Ángel Romero, atacante do Corinthians, afirmou que o Brasil “é o país com mais racismo” ao comentar sobre os ataques racistas sofridos por jogadores brasileiros ao redor do mundo, inclusive no Paraguai, o seu país.
“Aqui [Brasil] é o país com mais racismo. Sempre digo isso, comento isso aqui. Creio que o Brasil tem que consertar primeiro as coisas internamente. Obviamente, eles se preocupam mais com o que acontece fora, Paraguai, Espanha, em todos os lados. Claro que não é bom sofrer esse tipo de discriminação, de racismo, mas aqui, internamente, os brasileiros são muito racistas também entre eles. Creio que primeiro eles têm que arrumar o problema que têm internamente e depois ver o que acontece fora”, disse o jogador à Rádio ABC Cardinal.
O camisa 11 do Corinthians afirmou que lida com discriminação em solo brasileiro. Segundo ele, os ataques preconceituosos acontecem diariamente.
“Eu vivo isso diariamente… Discriminação, preconceitos, todos os tipos de insulto contra meu país, minha nacionalidade. É algo diário. Eu tenho muito orgulho de onde venho. Se me chamam de índio, eu tenho orgulho de ser paraguaio, ser índio, ter essa raça Guarani. Creio que passa por esse motivo. Sempre que me insultam, eu me sinto lisonjeado porque é de onde venho, sou paraguaio, sou dessa raça, não chega a ser um insulto para mim. É complicado esse tema, vem de antes, não podem brigar contra isso aqui internamente. Como disse, diariamente aqui se vê muito racismo. Tudo isso se complica quando eles saem para fora. Obviamente, isso não é bom, é crime, mas eles têm que internamente arrumar isso e depois ver o que acontece fora”, falou o jogador.
Romero mencionou ataque xenofóbico no passado. Em 2018, o atacante corintiano desabafou após o comentarista Marcão, da rádio Energia 97, afirmar que “o Paraguai é uma aldeia indígena” e que “movimenta a economia através de tráfico de drogas, de contrabando de arma, produtos ilegais.”
“Eu, supostamente, ofendi a um clube, o Santos. E vocês, na maioria, insultam um país, que é diferente. Uma nação. E não é de agora. Faz quatro anos que estou aqui, e sinto que não só aqui no Corinthians se vê essa situação. Não só com Kazim, Balbuena e Romero. Mas com os estrangeiros que vêm jogar no Brasil”, disse Romero, em entrevista coletiva.
Racismo no Paraguai
O racismo virou assunto no Paraguai ao longo das últimas semanas. Luighi, atacante do Palmeiras, sofreu ofensas racistas durante um jogo contra o Cerro Porteño, pela Libertadores Sub-20, disputado em solo paraguaio.
Torcedores imitaram macaco e cuspiram em direção a ele. O árbitro da partida não tomou nenhuma medida durante o jogo.
O atacante fez um desabafo chorando após a partida. Ele cobrou punição e se revoltou após não ser perguntado pelo repórter contratado pela Conmebol sobre o assunto.
“É sério isso? Vocês não vão perguntar sobre o ato de racismo que fizeram comigo? É sério? Até quando a gente vai passar isso? Me fala… até quando a gente vai passar isso? O que fizeram comigo foi um crime, pô. Vocês vão perguntar sobre o jogo mesmo? A Conmebol vai fazer o que sobre isso? CBF, sei lá. Você não vai perguntar sobre isso? Não ia, né? Você não ia perguntar sobre isso. O que fizeram foi um crime comigo, pô. A gente é formação. Aqui é formação, pô. A gente está aprendendo aqui”, disse Luighi, na saída de campo após a partida.
O Palmeiras cobrou penas firmes à Conmebol. A entidade julgou o caso e aplicou uma multa, além de exigir que o Cerro fizesse postagens contra o racismo nas redes sociais e jogasse com portões fechados na Libertadores Sub-20.
A pena aplicada não agradou. O Palmeiras subiu o tom, e a presidente Leila Pereira chegou a sugerir que times brasileiros deixem a Conmebol para se filiarem à Concacaf.
O presidente da Conmebol deu declaração polêmica. Alejandro Domínguez, que é paraguaio, discursou sobre racismo no evento de sorteio da Libertadores e, na saída, foi perguntado sobre como seria ter a competição sem brasileiros. Ele disse que seria como “Tarzan sem Chita”. Chita é uma macaca que é personagem do filme.
A Conmebol anunciou a criação de uma “força-tarefa” para tratar de medidas contra o racismo na última quinta-feira. O ex-jogador Ronaldo Nazário faz parte do grupo, que também conta com Fatma Samoura, executiva senegalesa ex-secretária-geral da Fifa, e Sergio Marchi, presidente da FIFpro (federação internacional dos jogadores profissionais).