Onde você estava há 20 anos? Se hoje o Cruzeiro vive um longo processo de reconstrução, duas décadas atrás a realidade era bem diferente. Em 18 de abril de 2004, a Raposa alcançou uma marca histórica. Com a conquista do Campeonato Mineiro sobre o Atlético, o clube celeste chegou à 15ª temporada consecutiva vencendo títulos.
Foram 25 taças entre 1990 e 2004. Competições estaduais, regionais, nacionais e continentais… um longo período de competitividade e glórias nunca antes vivido pelo Cruzeiro, que amargara jejum nos anos anteriores. Entre 1978 e 1989, o time só ganhou dois Mineiros – em 1984 e 1987.
Mas como toda boa fase tem fim, não foi diferente com a Raposa. O ano de 2005 foi frustrante para os torcedores. Duas zebras pararam no caminho do Cruzeiro: o Ipatinga, na final do Mineiro, e o Paulista de Jundiaí, na semifinal da Copa do Brasil. Sem chances no Campeonato Brasileiro, o time também foi eliminado pelo Vélez Sarsfield, da Argentina, nas oitavas de final da Copa Sul-Americana.
“Me sinto muito honrado fazer parte da história do Cruzeiro e ter vivido glórias na década de 1990 e no início dos anos 2000. Foi uma década importante, fora as finais que a gente chegou, principalmente em 1998. Seria bom demais se a gente tivesse conquistado tudo, mas o futebol faz a gente crescer nas derrotas. Sinto orgulho de também ter participado por um pouco da Tríplice Coroa, é muito importante para mim. E, para mim, esse grupo de 1998 tem que ser muito valorizado. Disputar quatro competições e chegar nas quatro finais, é para poucos”
Marcelo Ramos, ídolo do Cruzeiro
1990: Campeonato Mineiro foi o pontapé inicial de era vitoriosa
Careca abriu uma nova era no Cruzeiro quando marcou o gol do título mineiro de 1990, em final única contra o Atlético. Só o atacante balançou a rede na vitória por 1 a 0 diante do rival, no Mineirão.
1991: Supercopa Libertadores encerrou longo jejum celeste
Nos anos 1990, a Recopa Sul-Americana era disputada entre o campeões da Copa Libertadores e da Supercopa Libertadores, um torneio do qual o Cruzeiro é recordista com quatro finais e dois títulos.
O intuito da Supercopa era reunir os clubes que há haviam sido campeões do principal torneio da Conmebol. Nessa temporada, somente Santos, Cruzeiro, Flamengo e Grêmio estavam aptos para a disputa entre os brasileiros.
A equipe celeste levou seu primeiro título com remontada sobre o River Plate, em 1991. Por ter perdido a ida por 2 a 0, a Raposa precisava golear na volta. E foi isso que ocorreu: 3 a 0 dentro do Mineirão, balançado por uma multidão emocionada com o fim da espera.
Outra memória positiva para os cruzeirenses foi o triunfo na Copa dos Campeões Mineiros, um torneio disputado duas vezes entre os maiores campeões do estado. Nesse ano, o Cruzeiro levantou a taça depois de bater o América na decisão.
1992: Cruzeiro garante dobradinha estadual e continental
Um ano depois, uma dupla de jogadores do Rio Grande do Sul se destacou no bicampeonato da Supercopa. Astro da equipe, Renato Gaúcho foi o artilheiro da campanha com seis gols. Outro nome de peso desse ataque era Roberto Gaúcho, um dos jogadores mais decisivos que já passaram pelo Cruzeiro.
No primeiro jogo da final, disputado no Gigante da Pampulha, a equipe venceu o Racing por 4 a 0. Nem mesmo uma derrota por 1 a 0 na volta, em Buenos Aires, impediu o título celeste e a vingança diante do carrasco de 1988. O Cruzeiro também ganhou o Campeonato Mineiro na temporada, em rara final com o América.
1993: primeiro passo rumo ao recorde de títulos na Copa do Brasil
As quatro primeiras Copas do Brasil do Cruzeiro foram conquistadas em um espaço de dez anos: 1993, 1996, 2000 e 2003. Com isso, a Raposa saiu de um clube com zero taças para o posto de maior campeã do torneio. E o título de estreia se deu em final justamente contra o Grêmio, seu eterno rival na briga pelo topo desse.
