CRUZEIRO

Os planos do Cruzeiro para a base feminina: captação de atletas, local de treinos e mais

Sob as lideranças de Bárbara Fonseca e Keyla Monadjemi, Cruzeiro intensificou a missão de estruturar um projeto visando a formação de jovens atletas

Em 9 de maio, o Cruzeiro anunciou a contratação de Keyla Monadjemi como coordenadora das categorias de base feminina. Ali, o clube intensificou a missão de estruturar um projeto – já esboçado anteriormente – visando a formações de jovens jogadoras. Alguns detalhes dos planos celestes, formulados também por Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino, já foram definidos. Em entrevista exclusiva ao No Ataque, a dupla de dirigentes os detalhou.

Contratação de Keyla Monadjemi

Bárbara Fonseca destacou a atuação do Cruzeiro no mercado ao buscar Keyla Monadjemi, quem esteve 11 anos à frente do departamento de vôlei feminino do Minas Tênis Clube. Segundo a diretora, o projeto atual não existiria sem a coordenadora, que, em pouco mais de um mês na casa nova, tem contribuído ativamente.

“Era de extrema importância começar a colocar a base nas discussões trazendo a Keyla. Não dava para falar disso se a Keyla não estivesse. Precisou de a gente avançar em questões administrativas, ela também tinha o contexto no Minas. Foi respeito de ambas as partes… É um trator, trabalhando igual uma maluca, pensando, tendo várias ideias”, iniciou Bárbara Fonseca.

Dupla do Cruzeiro em ação

Agora, o foco do clube estrelado é pensar no que pode ser feito de imediato, sem pular etapas ou perder fôlego. Nesta caminhada, destacou Bárbara Fonseca, dois fatores são essenciais: a inserção do futebol feminino na cultura do clube e o investimento. Em relação ao primeiro aspecto, não há dúvidas de que está concretizado. Quanto ao segundo, o Cruzeiro conta com Pedro Lourenço, sócio majoritário da Sociedade Anônima de Futebol (SAF), e com subsídio governamental por meio da Lei de Incentivo ao Esporte.

“Tem um contexto de Lei de Incentivo, projeto que já tem verba captada, que a gente está precisando rever. A Keyla está fazendo isso com muita propriedade, entendendo o que dá para ajustar, o que faz sentido. Porque esse projeto foi desenhado há dois anos, e o que a gente pensava é diferente. Tem várias questões que a gente ainda precisa pensar, encontrar o melhor caminho e estratégia para avançar”, explicou Bárbara Fonseca.

Cruzeiro sub-17

A ideia do Cruzeiro é iniciar o projeto em agosto, por enquanto com uma equipe sub-17. Justamente para não ter que acelerar o processo, a Raposa declinou convites da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para participar dos Campeonatos Brasileiros Sub-17 e Sub-20.

“Não daria para fazer com qualidade, seria pouco tempo, a gente teria que atropelar muitas coisas, porque não é o modelo que a gente quer fazer. Prefiro começar devagar, mesmo que tome porrada da imprensa, da torcida. Começar como foi o profissional feminino, com as coisas que são essenciais, urgentes, devagar, certo, dar passos sólidos para que a gente consiga construir um futuro rápido e potente”, justificou a diretora.

Captação das atletas

No processo de captação, que será feito por meio de seletivas, o Cruzeiro vai priorizar atletas nascidas em Minas Gerais. A decisão do clube tem como base a intenção de fortalecer a modalidade no estado.

“Sabe aquela sensação de que a gente tem uma dívida com Minas Gerais? Você fala da dificuldade que é fazer futebol, será que faz sentido buscar atletas que estão desempenhando em outros clubes, que têm possibilidade de realizar sonhos lá no próprio estado, e deixar para trás as mineiras? Isso sempre mexeu comigo”, disse Bárbara Fonseca.

De certa forma, a diretora reviverá um pouco do passado. Antes de se tornar gestora, Bárbara Fonseca atuou por anos nos times amadores da região: “Só terrão, poeira e pedra. Era só a pedra entrando para dentro da coxa (risos)”, brincou.

Ainda sobre a captação, a dirigente destacou que, em certo momento, o Cruzeiro abrirá as portas para outras jogadoras: “É claro que vai chegar um momento do projeto que a gente vai ter que mesclar. Mas olha que legal vai ser se a gente chegar num momento do projeto com meninas fortes, empoderadas e mineiras. É um sonho”.

Keyla Monadjemi chamou a atenção para a ‘margem de crescimento’ das garotas-alvo do projeto: “A gente vê que não tem espaço dedicado para meninas treinarem no alto rendimento. Tem alguns projetos sociais, escolinhas, mas onde você consegue desenvolver todo seu potencial, não tem. O Cruzeiro, pela história da Bárbara, por ser o maior de Minas, tem essa obrigação de abrir as portas. Tenho certeza absoluta que tem muito talento, muitas jogadoras que precisam desse primeiro incentivo”.

