Ex-integrante do Conselho de Administração do América, Paulo Lasmar exaltou a passagem de Ronaldo Nazário na gestão do Cruzeiro. Para o advogado especialista em direito empresarial, o ex-camisa 9 da Seleção Brasileira salvou o clube celeste de uma situação ainda pior, mas nem todos os torcedores tiveram essa compreensão.
Antes da chegada do Fenômeno, a Raposa brigou por dois anos na parte de baixo da classificação da Série B do Campeonato Brasileiro: 11º lugar, em 2020 (49 pontos), e 14º, em 2021 (48 pontos). Com Ronaldo na Sociedade Anônima do Futebol (SAF), o time se sagrou campeão da Segunda Divisão Nacional em 2022 (78 pontos), à frente de Grêmio, Bahia e Vasco.
Fora dos gramados, o Cruzeiro se organizou como empresa e passou a pagar salários e impostos em dia. O clube conseguiu dois pontos importantes: reduziu sua dívida tributária de R$ 330 milhões para R$ 180 milhões (parcelas distribuídas em 12 anos) e alongou para 18 anos o prazo de pagamento de seu passivo cível e trabalhista por meio da recuperação judicial.
“Estamos vivendo um segundo momento: aperfeiçoar a lei. Os negócios de SAF malfeitos estão sendo refeitos. Tem o caso do Vasco, do Cruzeiro, que não foi malfeito. O Ronaldo salvou o Cruzeiro e merece todas as honras possíveis. Mas a torcida não compreendeu o que ele fez. Esse é outro problema do futebol. A torcida está com a cultura do título a qualquer preço e isso não pode existir mais”, disse Paulo Lasmar, no evento Fórum SAF, realizado nesta quarta-feira (3/10), em Belo Horizonte.
“É necessário valorizar o dirigente responsável, porque quando ele é responsável em sua gestão, o título virá. Assim, temos outros times com gestão responsável e só um ganha. Parabéns para o que ganhou com responsabilidade e parabéns para os que perderam com responsabilidade, porque teremos times fortes e perenes”
Paulo Lasmar, ex-dirigente do América
Paulo Lasmar fez parte do Conselho de Administração do América de 2012 a 2017. Hoje, é vice-presidente do Conselho Deliberativo, com mandato até dezembro de 2026. Com a experiência de ter feito parte da gestão de um clube que alterna entre as Séries A e B do Campeonato Brasileiro, o advogado afirmou que muitos investidores desistem de ingressar no futebol por causa do comportamento passional de torcedores.
“A torcida não pode é ameaçar os dirigentes responsáveis de agressão, indo para porta da casa do cidadão, ameaçando famílias. Se continuarem assim, os profissionais de mercado vão para outra área. E quem tem o dinheiro, tem outras opções. Por que ele irá colocar o dinheiro em um lugar em que ele corre riscos de apanhar na rua por uma torcida violenta? O que vai acontecer: o investidor e o bom gestor vão embora e volta o cartola que fez as lambanças do passado. É isso que a torcida quer?”.
Cruzeiro na Série A com Ronaldo
Após o sucesso na Série B de 2022, Ronaldo lidou com desafio diferente no Cruzeiro em 2023. A equipe até começou bem o Brasileirão ao ganhar quatro das seis primeiras rodadas, porém oscilou na sequência da competição e lutou contra o rebaixamento.
O clube celeste só respirou aliviado na 35ª rodada, em 27 de novembro, quando ganhou do Goiás por 1 a 0, fora de casa. Os empates com Athletico-PR (1 a 1), Botafogo (0 a 0) e Palmeiras (1 a 1) foram suficientes para uma vaga na Copa Sul-Americana de 2024 (14º lugar na Série A, com 47 pontos).
Para 2024, a expectativa era de uma campanha melhor na Série A. Contudo, os cruzeirenses se decepcionaram em competições prévias. No Mineiro, o time perdeu a final para o Atlético diante da própria torcida, no Mineirão (3 a 1). Na Copa do Brasil, deu vexame ao ser eliminado pelo Sousa, da Paraíba, com derrota por 2 a 0 no jogo único da primeira fase. E na Sul-Americana, teve início complicado ao empatar os três primeiros jogos da fase de grupos: Universidad Católica, Alianza e Unión La Calera.
Venda da SAF a Pedro Lourenço
Criticado pela torcida do Cruzeiro, Ronaldo tomou a decisão de vender as ações da SAF ao empresário Pedro Lourenço, dos Supermercados BH. A troca de comando ocorreu no fim de abril.
Desde então, Pedrinho viabilizou a qualificação do elenco do Cruzeiro, que se comprometeu a desembolsar R$ 180 milhões por um “pacotão” de reforços: o goleiro Cássio, o zagueiro Jonathan Jesus, os meio-campistas Walace, Matheus Henrique e Fabrizio Peralta e os atacantes Kaio Jorge e Lautaro Díaz. O clube ainda manteve o zagueiro João Marcelo e o meia Matheus Pereira.
Lourenço também mudou a estrutura administrativa, a começar pela contratação de Alexandre Mattos como CEO de futebol. Por outro lado, profissionais de confiança de Ronaldo deixaram a Toca, casos de Gabriel Lima (ex-CEO da SAF) e Kin Saito (diretora do futebol feminino).
O Cruzeiro faz campanha razoável no Brasileirão (8º colocado, com 43 pontos) e luta por uma vaga na decisão da Copa Sul-Americana – enfrentará na semifinal o Lanús, da Argentina, nos dias 23 e 30 de outubro.
