Mineiro, mas com coração caiçara. Assim podemos descrever Arthur Gomes, atacante nascido em Uberlândia, criado em Santos e que hoje defende o Cruzeiro. Depois de passar por cinco clubes, o jogador enfim teve uma oportunidade de atuar no estado onde nasceu. Radicado em Belo Horizonte, ele vive boa fase em campo e viu a família aumentar com a chegada de seu primeiro filho.
Em entrevista exclusiva ao No Ataque, Arthur contou bastidores do Cruzeiro, relembrou vivências dos tempos de Santos e projetou os próximos passos da carreira. Aos 25 anos, o ponta-esquerda colhe os frutos do bom momento do time celeste, que venceu os últimos quatro jogos.
“O que passa pela nossa cabeça é que a gente quer ganhar e ser vitorioso no futebol. Temos muito chão ainda para trilhar. A gente vê toda a história do Cruzeiro e sente vontade de ser campeão com essa camisa, que é muito pesada.
Arthur Gomes, atacante do Arthur
Em julho de 2023, o atacante foi adquirido por R$ 16 milhões junto ao Sporting, de Portugal. Titular absoluto, Arthur participou de 21 das 23 partidas do Cruzeiro neste ano. O camisa 11 é o segundo colocado nas duas principais estatísticas ofensivas do time, com quatro gols e quatro assistências – atrás apenas de Matheus Pereira e Juan Dinenno na artilharia (cinco) e do próprio MP no número de passes decisivos (oito).
Adaptação a Belo Horizonte e paixão por Santos
A mudança precoce para Santos fez Arthur Gomes criar uma grande paixão pelo litoral paulista. Mesmo tendo raízes em Uberlândia, a família do atacante vive em Santos, onde ele chegou com 11 anos.
“Eu e minha família nos adaptamos muito bem a BH, estamos muito felizes aqui. (Vivo com) minha esposa e meu filho recém-nascido. Ele nasceu tem menos de dois meses. A gente está gostando muito daqui. Sou suspeito para falar porque sou mineiro, né? Natural de Uberlândia. O pessoal de Minas é muito receptivo. Meu irmão também já veio para cá, ele mora em Santos. Meus amigos de Uberlândia também estão sempre aí comigo.”
“Aos 11 anos, eu já fui para o Santos. Foi uma mudança que deixou um pouco de saudade, porque eu vivia em Uberlândia e tinha amigos de escola e das escolinhas em que eu jogava futebol desde pequeno. Só que eu me adaptei rapidamente a Santos, foi uma cidade em que pude crescer e viver. Hoje eu estou sempre lá nas férias, tenho muitos amigos. Como eu era pequeno, minha mãe foi comigo. E criança se adapta rápido.”
“Hoje, eu praticamente vivo em Santos, vou a Uberlândia mais para ver minha avó, meus familiares e alguns amigos. Gosto muito de Santos. Ir à praia, jogar meu futevôlei, estar com meus amigos também… Então, quando eu parar, eu certamente pretendo morar em Santos.”
“Futebol é isso, desde pequeno você sai de casa e tem que ‘largar mão’ da juventude. Mas graças a Deus eu pude aproveitar bastante, consegui conciliar o futebol e as brincadeiras. Todo jogador de futebol passa por isso, eu fui mais um. Mas eu faria tudo novamente.”
Momento positivo do Cruzeiro
“Acho que tudo é um contexto. Toda equipe vem jogando bem, demonstrando a sua melhor melhor. E quando o time e todo mundo estão bem, as individualidades aparecem, seja na defesa, no meio-campo ou no ataque. O mais importante é a gente estar vencendo para colocar o Cruzeiro no mais alto nível. E quando a gente vence, a confiança aumenta. Todo mundo está vivendo um momento bom, estamos conseguindo assimilar o que o professor (Fernando) Seabra pede.”
“A entrada do (Álvaro) Barreal tem sido muito importante, assim como a de todos os jogadores que jogam naquela posição que ele vem jogando (meio-campo). Nesses últimos jogos a gente encaixou muito bem ali pelo lado esquerdo, com o Marlon (lateral) apoiando também. É muito fácil jogar com eles. E é como falei: se coletivamente a gente está bem, nosso jogo começa melhorar e tudo flui.”
Copa Sul-Americana
O Cruzeiro está em segundo lugar no Grupo B da Copa Sul-Americana, com 10 pontos. Falta uma rodada para terminar esta etapa do torneio.
“Futebol é 11 contra 11. No nosso grupo da Sul-Americana, se você fosse colocar um favorito, seria o Cruzeiro. E a gente não está em primeiro lugar. Nós sabemos que é uma competição muito difícil. Os times que estão ali também vêm com uma sede muito grande para jogar contra o Cruzeiro e vencer.”
“A gente sabe dessas dificuldades, por isso não podemos escolher adversário ou jogo. Alguns times são teoricamente mais fortes, mas quando entra dentro de campo todos estão tentando dar o melhor pelo seu clube e pela sua família. Por isso temos que ter essa mentalidade de que todos os jogos são difíceis.”
Elogios ao técnico Fernando Seabra
“O Seabra é um profissional muito inteligente. Ele está sempre mostrando mais do futebol para nós, além de falar muito do lado humano e do mental. Isso é algo que eu acho muito positivo para todo jogador. Ele trabalha muito bem o lado tático. É um cara que usa totalmente o trabalho. Quem está dando resultado merece jogar, e quem joga com ele é por total merecimento. Isso que é uma das principais características dele.”