Com experiência na área pelo passado no Minas, a coordenadora ressaltou a importância da formação e da cautela no processo: “Eu gosto de ganhar, já falei com ela (risos), mas, em primeiro lugar, está a formação da atleta, a gente conseguir fazer com que elas se tornem grandes jogadoras para servirem as Cabulosas no profissional, quem sabe a Seleção Brasileira. Quando a gente pensa em base, tem que ter calma, planejamento, o que ela precisa evoluir, o que a gente precisa oferecer para trabalhar fisicamente, tecnicamente, taticamente, selecionar bem profissionais”.

Importância de Jonas Urias

A dupla de dirigentes vê o técnico Jonas Urias como essencial para o projeto. “Temos uma vantagem enorme de ter o Jonas. Um prazer está sendo conhecer, trocar e aprender com ele. Tem muita experiência com a base, esteve na Seleção Sub-20, toda uma metodologia, um carinho e um conhecimento especial. É um momento importante para a gente criar essa metodologia do Cruzeiro”, disse Keyla Monadjemi.

Antes de assinar com o Cruzeiro, em setembro de 2023, Jonas Urias era o treinador da Seleção Brasileira Sub-20. Campeão do Sul-Americano de 2022 e terceiro lugar no Mundial, ocupava a principal prateleira de técnicos no Brasil. O profissional iniciou a carreira em 2016, como técnico no Centro Olímpico de São Paulo, berço diversas jogadoras de destaque.

O sub-17 treinará na Toca da Raposa 1?

Atualmente, a Toca da Raposa 1 recebe o time feminino profissional e equipes de base masculinas. Ao considerar que a criação de outra categoria atrai pelo menos 40 pessoas, como estimado por Bárbara Fonseca e Keyla Monadjemi, o centro de treinamentos não será capaz de obrigar as atletas do sub-17.

“A visão da galera externa não tem noção do quão complexo é ter uma categoria a mais. É muito complexo. Ela (Keyla) falou 40 pessoas, ainda colocaria 45, porque tem o staff, você precisa de uma nutricionista, uma psicóloga, uma pedagoga. Quando você pensa, impacta muito em uma estrutura que já é enxuta, colapsada com as categorias que tem. Então, ter espaço é um sonho”, argumentou Bárbara Fonseca.

Diante desse cenário, a diretora acredita que o Cruzeiro recorrerá a outros espaços para abrigar a base: “Não sei se nem a primeira categoria a gente vai chegar num consenso que é ideal estar aqui (na Toca da Raposa 1). Estamos pensando, organizando. A PUC é uma estrutura que chama muita atenção, o CTE (Centro de Treinamento Esportivo) da UFMG nos chama atenção, gosto muito de conectar esporte e ciência. E tem outras possibilidades também. Mas tendo o Pedrinho enquanto um cara apaixonado com o Cruzeiro, que apoia o futebol feminino, qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento”.

Cruzeiro sonha com CT e estádio exclusivos para feminino

Líder do futebol feminino do Cruzeiro, Bárbara Fonseca sonha em entregar às jogadoras e à comissão técnica um centro de treinamento e um estádio exclusivos. A estrutura que o Cruzeiro propicia passa longe de ser um problema, destacou a diretora. O plano de ter um espaço exclusivo ao feminino tem como norte outros fatores, e o principal deles é a formação.

Para Keyla Monadjemi, o futebol feminino da Raposa precisa, no futuro, “descobrir seu próprio centro de treinamento”. Bárbara Fonseca corrobora: “Quando você pensa no desenvolvimento a longo prazo, que sonho ter uma estrutura que vai respirar futebol feminino para todas as categorias, bem novinhas, até o profissional, todo mundo podendo dividir os mesmos processos, a mesma metodologia, uma atleta vendo uma profissional. Você tem um cenário muito positivo para construir grandes atletas quando tem essa estrutura que vai viver para o futebol feminino”.

Mais de uma vez, a diretora destacou que o tema anima Pedro Lourenço: “Ele adora esses sonhos, tá? Já falou comigo, vamos pensar. A primeira questão é pensar onde jogar, ter sua casa. Outra questão que eu sei que deixa ele inquieto é ter esse espaço que seja só para o feminino, que lá a gente possa desenvolver, mapear, trazer duas vezes por semana, criar vínculos. Atleta que sai da base e você entrega para o profissional está pronta de ponta a ponta”.

Arena Gregorão no radar do Cruzeiro

Conforme publicado pelo No Ataque anteriormente, Pedro Lourenço almeja adquirir a Arena Gregorão, indicada justamente por Bárbara Fonseca. O local, situado no bairro Chácara Novo Horizonte, perto do limite de Contagem com Belo Horizonte, agrada à diretoria – não à toa, é a casa das Cabulosas em alguns confrontos.

Segundo Bárbara Fonseca, o Cruzeiro se mantém firme na ideia de adquirir o estádio: “A aproximação (entre Pedro Lourenço e Renê Gregório, dono do local) foi muito rápida. Mas tem algumas pendências contratuais… Pelo Cruzeiro e pelo que converso com o Pedrinho, não é um assunto finalizado”.

Para isso, o clube terá de convencer Renê Gregório. A reportagem apurou que o empresário não deseja abrir mão por completo do empreendimento, construído inicialmente para abrigar partidas de futebol envolvendo familiares e amigos.

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