Ídolo do Cruzeiro, Marcelo Moreno voltou a declarar seu amor pela Raposa. O boliviano abriu seu coração e relembrou momentos importantes da sua carreira, inclusive quando percebeu que a felicidade tem cor: “azul”. Em carta publicada pelo The Players Tribune, neste sábado (21/12), o ex-atacante também revelou o motivo por ter retornado ao time do seu coração no momento mais difícil da história do clube.
“Em 2007, joguei a Série A do Campeonato Brasileiro. Camisa do Cruzeiro. No ano seguinte, fui campeão mineiro: abri a goleada de 5 a 0 que metemos no Atlético na primeira partida da decisão e fiz o gol do título na segunda. Camisa do Cruzeiro. Ainda em 2008, com 21 anos, me tornei artilheiro da primeira Libertadores que disputei — e até hoje sou o único boliviano na lista de goleadores da competição. Camisa do Cruzeiro.”
“Com ela, eu sentia fome. Marcava, fazia falta, batia pênalti, lateral, fazia gol de tudo quanto é jeito. Impossível esquecer. A felicidade era azul e eu queria mais”
Marcelo Moreno, ídolo do Cruzeiro
No entanto, a felicidade ficou pela metade quando deixou a Toca da Raposa. “Acabei negociado com Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, e caí num longo inverno de saudade.”
“Nas quatro temporadas que eu disputei na Europa (outro sonho realizado, não vou negar), fui campeão da Europa League e continuei marcando muitos gols. Só que nenhum deles era azul. Por isso eu digo que a minha felicidade longe da Toca da Raposa, por maior que fosse, sempre foi pela metade”, declarou.
‘Voltei por amor’
Marcelo Moreno revelou porque retornou ao Cruzeiro em 2020, quando o clube enfrentava o momento mais difícil da sua história. Segundo o boliviano, não suportou acompanhar tudo de longe.
“Em 2015, quando fui jogar na China, eu desembarquei lá certo de que não aguentaria nem um ano. Mas a experiência me surpreendeu. Fui feliz também na China. Foram cinco anos jogando e vivendo no futebol chinês, mas sempre pensando no Cruzeiro.”
“Do outro lado do mundo, eu acompanhei o De Arrascaeta tomar o meu lugar como maior artilheiro estrangeiro do clube e, tristeza das tristezas, vi o Cruzeiro ser rebaixado para a Série B.”
“Aquilo me quebrou o espírito. Eu ainda tinha dois anos de contrato na China, mas não consegui ficar longe do meu time do coração numa hora dessas. Voltei. E se você me perguntar por que voltar num momento de sufoco, eu só posso te responder de uma maneira: por amor. Eu voltei porque eu amo o Cruzeiro.”
Marcelo Moreno, ex-atacante do Cruzeiro
Em sua terceira passagem, Moreno foi apresentado com a pintura de uma camisa do Cruzeiro em sua pele. Na carta, o boliviano contou que aquela foi uma manifestação de amor, assim como o dinheiro emprestado para ajudar a salvar a Raposa. “Apareci com uma camisa do Cruzeiro pintada no meu corpo. Foi um jeito de mostrar pro mundo qual era a minha segunda pele.”
“Também emprestei dinheiro pro clube, e não foi pouco. A situação era grave, a dívida era altíssima, havia risco de cair pra Série C, então eu achei que devia retribuir toda a felicidade que o Cruzeiro e seus torcedores me deram. Tem horas na vida que é assim: a gente faz porque é preciso fazer. Se eu podia emprestar a grana, eu ia emprestar. Assim como a torcida. Se ela podia ir nos apoiar em todos os jogos, apesar da situação dramática, ela simplesmente estava lá lotando o Mineirão, nunca faltava”, disse.
Luto
O luto provou a Moreno que toda a felicidade acumulada não era suficiente para abater a tristeza. Mas, como sempre, o Cruzeiro estava lá para lhe dar parte do sentido da vida de volta.
“Meu telefone tocou e eu recebi a pior notícia de todas: o meu pai, mi viejo, o meu herói, o meu ombro de todas as horas tinha partido. Naquele momento eu tive a certeza de não conseguiria mais ser um jogador de futebol. Ainda tentei no Independiente del Valle, mas foi impossível prosseguir. De um jeito duro, eu aprendi que até os homens com muita felicidade acumulada ficam tristes.”
“Pero, pra minha sorte, existia o Cruzeiro. E na hora que eu mais precisei a galera fez de tudo pra me alegrar. Fez aquela festa de despedida emocionante no Mineirão, antes da decisão do Campeonato Mineiro deste ano. Foi inesquecível e revigorante.”
Marcelo Moreno no Cruzeiro
Marcelo Moreno teve três passagens pelo Cruzeiro. Na primeira, de 2007 a 2008, conquistou o Campeonato Mineiro (2008) e foi artilheiro da Copa Libertadores (oito gols).
Na segunda, em 2014, venceu novamente o estadual e também o Brasileirão – terminou empatado com Ricardo Goulart na terceira posição entre os melhores marcadores do campeonato (15 gols).
Por fim, de 2020 a 2021, lidou com dificuldades dentro e fora dos gramados, em consequência do rebaixamento da Raposa em 2019.