A esquina entre as ruas do Ouro e Amapá jamais será a mesma. Localizada no Bairro Serra, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, o cruzamento das vias sedia, há 72 anos, o Bar do Salomão, um dos mais tradicionais pontos de encontro da torcida do Atlético na capital mineira. Essa história terá um “ponto final” daqui a exatamente um mês – em 13 de setembro – para dar lugar a uma franquia de rede de farmácias.
No local, será erguida uma nova filial da Droga Raia, conforme antecipado pelo Sou BH e confirmado pelo No Ataque.
“Foi uma proposta irrecusável”, disse Salomão Filho, proprietário do boteco, em entrevista exclusiva à reportagem. Embora a trajetória na icônica aresta de BH – que pertence à sua família há três gerações – esteja perto do fim, ele garante que a caminhada do bar não se encerrou.
O estabelecimento abrirá as portas em um novo endereço – ainda não definido – no mesmo bairro, segundo o atleticano.
“Foi difícil a decisão, mas o imóvel é da minha família. Eu tenho irmãs. A decisão foi conjunta com toda a família. Não teve jeito. Minha mãe morreu há três meses, meu pai já tinha falecido há algum tempo. Aí decidimos vender o imóvel. Foi uma proposta muito irrecusável, para ser sincero. Foi tudo consensual, numa boa, com todas as minhas irmãs. Foi triste para mim, mas chega uma hora… Eu não sou um menino mais, temos que pensar no futuro. É uma condição muito boa, eu tinha que pensar. Mas vou pular para frente, rapidinho”
Salomão Filho, dono do Bar do Salomão, ao No Ataque
Três gerações à frente da esquina
O imóvel da esquina entre as ruas do Ouro e Amapá passou a pertencer à família de Salomão em 1945, quando os sírios Jorge Abdalla e Chamesse Dauch inauguraram um armazém no local.
Após a morte de Abdalla, Salomão Jorge, um de seus filhos, assumiu o imóvel e o converteu em bar. Torcedor fanático do Atlético, ele foi transformando o local, ao longo dos anos, em um repositório de itens históricos do Galo. As paredes do boteco são repletas de itens que fazem referência ao time, e o local foi e é frequentado por diversos ex-jogadores – como Reinaldo -, jornalistas esportivos que cobrem o dia-a-dia do clube e outras figuras ligadas à história alvinegra.
Com a morte de Salomão Jorge em 2002, Salomão Filho (que já tocava o estabelecimento ao lado do pai havia 12 anos) passou a ser o único dono.
Ele explicou ao No Ataque que a negociação para venda do imóvel teve início ainda em 2023: “Já vem há algum tempo a negociação. Travou, aí agora juntamos com outros dois imóveis atrás do meu e resolvemos todo mundo, consensualmente, vender”.
Futebol e música no Bar do Salomão
O boteco, no entanto, não ficou reconhecido só por ser um recanto de torcedores do Atlético. Além de ser famoso pelos seus tira-gostos e pratos feitos, por muitos anos recebeu uma das mais famosas rodas de choro de BH, lembrada com carinho pelo dono: “Foi uma época maravilhosa minha. Foram mais de cinco anos de roda de choro, às segundas e às quintas-feiras, foi muito bacana”.
Além do período da roda de choro, são datas consideradas as mais “marcantes” do bar por Salomão as dos títulos da Copa Libertadores de 2013 e da Copa do Brasil de 2014, nas quais o local ficou abarrotado de torcedores.
“Agora que a ficha está caindo para mim. Agora que afunilou e eu tive uma data, estávamos só esperando essa data. Como agora sei que tenho até o dia 13, estou meio perdido, mas estou muito tranquilo, muito calmo, e com ‘pé no chão’. É bom você estar bem com você mesmo”
Salomão Filho