CRUZEIRO

Da revelação à rejeição: conturbada história de Dudu no Cruzeiro chega ao fim

Cruzeiro e Dudu acertaram cifras e romperam contrato nessa sexta-feira (2/5), dias após o atacante declarar insatisfação com o status de reserva

Dudu não é mais jogador do Cruzeiro. Envolvido em polêmica extracampo, o atacante de 33 anos acertou, nessa sexta-feira (2/5), a rescisão de contrato com o clube que o revelou. Desde a primeira passagem na Toca até o fim da atual, a história do atleta na Raposa conta com capítulos conturbados – ainda quando jogador do Palmeiras, por exemplo, foi um dos responsáveis por selar o rebaixamento celeste, em 2019.

Cria da Toca

Natural de Goiânia, Dudu deu na Toca da Raposa os primeiros passos para construir carreira profissional no futebol. Em 2009, aos 17 anos, ganhou a primeira oportunidade na equipe principal. Fez seis partidas no primeiro ano e uma na temporada posterior, antes de ser emprestado ao Coritiba por falta de espaço. Em 2011, após retornar a Belo Horizonte, entrou em campo 18 vezes, marcou dois gols e distribuiu duas assistências.

Ali, encerrou a primeira passagem pelo Cruzeiro. Vendido ao Dínamo de Kiev, da Ucrânia, rendeu cerca de 5 milhões de euros (R$ 11,6 milhões na cotação da época) aos cofres celestes. À época, Dudu estava cotado pelo técnico Joel Santana para atuar como titular em clássico com o Atlético.

Em 2011, Dudu deixou o Cruzeiro e assinou com o Dínamo de Kiev, da Ucrânia. Foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press.

Início da passagem pelo Palmeiras

Em 2014, Dudu retornou ao Brasil para defender o Grêmio por empréstimo. Na temporada seguinte, iniciou a gloriosa passagem pelo Palmeiras. Na negociação, o clube paulista pagou algo em torno de 3 milhões de euros (R$ 9,6 milhões na cotação da época) por 50% dos direitos econômicos do jogador. Alexandro Mattos, hoje CEO de futebol do clube, era o diretor executivo do Verdão.

Dudu ‘selou’ o rebaixamento do Cruzeiro?

Mesmo fora, Dudu participou do pior momento da história do Cruzeiro: o rebaixamento, em 2019. Naquela ocasião, para evitar o primeiro descenso, a Raposa precisava vencer o Palmeiras em confronto pela 38ª e última rodada do Campeonato Brasileiro – também era necessário que o Botafogo derrotasse o Ceará.

Em pleno Mineirão, Cruzeiro e Palmeiras foram para o intervalo com o placar zerado. Na segunda parcial, Dudu comandou a vitória dos paulistas por 2 a 0. Primeiro, deu início à jogada que resultou em gol de Zé Rafael. Depois, ampliou o marcador em cabeceio e comemorou dando uma ‘sarrada’ próximo a bandeira de escanteio. A celebração extasiada do jogador irritou a torcida cruzeirense.

Depois da partida, ele se eximiu da responsabilidade de rebaixar a Raposa. Em entrevista ao Superesportes, argumentou: “Acho que não foi a gente, o Palmeiras, não fui eu que decretou o rebaixamento do Cruzeiro. Eles não fizeram um campeonato bom. É isso que conta. Mas fiquei feliz pela partida de hoje, fiquei feliz pelo gol”.

Dudu marcou o segundo gol do Palmeiras na vitória por 2 a 0 sobre o Cruzeiro, em 8 de dezembro de 2019. Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press.

Relação desgastada com o Palmeiras

Depois de quase 10 anos (passou uma temporada no Al-Duhail, do Catar), a relação – vitoriosa – entre Dudu e Palmeiras se desgastou por dois fatores principais: grave lesão no joelho seguida da negociação frustrada com o Cruzeiro.

Exatamente em 27 de agosto, na vitória por 1 a 0 sobre o Vasco, no Allianz Parque, em São Paulo, pelo Campeonato Brasileiro, Dudu sofreu torção no joelho direito que resultou em lesões no menisco e ruptura de ligamento cruzado anterior. Passou por tratamento por cerca de 10 meses. Em 23 de junho, no triunfo por 3 a 1 sobre o Juventude, pela Série A, o atacante voltou a atuar.

Sai ou fica? Acordo com o Cruzeiro é desfeito

Poderia ter se reencontrado com a torcida do Verdão anteriormente, mas se envolveu em imbróglio com o Cruzeiro e ocupou espaço na geladeira. Em 15 de junho, a Raposa anunciou, de forma inesperada, a contratação de Dudu. A movimentação pegou os adeptos do clube paulista de surpresa e gerou onda de repercussão negativa. Mesmo depois de ter feito acordo com os celestes, atraído pelos valores oferecidos, o atacante voltou atrás.

À época, Alexandre Mattos afirmou que o jogador nunca mais teria espaço no clube celeste se não cumprisse o acordo. O clube celeste também tratou o assunto como encerrado.

