ENTREVISTA COM NENÊ, EX-CRUZEIRO

Nenê conta como veto no Cruzeiro por Adilson Batista mudou rumos da carreira

Em entrevista ao No Ataque, centroavante do AVS, da Segunda Liga de Portugal, explicou como foi o processo de dispensa do Cruzeiro
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Se Nenê construiu carreira de sucesso na Europa, muito se deve ao desempenho dele em uma excursão do time B do Cruzeiro em Portugal. Isso só foi possível porque o técnico Adilson Batista afirmou que não contaria com o jogador no elenco de 2008.

Em entrevista à reportagem de No Ataque, o centroavante do AVS, da Segunda Liga de Portugal, explicou como foi o processo de dispensa do Cruzeiro.

“O Adilson Batista disse à diretoria que não contava com o meu futebol. Falou que poderia me emprestar. Segui para o Ipatinga, onde fiz o restante do Campeonato Mineiro, se não me engano com três ou quatro gols”, iniciou.

“Retornei ao Cruzeiro, que pretendia me reintegrar ao elenco, mas o Adilson voltou a dizer. ‘não vou contar com ele. Fiquei treinando separadamente em horários diferentes, pois o clube havia contratado outros jogadores”.

Nenê, ex-atacante do Cruzeiro

Nenê em treino no Cruzeiro na temporada 2007 - (foto: Juarez Rodrigues/EM D.A Press)
Nenê em treino no Cruzeiro na temporada 2007 (foto: Juarez Rodrigues/EM D.A Press)(foto: Juarez Rodrigues/EM D.A Press)

Time B do Cruzeiro em Portugal

Foi então que o Cruzeiro decidiu montar a equipe B para três jogos em Portugal em maio de 2008. Nenê marcou dois gols na vitória por 3 a 2 sobre o Nacional da Ilha da Madeira e três no triunfo por 3 a 1 em cima do Vitória de Guimarães. Somente contra o Sporting Braga é que passou em branco, pois o time celeste saiu derrotado pelo placar de 2 a 0.

De acordo com Nenê, a sua contratação pelo Nacional só foi efetivada por insistência do técnico Manuel Machado, visto que a diretoria do clube havia recebido uma informação descontextualizada sobre uma lesão no tornozelo esquerdo do jogador. De fato, o atacante enfrentou o problema em 2007, porém já havia se recuperado.

“No jogo contra o Vitória de Guimarães, o técnico do Nacional, Manuel Machado, estava assistindo. Ele se interessou pelo meu futebol e falou ao presidente do Nacional: ‘quero o avançado e o Maicon’. O presidente do Nacional disse: ‘o avançado não, pois ele machucou o tornozelo e está todo arrebentado’. O treinador respondeu: ‘não, não, quero o avançado mesmo assim’. E foi feita a contratação, se não me engano, por 500 mil euros”.

Nenê, atacante do AVS, de Portugal

Artilheiro do Campeonato Português

No Nacional, Nenê passou em branco nos dois primeiros jogos do Campeonato Português, contra Naval (2 a 1) e Leixões (3 a 1). Nos quatro seguintes, balançou a rede: Vitória de Guimarães (2 a 0), Estrela da Amadora (derrota por 2 a 1), Académica (1 a 1) e Vitória de Setúbal (1 a 0). O atacante também marcou frente aos gigantes Sporting e Benfica, totalizando 20 gols em 28 partidas.

Segundo Nenê, o Nacional demorou a pagar pela compra de seus direitos econômicos, o que levou o Cruzeiro a solicitar o seu regresso a Belo Horizonte. Só que o atleta estava decidido a ficar, visto que não tinha a intenção de trabalhar com Adilson Batista.

“Virei para o presidente do Nacional e disse: ‘daqui não saio. Se vira para pagar. Quero continuar minha época aqui. Não volto para o Cruzeiro, pois estava lá numa equipe B, porque o treinador não queria contar comigo. Se vira para pagar'”.

Nenê, artilheiro do Campeonato Português 2008/2009, com 20 gols

O Nacional terminou a Primeira Liga na quarta posição, com 52 pontos, em uma campanha de 15 vitórias, sete empates e oito derrotas. Os três primeiros foram, respectivamente, Porto (70), Sporting (66) e Benfica (59).

“Consegui fazer uma época espetacular, com 20 gols, numa equipe como o Nacional, que é um clube pequeno. Chegamos a ganhar de Benfica e Porto. Ficamos em quarto lugar, atrás apenas dos três grandes, e o Nacional foi para a Liga Europa”, relembrou Nenê, que também fez três gols na Taça de Portugal e dois na Taça da Liga.

‘Agradecimento’ a Adilson Batista

Como estava emprestado pelo Cruzeiro, Nenê retornou a Belo Horizonte para resolver algumas burocracias em meados de 2009. Ao passar pela Toca da Raposa 2, ele fez questão de cumprimentar o técnico Adilson Batista.

“Voltei ao Cruzeiro apenas para cumprimentar as pessoas. Peguei na mão do Adilson Batista e disse: ‘muito obrigado por não ter me dado espaço aqui. Se você não contava com meu futebol, obrigado. Fui para um lugar onde estou muito feliz, fiz o que fiz e escrevi meu nome no Nacional. Até hoje está o meu prêmio, a Bola de Prata, de artilheiro. Só tenho a agradecer ao Nacional, que me abriu as portas’.

Nenê, ex-Cruzeiro

No ano anterior, embora tenha sido prejudicado por lesões, Nenê esteve nos planos dos técnicos Paulo Autuori e Dorival Júnior no Cruzeiro. Vindo do Santa Cruz, ele disputou 24 partidas e marcou seis gols – três no Mineiro, um na Copa do Brasil e dois na Série A do Brasileiro.

Ídolo na Itália e retorno a Portugal

Nenê não ficou em Portugal, já que o Cagliari, da Itália, pagou 4,5 milhões de euros ao Nacional por seus direitos econômicos. Na Sardenha, embora tenha oscilado entre a titularidade e o banco de reservas, caiu nas graças dos torcedores ao anotar 26 gols em 129 jogos – o mais especial em um chute de fora da área no ângulo esquerdo de Buffon na vitória por 2 a 0 sobre a Juventus.

No país “da bota”, o ex-cruzeirense também vestiu as camisas de Verona, Spezia e Bari. Em 2018, aos 35 anos, Nenê voltou a Portugal, representando Moreirense, Leixões, Vilafranquense e, por fim, AVS.

Hoje aos 40 anos, Nenê lidera o AVS na Segunda Liga de Portugal – é o vice-líder, com 40 pontos, dois a menos que o primeiro colocado, Santa Clara. O experiente avançado soma 14 gols na competição – quatro em cobrança de falta e um de bicicleta.

Assista à íntegra da entrevista com Nenê, ex-jogador do Cruzeiro

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