Vontade de ser campeão pelo Cruzeiro
“O que passa pela nossa cabeça é que a gente quer ganhar e ser vitorioso no futebol. Temos muito chão ainda para trilhar. A gente vê toda a história do Cruzeiro e sente vontade de ser campeão com essa camisa, que é muito pesada. No Campeonato Mineiro ficamos perto de escrever o nosso nome na história do clube, mas, infelizmente, não aconteceu.”
“Nem por isso nossa vontade baixou, ela aumentou ainda mais. A gente sabe que trabalhando tudo é possível. Temos um grupo muito novo, que tem sede de vencer e de aprender muita coisa. Se a gente continuar trabalhando e escutar o que o pessoal aqui tem a dizer, vamos crescer e conquistar coisas grandes aqui no clube.”
Como Arthur Gomes lida com as críticas?
“Hoje eu sei lidar muito bem com as redes sociais. Eu trabalhei muito meu mental, todo atleta tem que trabalhar. A cabeça comanda tudo, ela dita 90% ou 100% do futebol (de um atleta). Se você ficar alimentando ela de coisas negativas, ou até mesmo de coisas (exageradamente positivas), você acaba saindo da rota.”
“Muitas vezes acredita que é um craque, o que você não é. E outras vezes dizem que você é um perna de pau, o que você também não é. Você tem que ter um equilíbrio, colocar na balança e saber qual é a sua identidade. Isso é muito importante para nós. E ficar distante das redes sociais para não se alimentar com o que falam bem e mal de você.”
Relação com Pedro Lourenço, novo dono do Cruzeiro
Novo dono do Cruzeiro, Pedro Lourenço viajou com o elenco celeste para Goiânia, em 12 de maio. O empresário conversou com os jogadores antes da vitória por 1 a 0 sobre o Atlético-GO, no Estádio Antônio Accioly, pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro.
“No vestiário, ele (Pedrinho) falou com a gente assim: ‘Vamos ganhar, rapaziada. Vamos ganhar’. Até brincou que se a gente ganhasse ele ia dar um presente. Tomara que o presente venha, estamos esperando (risos). A gente tem que dar resultado para ele.”
“Ele deixa o clima tão leve que deixa a cobrança mais como um incentivo. Fica algo leve. A gente sabe que ele brinca muito, mas também quer resultado. A gente tem essa consciência na nossa cabeça. Mas ele deixa o clima para a gente desfrutar do nosso futebol.”
“Até quando o Pedrinho se apresentou, ele disse: ‘Quero ver esse sorriso seu aí, fazendo gol’. Isso é muito importante para nós. Nós ficamos felizes de ver o dono do clube junto com a gente ali no vestiário, torcendo. A paixão que ele tem pelo Cruzeiro é muito grande, isso já dá para perceber.”
“Pedrinho é um cara muito alegre, alto-astral. Na primeira conversa que teve com a gente, ele nos trouxe uma alegria. Ele chega para evoluir o Cruzeiro, para que a gente possa conquistar os nossos objetivos no ano.”
Como o elenco celeste reagiu à venda da SAF
Pedrinho comprou a Sociedade Anônima de Futebol do Cruzeiro das mãos de Ronaldo Fenômeno. A venda da SAF foi sacramentada no dia 29 de abril, em reunião na Toca da Raposa 2, em Belo Horizonte.
“A verdade é que nós (jogadores) fomos pegos de surpresa. Não sei se para vocês (da imprensa) foi rápido, mas para nós foi muito rápido. Tenho que agradecer ao Ronaldo por tudo que ele fez pelo Cruzeiro. Eu vim para cá por toda a grandeza do clube, mas também pelo projeto que a gestão do Ronaldo me apresentou”
Idolatria por Neymar
Quando Arthur estava nas categorias de base, o time principal do Santos vivia grande período de glórias, com títulos da Copa do Brasil de 2010 e da Copa Libertadores de 2011. Na época, o Peixe tinha como grandes craques o meia Paulo Henrique Ganso e o atacante Neymar.
“A gente tinha distância de um campo. Uma grade separava o treinamento deles do nosso. Nós sempre estávamos vendo os treinos deles. Quando a gente jogava aos sábado, eles também sempre estavam assistindo. Às vezes dava para falar com um com outro. Eram ídolos nossos de infância, a gente olhava para eles como um espelho para chegar no profissional.”
“Nós ficávamos muito felizes de poder estar perto e ver eles prestigiando alguns jogos nossos. E tinha o Neymar, que é meu ídolo máximo no futebol. Hoje às vezes a gente conversa pelo Instagram, ele manda parabéns pelos jogos, pelos gols.”
‘Convite’ para craque do Real Madrid jogar no Cruzeiro
“Eu falo muito com o Rodrygo. Falei: ‘Vem aqui para nós jogarmos juntos’ (risos). Mas, pô, ele está lá no Real fazendo a sua história também. Uma equipe que é uma das melhores do mundo, depois do Cruzeiro (risos). Mas a gente brinca. Ele fala: ‘Eu vou jogar na esquerda, e você na direita. Eu disse: ‘Tranquilo, você vindo é o que importa’. É bom demais.”
“Torço muito por ele. Rodrygo é um amigo que tenho desde a época da base, lá no Santos. Fico feliz pelo momento que ele vem vivendo. Hoje ele é um dos melhores jogadores do mundo, e eu tive esse honra de poder ter jogado com ele.”