BAHIA

‘Processo solitário’, diz presidente do Bahia sobre ser gay no futebol

Emerson Ferretti é o primeiro presidente e o primeiro ex-jogador de um time da Série A do Brasileiro a se assumir homossexual

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Primeiro presidente de clube assumidamente gay na história da Série A do Campeonato Brasileiro, Emerson Ferretti, do Bahia, contou sobre a vivência e os desafios de ser integrante do movimento LGBTQIA+ no mundo do futebol.

“Eu me vejo como um farol. As pessoas agora podem pensar: o Emerson jogou, foi ídolo, ganhou títulos, e virou presidente. Isso tudo sendo gay. Então é possível”

Emerson Ferretti, presidente do Bahia, em entrevista à Revista Piauí

Além de ser pioneiro como presidente, Emerson rompeu barreiras como ex-jogador: foi o primeiro ex-atleta da Série A do Brasileiro a se assumir gay – o fez em 2022, durante entrevista para o podcast Nos Armários dos Vestiários, do ge.globo.

“Eu tinha um lado profissional com muito sucesso, e o pessoal, vazio. Quando saía do Grêmio, ficava um vazio social. Porque não me relacionava com as pessoas que eu queria. Quanto mais eu ficava mais famoso, mais difícil era. Os homens todos me olhavam, mas eu era o Emerson goleiro do Grêmio. Como ia retribuir esse olhar de uma outra forma, se não sabia ainda se era o olhar de admiração de um torcedor? Não conseguia nem retribuir nem paquerar nem nada.”

Emerson fala sobre desafios

Ferretti surgiu nos anos 1990 como um dos mais promissores goleiros da geração, e acumulou convocações para a Seleção Brasileira Sub-20. Titular do Grêmio, ele já era cotado para a Seleção principal, quando sofreu grave lesão.

No período em que ficou afastado dos gramados, o ex-jogador contou que começou a frequentar boates LGBTQIA+ e se relacionar com homens. Como sempre era visto saindo com outros homens, boatos sobre a sexualidade dele começaram a circular. “Ficou perigoso porque começou a colocar em risco a minha vida profissional, porque o futebol não aceitava um gay, e isso me desequilibrou de novo”, disse, em entrevista à Piauí.

Emerson acredita que, se não fossem as lesões – que hoje ele compreende como “movimento inconsciente para travas à ascensão profissional, para poder me equilibrar psicologicamente ” -, teria ido para a Seleção Brasileira. “Eu ia parar lá (na Seleção). Mas como é que ia ser goleiro da Seleção Brasileira e gay?”, questiona.

O presidente do Bahia ainda afirma que ser LGBT no meio do futebol – e na vida – “sempre foi um processo solitário”. Ele diz que tinha medo de se abrir com qualquer companheiro de equipe: “Eu ficava na superficialidade com as pessoas por receio de confirmarem a suspeita, porque a pessoa poderia passar a informação para todo mundo e minha carreira estaria comprometida, né?”.

Mudança no cenário

Após se assumir gay, em 2022, Emerson teve receio que a carreira profissional como gestor fosse comprometida. Mas isso não aconteceu.

“Só tive coisa boa. Muitas pessoas me ligaram, falando que o respeito aumentava, pela coragem. Não houve nenhum tipo de agressão verbal, nem na rua, brincadeiras, nada. Absolutamente nada”, contou.

Para ele, as evoluções da sociedade demoram mais para se concretizarem no futebol:“Já temos políticos gays, deputadas trans, estamos evoluindo, só que no futebol ainda existe um machismo tão grande que demora um pouco mais”.

Emerson, destaca, contudo, seu papel como pioneiro na pauta LGBTQIA+ dentro do futebol, e espera que outros jogadores se assumam no futuro e que o futebol os aceite.

“Eu acho que eu sou como aqueles batedores que vão na frente abrindo caminho. O futebol ainda não aceita um jogador assumidamente gay. Tem vários, mas não assumidos (…). Conheço alguns jogadores casados que são gays. É muito comum um homem casado curtir a vida homossexual, mas é muito escondido. E esse é um recorte da sociedade, porque não só jogadores de futebol agem assim.”

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