1994: a única conquista de Ronaldo pelo Cruzeiro
Ronaldo disputou 58 jogos e marcou 56 gols pelo Cruzeiro. Atual dono da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) celeste, o Fenômeno participou de apenas uma campanha vitoriosa como centroavante da equipe.
Em 1994, o ex-camisa 9 foi o principal nome do título mineiro do Cruzeiro. O time estrelado venceu 17 vezes no torneio, com 22 gols de Ronaldo. Nenhum adversário superou a Raposa ao longo da campanha.
1995: Cruzeiro levanta mais dois troféus internacionais
A Copa Master da Supercopa foi uma competição que reunia os campeões da Supercopa Libertadores. O Cruzeiro foi finalista em 1992, mas perdeu a final para o Boca Juniors, da Argentina. Três anos depois, foi campeão em cima do Olimpia, do Paraguai.
Ainda em 1995, a Raposa venceu a Copa Ouro Nicolás Leoz, um campeonato de tiro curto disputado entre os campeões de variados torneios da Conmebol. Na temporada do título, o Cruzeiro derrotou o São Paulo na decisão
1996: milagres de Dida garantem segunda Copa do Brasil
Com as conquistas da Copa do Brasil, a Raposa não ganhou só troféus, como vagas na Libertadores. O título continental de 1997 só foi possível por causa da vitória no torneio nacional do ano anterior.
A Copa do Brasil de 1996 foi resultado de esforço mútuo do ataque e da defesa celeste. Até hoje, os torcedores se recordam do gol decisivo de Marcelo Ramos, o ‘Flecha Azul’, atacante 14 vezes campeão com o Cruzeiro.
No gol, um jovem camisa 1 tomava todos os holofotes para si. Aos 22 anos, Dida operou “milagres” na reta final da decisão contra o Palmeiras, no Palestra Itália.
1997: bicampeão da Libertadores aos ‘trancos e barrancos’
O principal título dessa era de ouro foi o bicampeonato da Libertadores, em 1997. Atual diretor técnico do Cruzeiro, Paulo Autuori era quem comandava o elenco. Já a responsabilidade de decidir os jogos não recaía sob uma única estrela, mas a maior delas seguia sendo Dida.
Mal sabiam os torcedores do Cruzeiro que o jogador se tornaria um dos melhores de todos os tempos na posição. O paredão alto e ‘gelado’ decidiu partidas no tempo regulamentar e também nas penalidades, com três defesas em eliminatórias. Uma diante do El Nacional, do Equador, nas oitavas de final; e mais duas contra o Colo-Colo, do Chile, na semifinal.
A taça foi levantada aos ‘trancos e barrancos’, com o pior aproveitamento já registrado por um campeão: 52,4%. O único momento de invencibilidade foi na decisão. Depois de um empate por 0 a 0 em Lima, o Cruzeiro bateu o Sporting Cristal por 1 a 0 em Belo Horizonte. Figura importante do ataque celeste, Elivelton fez do gol do título.
Em 1997, o Cruzeiro ainda foi campeão mineiro em final contra o Villa Nova, que registrou o maior público da história do Mineirão: 132.834 pessoas.
1998: Campeonato Mineiro salva temporada trágica do Cruzeiro
Vice-campeão brasileiro, da Copa do Brasil e da Copa Mercosul. Eliminado nas oitavas de final da Libertadores. 1998 foi o ano do quase para o Cruzeiro, que ganhou apenas o Campeonato Mineiro. O adversário dos dois confrontos decisivos foi o Atlético.
1999: Recopa atrasada é destaque em ano de conquistas atípicas
A Copa Centro-Oeste foi um torneio regional disputado por quatro anos entre equipes de Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O Cruzeiro foi convidado a participar da primeira edição e venceu o Vila Nova na final.
Para chegar à decisão, a Raposa precisou ganhar inicialmente a segunda Copa dos Campeões Mineiros. A conquista da competição estadual foi em grande estilo, com duas goleadas sobre o Atlético na decisão: 3 a 0 e 5 a 1 dentro do Mineirão.
Campeão da Libertadores de 1997, o Cruzeiro venceu o River Plate, campeão da Supercopa Libertadores de 1997, nos duelos de ida e volta da Recopa Sul-Americana. Curiosamente, apesar de ser referente ao ano de 1998, o torneio continental foi disputado entre agosto e setembro de 1999.
