Novo dono da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Cruzeiro, Pedro Lourenço iniciou as conversas oficiais para a compra do clube-empresa das mãos de Ronaldo Nazário ainda em 14 de abril. A reportagem de No Ataque traz abaixo informações exclusivas de bastidores da operação que foi sacramentada entre os empresários nessa segunda-feira (29/4), na Toca da Raposa 2, em Belo Horizonte.
Conforme apurado com pessoas ligadas a Pedrinho, como é chamado pela torcida celeste, Ronaldo desistiu de seguir à frente do projeto em 14 de abril. No domingo pela manhã, o ex-atacante telefonou para o dono dos Supermercados BH, revelou que não tinha mais ânimo e comunicou a decisão.
Na ligação que durou cerca de 20 minutos, o Fenômeno se mostrou muito abatido com as críticas que vinha recebendo de parte da torcida pela forma da condução do projeto e até chorou. Alguns cruzeirenses chegaram a queimar um bandeirão que estampava uma imagem do ídolo da época em que ainda defendia as cores do clube na década de 1990.
Dentro de campo, o Cruzeiro havia acabado de perder a final do Campeonato Mineiro para o Atlético por 3 a 1, em pleno Mineirão lotado. Dias depois, empatou com o modesto Alianza, da Colômbia, por 3 a 3, pela Copa Sul-Americana, após abrir três gols de vantagem.
Lourenço não estava em Minas Gerais quando Ronaldo entrou em contato para falar sobre o futuro da SAF celeste. O empresário aproveitava um fim de semana de pescaria com amigos no Pantanal, no Mato Grosso, mas atendeu a chamada do gestor.
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Pedrinho retornou à capital mineira ainda no mesmo dia e se reuniu com Ronaldo antes mesmo da vitória do Cruzeiro por 3 a 2 sobre o Botafogo, no Gigante da Pampulha, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro. Eles conversaram por algumas horas.
Teor da conversa pela venda da SAF do Cruzeiro
A primeira oferta de Ronaldo a Lourenço foi de venda total dos 90% das ações da SAF, sendo que 20% já ‘pertenciam’ a Pedrinho. Em 3 de março de 2023, o empresário havia firmado um acordo com a Tara Sports Brasil, empresa gerida pelo ex-atacante, para investimento na Raposa.
Pedro BH fez um aporte de R$ 100 milhões por meio de um recurso que poderia ser transformado em ações do clube-empresa no futuro. A operação financeira chamada de debênture conversível – uma espécie de empréstimo – deu garantias dos 20% da SAF a Lourenço.
Contudo, o dono da rede varejista tinha o interesse em adquirir apenas mais 35% das ações. Dessa forma, passaria a ser o sócio majoritário, com posse de 55%, e teria Ronaldo como parceiro no comando da SAF. O ex-atleta ficaria com os 35% restantes e continuaria influente nas tomadas de decisões.
A contraproposta de Pedro foi prontamente rejeitada. Ronaldo voltou a citar que não tinha mais condições de tocar o projeto e insistiu com o empresário para assumir a SAF. Lourenço, por sua vez, adiou uma resposta definitiva e prometeu pensar na oferta.
Negociação se arrastou por 15 dias
Desde então, Pedro e Ronaldo tiveram várias rodadas de negociações à distância. As partes só chegaram a um denominador comum na tarde do último sábado (27/4), por volta das 16h15, também por telefone, como antecipou o portal No Ataque. Na ocasião, Lourenço estava em sua fazenda em Martinho Campos, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, a 197 quilômetros de BH, enquanto o Fenômeno estava em São Paulo.
Já o contrato de venda das ações da SAF só foi assinado nessa segunda-feira (29/4), presencialmente, com valores ainda não divulgados oficialmente pelo clube.
Contudo, a reportagem apurou com uma fonte ligada ao novo dono do clube que a operação foi sacramentada em R$ 500 milhões, sendo que R$ 100 milhões já foram antecipados no ano passado. O montante não será pago à vista ao ex-jogador.
Pedrinho terá uma ‘carência’ de até o fim do ano para iniciar o pagamento, que será bem parcelado. O empresário terá até 2035 para quitar todos os débitos com a Tara.
Lourenço assumirá a SAF de forma oficial logo após o negócio ser aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). De acordo com Gabriel Lima, CEO do clube-empresa, o processo será concluído em até 45 dias.
“Nós temos algumas obrigações contraídas no acordo de investimento que serão cumpridas. Adiantamos a operação que estava acontecendo, mas sem entrar em detalhes. E vamos informar o que foi feito para eles. A gente espera que dure entre 30 e 45 dias. Não é um timeline que está fechado. O CADE tem os próprios prazos, vamos fazer o mais rápido possível”, disse nessa segunda-feira (29/4).
Ronaldo terá a obrigação de participar do conselho de administração da SAF por mais dois anos e meio devido a cláusula de proteção à associação civil prevista no contrato inicial, que foi assinado no início de 2022.
Papel de Lourenço na gestão de Ronaldo
Pedrinho é o grande apoiador de Ronaldo no Cruzeiro. Os dois se conheceram quando o Fenômeno comprou 90% das ações do clube celeste, em dezembro de 2021.
Pouco tempo depois, em abril de 2022, quando os conselheiros do clube votaram as novas demandas de Ronaldo para assinar o acordo, como a inclusão das Tocas da Raposa 1 e 2 na SAF em troca do pagamento da dívida tributária (R$ 180 milhões), Lourenço se mostrou favorável à mudança.
Já sob a administração de Ronaldo, o empresário indicou que a parceria ficou cada vez mais forte. Em novembro de 2022, Pedro anunciou que iria auxiliar o clube no processo de reforma da estrutura da Toca 2. Foi com dinheiro do dono do Supermercados BH que o Cruzeiro reestruturou o centro de treinamentos.
Além disso, o empresário auxiliou o clube no mercado de passes. Prova disso é que a negociação para permanência do meio-campista Matheus Pereira conta com a colaboração financeira de Pedrinho.