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Cruzeiro rompe padrão e tem mulheres no comando do futebol feminino

Com duas mulheres em posições de liderança, Cruzeiro rompe padrão brasileiro e cresce no cenário do futebol feminino
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Mesmo entre os principais times de futebol feminino, há poucas mulheres que ocupam cargos administrativos no Brasil. Em ascensão na modalidade, o Cruzeiro é um dos clubes que vão na contramão dessa estatística. Em maio de 2022, a Raposa anunciou Kin Saito como diretora de futebol. A carioca rapidamente se tornou figura-chave no projeto das Cabulosas, que é coordenado por Bárbara Fonseca há quase cinco anos.

Jovem e bem-humorada, Kin rompe com a imagem típica dos cartolas brasileiros. Aos 28 anos, a dirigente tem como missão diária gerir a parte administrativa do elenco feminino do Cruzeiro.


“Meu papel é muito focado em gestão, principalmente em desenhar e conduzir todo o plano estratégico. Atuo muito nessa frente administrativa e na parte financeira, mas com muita liberdade para trazer toda a criatividade que me formou no mercado. Queremos fazer um projeto que deixe um legado para a história das Cabulosas”, disse Kin, em entrevista ao No Ataque.

Em meia hora de conversa, a dirigente falou com a reportagem sobre os métodos do futebol feminino do Cruzeiro, a implantação de uma categoria de base para a modalidade e a necessidade de criar iniciativas para que as atletas mineiras consigam encontrar oportunidades dentro do próprio estado.

Kin manteve o modus operandi do clube e evitou comentar a respeito de nomes ou números, mas disse o que falta para que grandes estrelas fechem com as Cabulosas. E por falar em estrela, ela fez questão de destacar o maior desejo de Ronaldo com a modalidade. A diretora citou diversas vezes a busca do Fenômeno pela criação de um legado em sua gestão à frente do Cruzeiro.

Origem do interesse de Kin Saito pelo futebol feminino

“É curioso. Eu sempre fico pensando em como ter passado a infância na cidade de Teresópolis, onde fica a Granja Comary, moldou o meu desejo de um dia trabalhar na indústria do futebol. Eu podia ver as seleções masculina e feminina ali treinando. Meu desejo sempre foi me formar em jornalismo, mas também sempre soube que não queria trabalhar colocando a cara. Sempre quis trabalhar nos bastidores.”

“Meu primeiro emprego foi na Copa do Mundo de 2014. Eu busquei espaço para ser contratada naquela ocasião, trabalhava numa área de produção. Imaginem uma menina de 18 anos repondo café na maquininha, botando garrafinha de água no frigobar… todo esse trabalho, que era extremamente operacional, eu fazia com um sorriso no rosto, porque era uma oportunidade de estar em meio a pessoas que eu tanto admiro. Eram os melhores jornalistas do mundo indo fazer essa cobertura.”

Leia: Kin Saito revela prazo para implantação de categoria de base no time feminino do Cruzeiro

Como Kin trocou o jornalismo pelo futebol feminino?

“Eventualmente, eu migro da comunicação para a área de gestão de carreira e imagem, relações públicas. Trabalho não apenas com atletas, mas dirigentes. Eu sinto que muito da minha visão foi formada quase que por osmose, ouvindo o Mauro Silva, que hoje é o vice-presidente da Federação Paulista de Futebol, e a Aline Pellegrino, que por tantos anos foi a capitã da Seleção Brasileira e hoje está lá como gerente de competições (femininas) da CBF. Além da atleta Tamires, capitã do Corinthians e que jogou na Seleção Brasileira. E a própria figura do Ronaldo.”

“Eu faço parte do grupo R9 desde 2017. Foi nesse meio corporativo que eu pude migrar da área da comunicação para a área de gestão e negócios, marketing esportivo, fazendo prospecção comercial e captação de patrocínios. Isso até o momento em que o Ronaldo compra o Cruzeiro, e eu já tinha oito anos dedicados ao futebol feminino. Nunca dentro de um clube, mas já sentindo essa confiança do corpo diretivo, do CEO Gabriel Lima, para poder ajudá-los nessa tela em branco que está sendo pintada ou em todo esse projeto que está sendo reconstruído. E colocar o futebol feminino dentro dessas diretrizes estratégicas do clube.”

Time feminino do Cruzeiro é gerido por duas mulheres

“Quando a SAF chega junto com a figura do Ronaldo, e todas essas decisões sobre montagem de lideranças precisam ser tomadas, o Cruzeiro tinha várias opções. Ou contratar uma mulher que já estava nesse meio, fazendo o papel de gestora de outra equipe, ou contratar alguém de fora, já que a gente tem tão poucas referências de mulheres que atuam na gestão do futebol, especialmente no feminino.”

“Desde o primeiro dia (no clube), admiro essa coragem de figuras como Pedro Martins (diretor de futebol do time masculino), Gabriel Lima, Paulo André (diretor de estratégias) e o próprio Ronaldo, de querer moldar uma nova profissional para essa função e me permitir tomar a decisão de reconhecer que a Bárbara Fonseca é uma figura muito importante para o projeto. Foi ela que começou a construção do futebol feminino do Cruzeiro, em 2019.”

“Infelizmente, a gente conta nos dedos quantas mulheres ocupam papéis de liderança no futebol feminino. O recorte na Série A-1 é muito pequeno. Toda oportunidade que a gente tiver de moldar a visão dessas mulheres, apresentar novas referências de excelência e empoderá-las a tomar decisão de fazer papel de gestão, faz com que o todo o ecossistema do futebol feminino receba essas duas lideranças femininas de forma muito aberta. Às vezes até com ineditismo, já que não é a realidade que elas viveram em outros clubes.

“Acima de tudo, a gente brinca que quer ver o futebol feminino sendo feito por pessoas que tenham o futebol feminino tatuado na pele, assim como a gente tem. Podem ser homens, mulheres, atletas e a torcida, mas acho que oportunizar é um grande primeiro passo.”

Ronaldo quer deixar um legado no Cruzeiro

“É muito forte dentro do Ronaldo essa ideia de construir e deixar legado. Isso é uma veia muito forte em qualquer negócio que ele tem. Desde a chegada dele, o Cruzeiro tem um referencial de excelência ou de questionar padrões da indústria. É a nossa diretriz estratégica. Isso vale para o feminino, para o masculino, para a base e qualquer outra área que atenda ao futebol. Um olhar muito genuíno de responsabilidade financeira, de organizar e estruturar processos, e uma noção de que pessoas excelentes atraem pessoas excelentes.”

“O futebol feminino é tratado como uma categoria importante e um pilar estratégico (dentro do Cruzeiro). Eu sempre tento resumir isso para as pessoas. Eu não preciso gastar horas do meu dia convencendo diretores executivos que o futebol feminino é importante. Eu consigo usar esse tempo e essa energia para desbloquear processos e ter boas ideias. Infelizmente, essa não é a realidade da maioria das pessoas que estão à frente do futebol feminino. Muito tempo é perdido tendo que convencer a importância daquele projeto.”

“O Cruzeiro trata (o time feminino) com muita potência e igualdade. A gente reconhece as nossas limitações, que partem também do nosso senso de responsabilidade, mas sabemos exatamente onde queremos chegar e qual é nosso desenho para chegar neste futuro. A gente sempre adota a postura de jogar muito limpo com a torcida, pois precisamos controlar as expectativas. A gente quer dar passos sólidos, um degrau de cada vez.”

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