2000: garoto da base torna Cruzeiro tricampeão da Copa do Brasil
O gol mais famoso do Cruzeiro no século 21 foi marcado na final da Copa do Brasil de 2000, pelo meia Geovanni, cria da Toca da Raposa. Uma falta rasteira, que atravessou a barreira do São Paulo, e ‘matou’ o goleiro Rogério Ceni. Ali, a então promessa garantia o tricampeonato do torneio e se alçava ao posto de ídolo celeste.
“Jogar no Cruzeiro sempre foi um prazer, um privilégio e uma responsabilidade muito grande. Na época que passei pelo clube, sempre disputei finais. A cobrança era pesada, responsabilidade de um grande clube. Eu subi (da base) em 1997 e fiquei até 2001, ali pude sentir a força do clube. Quem joga em um grande clube tem que estar preparado para tudo. Os gols na final da Recopa, contra o River, são especiais, mas o que me marcou mais o gol do título da Copa do Brasil. Foi um título muito emocionante e que todos lembram com carinho”
Geovanni, ídolo do Cruzeiro
2001: Copa Sul-Minas preenche temporada sem brilho
A Copa Sul-Minas foi disputada no início dos anos 2000 entre times de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Maior vencedor do torneio, o Cruzeiro disputou todas as finais, mas perdeu a primeira para o América. No ano seguinte, foi campeão em cima do Coritiba.
2002: supercampeão mineiro e bicampeão da Sul-Minas
O Supercampeonato Mineiro foi um torneio disputado uma única vez devido a questões de calendário. Cruzeiro, Atlético, América e Mamoré integraram a disputa porque não jogaram a edição regular da competição. Campeão estadual daquele ano, a Caldense também participou.
Apesar de ter organizado pela Federação Mineira de Futebol (FMF), não é considerado uma competição oficial pela entidade. A Raposa venceu porque teve o melhor aproveitamento nos quatro jogos – três vitórias e uma derrota.
Um dos motivos para a saída momentânea dos clubes do Mineiro foi a realização da terceira Copa Sul-Minas. Novamente, o Cruzeiro foi o vencedor. A taça de 2002 foi decidida contra o Athletico Paranaense.
2003: a mais mágica das 124 temporadas do Cruzeiro
Em 2003, o Cruzeiro protagonizou a mais vitoriosa de suas 124 temporadas. Regido por um camisa 10 que também era capitão e artilheiro, o time estrelado venceu de forma invicta o Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil e conquistou com 100 pontos o primeiro Campeonato Brasileiro por pontos corridos.
O herói dessa história tem nome: Alex, o ‘Talento Azul’. Na época, o principal jogador do primeiro título oficial do Cruzeiro no Brasileirão, tendo visto que a Taça Brasil de 1966 só foi reconhecida pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2010.
Com seu terno e personalidade característicos, outro “superstar” se destaca no Cruzeiro, só que no banco de reservas. Vanderlei Luxemburgo terminou 2003 com 77,2% de aproveitamento.
No primeiro semestre, o técnico ganhou sem dificuldades o Campeonato Mineiro, disputado em turco único, um formato habitual para os dias atuais. E para igualar as quatro taças do Grêmio como e se tornar maior vencedor da Copa do Brasil, o Cruzeiro precisou bater o Flamengo na final.
2004: Raposa encerra era de ouro com o último título de Alex
A temporada final de Alex teve resultados aquém da anterior, mas não acabou em branco. Ele voltou a ganhar o Mineiro, em campeonato bastante curioso. O Cruzeiro agora tinha o centroavante Guilherme, ídolo do rival Atlético. E, durante breve período, o ex-melhor do mundo Rivaldo.
O meia, porém, optou por deixar Belo Horizonte junto com Vanderlei Luxemburgo, demitido devido a atrito com a diretoria. Na decisão, já sob o comando de PC Gusmão, nova conquista diante do Galo selou a marca de 15 anos seguidos .
Internacional superou a marca do Cruzeiro em 2017
Vencedor de 24 títulos entre 2002 e 2017, o Internacional superou o recorde do Cruzeiro de mais temporadas consecutivas sendo campeão. A equipe colorada ganhou um Mundial de Clubes, duas Libertadores, uma Sul-Americana, duas Recopas, uma Copa Suruga Bank e 18 taças estaduais nesse período de 16 anos.