O projeto de reestruturação financeira do Flamengo, iniciado em 2013, é citado como modelo para diversos clubes do futebol brasileiro. Pedro Daniel, que participou do processo como consultor naquele ano, foi contratado pelo Atlético como novo CEO. Apesar disso, o executivo cita outro clube como referência para o que o Galo deseja para o futuro.
Em 2013, o Flamengo reduziu bruscamente os custos e optou por diminuir também o nível de competitividade esportiva para atacar o endividamento. O Urubu conquistou a Copa do Brasil daquele ano, mas passou seis temporadas sem um título de expressão antes de viver a era mais vitoriosa da história da instituição.
Para Pedro Daniel, no entanto, o contexto do futebol brasileiro era totalmente diferente naquela época. Ele classificou a reestruturação do clube rubro-negro como “orgânica”.
“Foi muito discutido quando eu cheguei aqui: ‘Ih, está vindo o cara para fazer o que fez no Flamengo’. A grande verdade é a seguinte: o momento de mercado era outro. O contexto era outro. O Galo é diferente do Flamengo. Naquele momento, não existiam alternativas de capital. Você não tinha a Lei da SAF. A gente não tinha o ambiente que tem hoje”, iniciou em entrevista concedida na Arena MRV, em Belo Horizonte, nessa quarta-feira (10/12).
“Talvez, se eu fosse contratado para ir para o Flamengo hoje, certamente o remédio seria diferente do que foi feito lá a partir de 2013. Por quê? Porque ali foi feita uma reestruturação no sentido orgânico. Sem aporte de fora, sem dinheiro de fora. Foi um corte de gastos muito forte em um primeiro momento. Fechar as torneiras para que, em um médio prazo, ele pudesse, com as receitas, voltar a ser competitivo”, prosseguiu.
Atlético não quer perder competitividade
Nos primeiros anos do corte de custos, o Flamengo amargou campanhas ruins na Série A do Campeonato Brasileiro e chegou a brigar contra o rebaixamento em uma delas. O Atlético viveu realidade semelhante nas últimas duas temporadas, mas Pedro Daniel assegura que o clube não quer mais correr este risco.
“Estamos falando de um projeto que começou em 2013 e teve alta performance, títulos, em 2019, se não me engano. Então, estamos falando de cinco ou seis anos. Hoje, o momento de mercado é outro. Quando a gente pensa em uma reestruturação orgânica, a gente perderia muita competitividade. O volume financeiro do futebol é diferente do que era há 10 anos”, refletiu.
“Então, a gente não tem essa margem de erro, esse espaço – e nem é o que a gente quer. Perder muita competitividade, porque a gente começa a correr outros riscos. Afinal de contas, temos outros competidores: temos Grupo City no Campeonato Brasileiro, Red Bull… Multinacionais competindo com a gente. Não podemos perder muito terreno, porque senão cria-se outra situação”, garantiu o CEO alvinegro.
O projeto liderado por Pedro Daniel no Palmeiras
Por fim, Pedro Daniel mencionou a reestruturação do Palmeiras como referência para o Atlético. Isso porque o Verdão priorizou a reformulação das categorias de base e se tornou modelo para outros times quando o assunto é venda de atletas.
“A nossa visão aqui no Galo é, obviamente, a busca pela eficiência, mas não com um corte drástico como ocorreu no Flamengo. É curioso que, enquanto EY, eu liderei o planejamento estratégico do Palmeiras. Aí você fala: ‘Pô, mas então a receita de bolo foi a mesma?’ Foi completamente diferente”, explicou.
“Trazendo do Palmeiras, a gente vê hoje o nível de competitividade que tem, o volume financeiro, é muito mais por conta da reestruturação da base e integração no futebol. Tem um volume de transferência de atleta, de venda de atleta, que permite com que ele consiga competir com o Flamengo hoje. Não são só as receitas recorrentes: está fazendo um volume muito grande de venda de atleta”, continuou.
Por fim, o novo CEO do Atlético disse que enxerga esta como a estratégia ideal para o clube mineiro. A tendência é de que o foco dos investimentos seja cada vez maior nas categorias de base para que o Galo se transforme também em um exímio exportador de talentos.
“Eu acho que isso é mais próximo do que a gente vislumbra aqui no Atlético do que o que ocorreu no Flamengo lá atrás. Aqui, a gente tem que ter realmente o departamento de futebol integrado, base, entender onde quer chegar, para que aí sim, de fato, tenha essa visão estratégica. Porque de receita recorrente, por si só, não temos ainda o volume para poder competir lá na frente. É um processo, é um trabalho.”
Pedro Daniel, CEO do Atlético