CRUZEIRO

Pezzolano abre jogo sobre período no Cruzeiro, revela desgaste e cita Ronaldo

Sobre a passagem pela Toca da Raposa, o técnico uruguaio falou com carinho e revelou bastidores da saída do clube

Sem clube desde dezembro do ano passado, quando foi demitido do Valladolid, o técnico Paulo Pezzolano concedeu uma longa entrevista ao jornal Marca, da Espanha, na qual repassou toda sua carreira. Sobre a passagem pelo Cruzeiro, ele falou com carinho e revelou bastidores da saída do clube e sua relação com o gestor Ronaldo Nazário.

“Treinei o Pachuca, no México, e depois o Cruzeiro. É diferente a paixão com que se vive o futebol no Brasil e a quantidade de pessoas de quem estamos falando. Lá dizem que (o Cruzeiro) não é um clube grande, é um clube gigante. Dez milhões de torcedores”, disse.

Pezzolano foi contratado pelo Cruzeiro em janeiro de 2002 e ficou no clube até março de 2023. Ele dirigiu o time celeste em 68 jogos oficiais: 38 vitórias, 13 empates e 17 derrotas. Com o uruguaio no comando, a Raposa interrompeu o pesadelo de três anos na Série B e logrou o acesso à elite do futebol brasileiro.

“(Os cruzeirenses) estavam sofrendo e nós fomos com a nossa ideia de jogo. Conseguimos mudar muitas ideias que se tinham no Brasil, por exemplo, de que não se podia jogar dessa maneira. A verdade é que conseguimos de uma forma espetacular (o acesso), com jogadores humildes que se adaptaram muito bem a tudo o que queríamos. Conseguimos o acesso, mas o mais bonito foi o que deixamos no clube. Essa cultura de trabalho, essa ambição, essa constância diante dos momentos difíceis”, afirmou.

“Qualquer equipe que atinge seus objetivos passa por momentos difíceis. Todas, em qualquer liga. O melhor time do mundo no ano passa por momentos difíceis. É preciso saber suportar. Foi um trabalho espetacular que hoje em dia nos une muito ao futebol brasileiro”, acrescentou.

Saída do Cruzeiro

Campeão com a Raposa em 2022, Pezzolano disse que não queria continuar no Cruzeiro em 2023, porque sabia que a exigência seria brigar por títulos mesmo sem investimento suficiente para isso.

“Tínhamos decidido que não queríamos continuar depois do acesso, porque o Cruzeiro é um clube com história, um dos mais vitoriosos do Brasil, e sabíamos que na Primeira Divisão a exigência seria outra, seria o título. Na minha opinião, o clube não estava preparado para isso. Não iríamos caminhar junto com o objetivo institucional e, obviamente, a decisão era não seguir”, disse.

Pezzolano ainda mencionou a deterioração causada pela pressão e pelo calendário do futebol brasileiro.

“Houve um desgaste grande, já que naquele ano (2022) jogamos cerca de 60 partidas, com a obrigação de vencer todas. Então, o acordo com o clube foi para permanecermos apenas na primeira etapa do ano, no estadual, enquanto eles escolhiam um treinador ideal. Terminou, saímos… e, incrivelmente, quinze dias depois, o Fran Sánchez (ex-diretor do Valladolid) nos ligou para ver se estávamos dispostos a ir imediatamente para o Valladolid”, disse.

“O que aconteceu? Sem que eu soubesse, ele esteve lá no Brasil, viu o nosso trabalho, o nosso dia a dia, como jogava a equipe… e gostou. E aí chegou a nossa vez de vir. Um momento difícil? Sim, mas não podíamos dizer não a um clube histórico, a uma cidade espetacular e à nossa oportunidade de entrar no futebol europeu. Então, aceitamos”, acrescentou.

Pezzolano disse que é reconhecido até hoje pelo trabalho no Cruzeiro. “Cada vez que sai um treinador de qualquer time grande do Brasil sempre temos a sorte, eu diria, de receber uma ligação. E isso é algo muito bonito”, disse.

Ronaldo Fenômeno

O treinador ainda comentou como foi sua experiência com Ronaldo no Cruzeiro e no Valladolid. “Muito boa. É uma pessoa espetacular. Como chefe, tem a postura de não se envolver em um papel que não é o dele. Sempre que estamos com ele, falamos sobre coisas gerais, mas nunca sobre assuntos da equipe ou algo do tipo. Isso só pode ser feito por um craque do futebol, porque, em geral, o presidente gosta de falar, quer explicações e argumentos… Ele tem pessoas muito capacitadas em cada área dos clubes. Então, a relação foi e continua sendo espetacular”, afirmou.

O uruguaio segue morando na Espanha, mas disse que está atento ao futebol brasileiro. “Agora estou tranquilo, crescendo, curtindo o futebol hoje como torcedor do Valladolid. Eu sempre, quando estou trabalhando, olho para os meus rivais e para a minha liga, mas agora estou assistindo muito à Premier League, ao futebol brasileiro, ao futebol italiano… Vivo e aproveito mais como espectador. Quando você está treinando, não assiste a uma partida de forma relaxada. Você já está olhando a tática ou alguma coisa específica que percebeu. Então é isso, curtindo essa parte, porque continuar aprendendo constantemente é fundamental, e também aproveitando o tempo com a família”.

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