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Briga no Conselho aquece bastidores políticos do Atlético; entenda

Frederico Bolivar tem forte discussão com Ricardo Kertzman, e Conselho do Galo avalia punição

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O momento ruim do Atlético gerou uma forte briga entre dois conselheiros em reunião na sede do Galo, em Belo Horizonte, na semana passada. Agora, o clube analisa possível punição a Frederico Bolivar, um dos envolvidos.

A discussão ocorreu em 24 de novembro (segunda-feira), dois dias depois da derrota do alvinegro nos pênaltis para o Lanús-ARG, na final da Copa Sul-Americana, no Defensores del Chaco, em Assunção. O advogado teria feito fortes críticas à gestão do Atlético e, na sequência, xingado Ricardo Kertzman, também conselheiro.

O caso veio à tona com o próprio Bolivar, que publicou um vídeo nas redes sociais revoltado com a possibilidade de ser expulso do Conselho. Assista abaixo:

Poucos dias depois, na sexta-feira (26/11), um dos momentos finais da reunião foi vazado em um vídeo de pouco mais de um minuto. Nele, o presidente do Conselho de Ética do Atlético, Marcus Vinicius, diz que iria instaurar processo investigativo contra Bolivar pelos xingamentos na reunião. 

“Eu entendo que o senhor desrespeitou o Estatuto do clube. Vamos avaliar se não cabe instaurar o processo contra o senhor. Eu gostaria de fazer esse registro. Da mesma forma que o senhor veio aqui e agiu de forma desrespeitosa eu vou pedir instauração do processo. Está mais do que caracterizado, está claro que todos fomos ofendidos, Estatuto e Instituição”, diz Marcus.

A reunião do Conselho

A reunião tinha como objetivo central tratar do orçamento da associação para 2026. Estavam presentes Sérgio Coelho, presidente do Atlético, e Ricardo Guimarães, presidente do Conselho Deliberativo e um dos investidores da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Os conselheiros tiveram a oportunidade de se manifestar ao longo da reunião. O mais efusivo entre eles foi Bolivar. Nesse cenário, o No Ataque conversou com os dois principais envolvidos para entender o que aconteceu naquela noite.

Reunião do Conselho do Atlético na sede do clube - (foto: Daniela Veiga / Atlético)
Reunião do Conselho do Atlético na sede do clube(foto: Daniela Veiga / Atlético)

O desentendimento com Ricardo Kertzman

Segundo Ricardo Kertzman, a revolta por sua parte teve início a partir do momento que Bolívar teria criticado os gestores por se associarem ao Flamengo. 

Ricardo Kertzman, jornalista

“Ele pediu a palavra e começou a descer o c***** no time do Atlético – o que já tinha dito em outras oportunidades. E que é exatamente o que qualquer um acha a mesma coisa e pensa”, disse o jornalista. 

“Até aí, ainda que fosse um troço completamente fora de propósito – porque era reunião de Conselho da associação -… Todo mundo calado, ouvindo. Aí, em determinado momento, começou a dar um faniquito e começou a dizer que o Flamengo é um time de canalhas. E começou a berrar: ‘Canalhas! Canalhas’. E nesse momento virou para o Sérgio, para a mesa diretora: ‘E vocês, que andaram do lado de canalhas!”, completou.

O conselheiro teria se manifestado assim que Bolivar acabou o discurso. No entanto, ele alega que o advogado discutiu também com Sérgio Coelho. 

“‘E que vocês prometeram e não entregam!’ Começou a dar esporro nos caras lá. No Ricardo, no Sérgio, na mesa diretora toda que estava lá. Eu fui para primeira fileira e pedi o microfone para poder, como conselheiro, me manifestar. Terminou o discurso dele, o Sérgio abriu o microfone e começou a falar: ‘Isso é sacanagem, é errado, não é momento oportuno’. O Bolivar, em vez de ouvir calado igual todo mundo, começou a bater boca com o Sérgio”, contou.

A origem da discussão

Ambos relatam que a discussão ocorreu devido à uma fala de Ricardo, que relembrou uma eventual proposta de Bolivar – algo negado pelo advogado. Segundo Kertzman, a briga se alastrou ao fim da reunião e envolveu também o presidente do Conselho de Ética.

“Ele disse que eu era mentiroso. Porque eu falei com ele o seguinte: ‘Se você está p* com o Atlético, bravo com o time, por que não pegou o telefone e ligou ou mandou mensagem para os caras (gestores)? Você tem o telefone, tem contato. Na hora de pedir favor, você pede para eles por WhatsApp. Por que não ligou e falou isso tudo? Precisa fazer o palanque em público?’ Ele naquela hora não era um torcedor. Ele era um conselheiro para votar a aprovação de contas”, afirmou Ricardo.

“Teve uma assembleia no passado. O Rubens Menin estava lá na frente falando. Ele (Bolivar) falou: ‘Eu tenho um escritório de direito ambiental’, sei lá o quê. ‘Se quiser, posso ajudar o Atlético nisso’. Eu acho que não tem problema nenhum nisso. Falei isso: ‘Esses caras que você está xingando você já ofereceu serviço do seu escritório’. Não tem nada de errado nisso. (…) Mas foi um fato. Então, não diz que é mentira porque aconteceu. Não estou acusando de nada errado. Mas talvez o cara se sinta exposto”, disse.

