os sócios da SAF têm uma reputação muito boa. E essa reputação não foi construída por acaso. Foi fruto de muito trabalho. E ter que passar por isso, você não sabe o quanto isso dói na gente. Mas estamos trabalhando para resolver o mais rápido possível”