Sem espaço em campo depois de retornar de lesão e vivendo relação complicada com o Palmeiras, principalmente com a presidente Leila Pereira, que se incomodou com a desistência e pediu para que Dudu honrasse o compromisso que havia feito com o Cruzeiro, o atleta selou acordo amigável em dezembro de 2024 para romper contrato, que iria até o fim de 2025.

Retorno ao Cruzeiro

Livre no mercado, Dudu voltou a conversar com o Cruzeiro. Ali, as partes pareceram ter deixado para trás a confusão que havia ocorrido há seis meses. Em 23 de dezembro, o clube mineiro anunciou a contratação do atacante até o fim de 2027, com opção de renovação por mais duas temporadas.

Dudu foi oficialmente apresentado à torcida em 4 de janeiro de 2025, no Mineirão, ao lado de outros cinco reforços – Gabigol, Fagner, Christian, Eduardo e Rodriguinho. Prestigiado, chegou à capital mineira com status de titular.

Entre a segunda rodada do Campeonato Mineiro (derrota por 1 a 0 para o Athletic), a estreia oficial, sob o comando do técnico Fernando Diniz, e a segunda rodada da Copa Sul-Americana (derrota por 2 a 1 para o Mushuc Runa), já liderado por Leonardo Jardim, foram 10 jogos como titular e três como reserva. O último jogo mencionado significou a virada de chave e abriu a polêmica envolvendo o atacante.

Dudu foi apresentado à torcida do Cruzeiro em evento no Mineirão. Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press.

Polêmica extracampo e saída tumultuada

Para o próximo compromisso, diante do São Paulo (empate por 1 a 1, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro), Dudu integrou a barca de jogadores que deixaram a equipe principal por opção técnica. Naquele momento, permaneceram Cássio, Fabrício Bruno, Lucas Romero e Matheus Pereira. Perderam espaço William, Jonathan Jesus (suspenso), Marlon (emprestado ao Grêmio), Matheus Henrique (lesionado), Eduardo, Gabi e Dudu. Nas respectivas vagas, entraram Fagner, Villalba, Kaiki, Lucas Silva, Christian, Wanderson e Kaio Jorge.

Foram três confrontos consecutivos na reserva (vitória por 3 a 0 sobre o Bahia e derrota por 1 a 0 para Bragantino, ambos pelo Brasileiro). Depois, na derrota por 2 a 1 para o Palestino-CHI, Dudu iniciou entre os 11, mas, naquele contexto, Leonardo Jardim havia mandado a campo equipe alternativa para preservar o elenco principal, fadigado.

Após tal confronto, Dudu questionou o fato de ocupar o banco: “Eu não me sinto bem. É ruim quando a gente é titular praticamente a vida toda, e depois começa a ser reserva. Aí você tem que se adaptar a esse estilo. No meu modo de ver, eu estava vindo em uma sequência boa, não sei por que o treinador optou (por me tirar)… A gente respeita a opinião, mas eu não sei por que ele optou por me tirar do time”.

De Coquimbo, no Chile, o Cruzeiro embarcou diretamente para Uberlândia, onde o Cruzeiro enfrentaria o Vasco. No dia anterior à partida, Leonardo Jardim cortou Dudu e detalhou que a atitude não tinha relação com a declaração, mas sim com fatores internos relacionados a comportamento. Minutos antes do duelo, Pedro Lourenço, sócio majoritário da Sociedade Anônima de Futebol (SAF), indicou a um torcedor presente no Parque do Sabiá que o atacante estava de saída do clube.

A partir de então, diretoria celeste e equipe do atleta realizaram reuniões para definir o futuro. A multa rescisória, principal questão, foi resolvida na tarde dessa sexta-feira (2/5), quando clube oficializou o rompimento de contrato.

Diante do Palestino, Dudu vestiu a camisa estrelada pela última vez. Foto: Gustavo Aleixo: Cruzeiro.

Dudu já pode atuar por outro clube brasileiro?

Dudu terá de esperar mais de um mês para atuar por outro clube brasileiro. Isso porque a janela de transferências nacional está fechada.

Para a atual temporada do futebol brasileiro, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) estipulou quatro períodos para movimentações de atletas: entre 3 de janeiro de 2025 e 28 de fevereiro; entre 10 de março e 11 de abril (para jogadores que disputaram algum campeonato estadual); entre 2 e 10 de junho (exclusivamente para equipes que participam do Mundial de Clubes); e entre 10 de julho e 2 de setembro.

Sendo assim, o atacante não pode ser registrada por nenhum outro clube do Brasil ao menos até 2 de junho. Para voltar a jogar na data mencionada, teria de ser adquirido por alguma equipe que jogará o Mundial de Clubes – Botafogo, Flamengo, Fluminense ou Palmeiras.

Caso seja contratado por qualquer outro time, Dudu terá de esperar até 10 de julho, ou seja, dois meses de inatividade desde o rompimento de contrato com o Cruzeiro.

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