“Estava batendo boca comigo, com o Marcus Vinícius. Eu não sei se ainda estava lá em cima. Não terminou a conversa. Chamou o Marcus Vinícius, se não me engano, de ‘babaca’. Depois, achei até que ele tinha ido embora, eu levantei e fui tomar um café lá atrás. Estava de pé ali. Quando passei por ele, ele falou alguma coisa e virou uma babaquice. ‘Para de xingar, uai. Ficar xingando todo mundo xinga’. Ficou aquele bate-boca. Pessoal separou. Foi isso, basicamente isso”, completou.

O conselheiro entende que Bolivar errou ao fazer críticas aos gestores em uma reunião que seria voltada para tratar das contas da associação.

“Errado é você, como conselheiro, se aproveitar da dor das pessoas, se aproveitar de um momento para poder fazer proselitismo de si mesmo. Foi o que ele fez. Tudo o que ele falou, qual era o proveito daquilo? O que adianta ele falar tudo aquilo? Aquilo vai para um debate, para uma votação? Vai influenciar no que vai ser deliberado?”, questionou. 

“Não era sobre isso. Nada a ver. Aquilo que ele fez foi em benefício próprio. Foi querer fazer discurso bonitinho c* na cabeça dos caras. Isso é muito injusto também”, finalizou.

A defesa de Bolivar

Bolivar, por sua vez, entende que fez críticas pontuais e não teria atacado nenhum investidor ou dirigente de forma pessoal. Ele relatou a preocupação com o trecho vazado, já que teria falado durante 10 minutos.

Frederico Bolivar, candidato a presidente do Atlético - (foto: Reprodução/Redes sociais)
Frederico Bolivar é advogado(foto: Reprodução/Redes sociais)

“E ali é o lugar certo para fazer ponderações. A intenção foi esclarecer. E fazer críticas não é quebra de decoro e nem atingir reputação de ninguém. E isso realmente não foi feito, nem agora nem nos últimos 12 anos que estou como conselheiro. Não entendi o motivo de se sentirem ofendidos”, disse, também em entrevista ao No Ataque.

“Naquele trecho o presidente do Conselho de Ética já estava com a palavra. Aquilo que fizeram, de tirar um vídeo dali, para tentar manipular a realidade dos fatos, para induzir que estão abrindo um inquérito a partir daquilo, não é verdadeiro”, prosseguiu.

Neste cenário, Bolivar pediu ao Conselho o vídeo de todo o momento em que teve a palavra durante a reunião. Até essa segunda-feira, no entanto, ele ainda não havia recebido o conteúdo, mas disseram a ele que o protocolo foi encaminhado a Ricardo Guimarães.

A versão de Bolivar

Segundo Bolivar, Ricardo Kertzman teria mentido quando disse que ele ofereceu o escritório de advocacia ao Atlético. Os dois, no entanto, entendem que esse foi o ponto crucial que originou a briga na sede.

“O Ricardo (Guimarães) pegou a palavra e começou a falar sobre isso, criando uma narrativa como se eu tivesse ultrapassado uma linha que não é permitida no Conselho. Depois que o Ricardo falou, esse conselheiro (Ricardo Kertzman) subiu na tribuna, só ele usou isso para ir à frente deles para engrossar o couro e fazer média. Em uma fala dele diz que eu ofereci escritório meu de advocacia para o Atlético, essa é a hora que eu chamo ele de mentiroso”, conta Bolivar.

“Ele vai falando, tentando bajular ali essa situação. Eu confesso que não conhecia esse conselheiro e fiquei surpreso. Ele vai para lá para querer bajular e reforçar sei lá o que, querendo tirar qualquer credibilidade. E aí foi para o lado pessoal, falando mentiras. E eu o chamo de mentiroso. E aí o presidente de ética diz que vai instaurar, eu falei: ‘faça isso, chegou o ponto que vocês quiseram’. E aí esse cara de lá manda um ‘pau mandado’. E aí eu respondo: ‘vai tomar no **’. Diferente da narrativa que tentaram criar”, afirmou.

Bolivar garante que as críticas feitas naquele momento não foram direcionadas a Sérgio Coelho e lamenta caso o presidente do clube tenha se sentido ofendido com tal situação.

“Eu tenho muito respeito pelo Sérgio, lamento pelo Sérgio. Falei pelos gestores, pelas coisas que estão acontecendo no Atlético, sem atacar ninguém no Atlético. Lamento pelo presidente Sérgio, que estava naquela condição e tenha se sentido ofendido. Não era a intenção”, disse.

O que dizem Atlético, Sérgio Coelho e Ricardo Guimarães?

O No Ataque procurou a assessoria de comunicação do Conselho do Atlético e fez as seguintes perguntas: o clube instaurou um processo de investigação no Conselho de Ética para avaliar a expulsão de Bolivar? O vídeo de 10 minutos referente ao momento em que Bolivar alega ter se manifestado na reunião será liberado?

A reportagem recebeu a seguinte resposta: “O caso está entregue ao Conselho de Ética do Conselho Deliberativo. Não vamos falar sobre até que se tenha alguma definição.”

O No Ataque também procurou Sérgio Coelho, que disse: “Tratamos das coisas do Conselho no Conselho. Eu não me sinto confortável em tratar desse assunto via imprensa, até mesmo por respeito ao Bolivar.”

Ricardo Guimarães, por sua vez, não quis se manifestar sobre o assunto.

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