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Cruzeiro: Pedro Martins projeta jovens no time de Larcamón e explica mudanças na base

Diretor de futebol projeta uso de jovens no time profissional e explica mudanças em fase vitoriosa das categorias de base do Cruzeiro
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Há muitos anos que a base do Cruzeiro não ficava tão em alta quanto no início de 2024. Atual campeão mineiro e da Copa do Brasil Sub-20, o time estrelado foi finalista da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em janeiro. Mesmo derrotado pelo Corinthians, o elenco treinado por Fernando Seabra deixou impressão positiva nos torcedores e renovou a esperança de que novos talentos possam surgir na Toca da Raposa.

Desde 2022, a responsabilidade de gerir essa categoria é de Pedro Martins. Apesar de ser muito associado ao time profissional, o executivo tem outros papéis e é o responsável por dirigir todo o futebol do clube. No momento, a sua principal missão é encontrar um novo comandante para a equipe Sub-20. O time júnior está sem técnico desde o fim da Copinha, quando Seabra se transferiu para o RB Bragantino.


Em entrevista ao No Ataque, Pedro falou dos desafios de gerir a base celeste e qual é a maior dificuldade que o Cruzeiro tem na formação de atletas. O diretor também comentou sobre as mudanças feitas pela gestão de Ronaldo na SAF, a busca por um novo treinador para o Sub-20 e o motivo de ter recusado propostas por duas promessas.

O que mais mudou na base do Cruzeiro desde a chegada de Ronaldo?

“Teve uma mudança drástica de infraestrutura. A gente fez uma mudança grande na Toca da Raposa 2. Hoje a gente já consegue ver que todas as categorias conseguem usufruir (do CT). O Sub-17 já participa de muitas rotinas aqui, o Sub-20, o feminino… Essa integração, que quebra travas culturais que existiam antigamente, é muito importante. Eu acredito que isso aproxima as pessoas e forma o jogador de fato, não só no discurso.”

“Ter a categoria Sub-20 perto da profissional, e fazer eles treinarem juntos sempre, faz com que a maturidade e o processo de adaptação se tornem naturais. Faz com que o jogador suba para equipe profissional e não se assuste. A gente acabou desmistificando aquilo de subir para treinar com o profissional. Isso acontece todo dia aqui dentro. E isso vai pavimentando o caminho para que o uso de Japa, Kaiki, Fernando, Ian Luccas e todos os outros na equipe profissional aconteça de forma tranquila, ao invés de ter aquela pressão para já ter que dar uma resposta na equipe profissional.”

“Além disso, a gente deu muito mais carinho e atenção para a Toca da Raposa 1. Não está ainda do jeito que gostaríamos, mas a evolução lá é nítida. Hoje a gente já consegue dar um olhar para esse processo de progressão do menino que chega lá com 14 anos ainda entendendo se vai ser um jogador de futebol ou não. Já conseguimos fazer com que essa progressão seja cada vez mais suave.”

Como a diretoria avaliou essa grande sequência no Sub-20?

“Quando a gente chegou, olhamos para as categorias de base e fizemos um diagnóstico. Nosso objetivo sempre foi olhar para os serviços que estavam sendo prestados dentro e fora de campo. Você vai formar um jogador melhor se estiver atento ao indivíduo, à pessoa. E a gente vem cuidando cada vez melhor desses jovens. Acredito que melhoramos muito nesse aspecto.”

“O fato de a gente ter reduzido o número de atletas e conseguir dar carinho e atenção para todas as demandas, faz com que formemos cada vez melhor. É óbvio que chegar às finais das competições e brigar por títulos é importante para conseguir formar uma mentalidade vencedora, mas a nossa maior vitória é a transição e o número maior de jogadores que passam de uma categoria para outra.”

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Maior dificuldade do Cruzeiro nas categorias de base

“Nosso maior desafio é a divisão física, nós temos duas Tocas. O fato de você ter a Toca da Raposa 1 e a Toca da Raposa 2 faz com que você não consiga acompanhar as rotinas de outras categorias como gostaria. E o nosso objetivo é diminuir a distância entre as categorias, com reuniões e trocas de ideia. A gente tenta participar ao máximo para que seja algo factível essa integração entre todas as categorias do clube. Não é simples, mas, olhando a média dos clubes brasileiros, eu vejo que hoje o Cruzeiro está muito bem.”

Importância de Paulo Autuori no clube

“Hoje, a gente consegue falar sobre o futebol do clube com todos os gerentes. A figura do Paulo Autuori é fundamental nesse aspecto, porque ele entra na metodologia de todas essas categorias. E nossa ideia é ampliar cada vez mais essa integração, para que tenhamos uma identidade de futebol do Cruzeiro.”

“Não só porque é interessante assistir ver as equipes jogarem, mas, principalmente, porque é uma identidade de formação de jogadores. Quando o jogador bater na equipe profissional, ele já vai ter todos os valores do clube e toda a ideia de jogo que está sendo feita dentro da instituição.”

Intercâmbio de atletas no Real Valladolid

“Isso faz parte do plano do clube. No ano passado, a gente também teve essa oportunidade com o PSV. Nós enviamos o Ruan Índio e o Rhuanzinho para lá. Eles passaram um período treinando e vivenciando uma nova cultura. A gente acredita que essa oportunidade de ir para o Valladolid é um passo à frente, é mais uma oportunidade.”

“A gente quer ampliar todo esse leque de formação dos meninos que não é somente ficar aqui em Belo Horizonte. Acreditamos que, oferecendo oportunidade deles passarem em outro clube ou levando uma categoria toda para participar de um torneio fora, isso vai enriquece o processo de formação dos jovens para que eles estejam cada vez mais prontos para o nível de exigência”, disse.”

“Internamente, falamos que o jogador de alto nível precisa ter uma visão de mundo, também estar preparado para os desafios que a vida vai lhe trazer, lidar com pressão, com cobrança e tudo isso faz com que você tenha um nível educacional cada vez melhor. O Cruzeiro também tem essa responsabilidade de fornecer e dar as ferramentas para que esses jogadores estejam prontos para os desafios que a vida vai apresentar.”

Raposa recusou propostas pelos zagueiros Pedrão e Bruno Alves

“Possibilidades e propostas aparecem constantemente, mas se não for algo relevante para o clube, que vai ter um impacto financeiro, a gente não vai aceitar. E as propostas tem que ser relevantes, de impacto. Essas, sim, a gente vai olhar e avaliar. Empréstimo com opção de compra não é algo que está nos nossos planos.”

“Nós estamos formando jogadores para eles jogarem no Cruzeiro, esse é o primeiro ponto. Nosso objeto é colocar o jogador lá em cima. Isso a gente vem mostrando para eles por meio de diversos atos. Dessa transição constante, de colocar os garotos para jogar.”

Postura do Cruzeiro como clube formador

“O Cruzeiro é muito grande, então, quando um garoto aparece, é natural recebermos muitas consultas. Às vezes não existe nem proposta oficial, é só uma procura, mas a gente tem nosso posicionamento de mercado e a nossa forma de atuar. Nós deixamos claro para o mercado que somos um clube formador e a gente quer sim negociar o jogador, mas depois que ele cumprir a etapa dele na equipe profissional.”

Cruzeiro tinha planos para Seabra no profissional

“Quando o Fernando sai do profissional e volta para o Sub-20, ao final do Campeonato Brasileiro, nós deixamos bem claro que tínhamos um plano para o futuro dele. Inclusive, que o nome dele havia sido analisado como uma possibilidade para assumir a equipe profissional. Deixamos claro que não seria naquele momento, mas que estava se desenhando um projeto para ele assumir o profissional do Cruzeiro, porque acreditamos que ele é um ótimo profissional, um treinador que tem futuro.”

“Fernando entendeu e percebeu que isso seria uma possibilidade. Mas, quando vem a proposta do Red Bull Bragantino, ele coloca diversos aspectos pessoais (em questão). Do nosso lado, a gente se limita a apresentar o plano de progressão profissional e financeiro (do clube), mostra que tem um projeto para ele. Mas, no fim do dia, a decisão é pessoal e particular, a gente respeita. Eu desejo muito sucesso a ele. Acho que ele é um profissional brilhante, tem um ótimo futuro pela frente.”

Busca por novo treinador para o time Sub-20

“Nós estamos tocando um processo de seleção e conversando com alguns candidatos. Tenho certeza que vamos encontrar um bom profissional para liderar a categoria. Pode ser alguém do clube, porque temos bons profissionais aqui dentro, ou de fora. Estamos justamente avaliando essa possibilidade. Queremos tomar a decisão nos próximos dias, mas preferimos decisão certa do que rápida.”

“Como a categoria está de férias, e tem um tempo para ela retornar ao regime de competições, a gente vai tomar o cuidado necessário para fazer a melhor escolha para o Cruzeiro Ele nos ligou durante a Copa São Paulo para comunicar que tinha recebido uma proposta e que tinha interesse em aceitar.”

Como o Cruzeiro projeta o uso de jovens no profissional?

“Antes de a gente conversar com um treinador (para o profissional), pesquisamos se ele tem histórico de formação, se ele já trabalhou com garotos nas suas outras equipes. E no bate-papo, quando trocamos ideias, falamos que o Cruzeiro é um clube formador. Por identidade, respeito a sua história e sustentabilidade, a gente acredita que o Cruzeiro tem que formar.”

“A gente precisa abrir caminho dentro do elenco principal para que esses garotos consigam se desenvolver, crescer e ter experiência. E ter experiência às vezes é ter minutos também. Isso tudo é construído e planejado com treinador antes da sua chegada, para que o clube consiga desenvolver o seu projeto da melhor maneira possível.”

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Presença de garotos da base no time de Larcamón

“O fato de Fernando, Vitinho e Pedrão treinarem com a equipe profissional só virou notícia porque eles não tiraram férias como o restante do Sub-20. Porque do contrário, essa subida e descida (do profissional) ocorre toda semana. Quando a categoria voltar de férias, tenho certeza que mais alguns serão testados e vistos de perto pelo Nico (Larcamón, técnico do time principal).”

“Por isso que a gente constrói essa transição. Treinar com a equipe profissional deixa a gente ver como os jovens respondem naquele nível de exigência. E os que responderam bem, mostraram maturidade e estavam prontos foram os que aceleraram (a transição) e conseguiram jogar. Não é porque um jogador não consegue jogar naquele momento que quer dizer que ele não é bom. Ele só não está maduro para aquele momento.”

“Por isso, a gente respeita a individualidade do jogador. Cada pessoa tem a sua história, e é assim que a gente vai tratar os jogadores de base. Não é porque ele treinou uma vez com a equipe profissional e voltou para o Sub-20 que ele não serve. É só porque gente acreditou que ele precisa passar por mais uma etapa de Sub-20 ante de voltar para o profissional.”

“Não posso cravar que Vitinho, Fernando e Pedrão já vão para jogo. Eles estão treinando. Se acontecer de eles ganharem a confiança da comissão técnica nos treinamentos, eles vão para o jogo. Caso contrário, continua-se o processo de formação normalmente.”

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