Ronaldo Nazário afirmou que “é questão de tempo para que o Cruzeiro domine” no futebol brasileiro. A declaração foi dada em entrevista ao podcast Denílson Show, nesta segunda-feira (23/6). O ex-jogador respondeu sobre a chance de se tornar acionista de uma possível SAF do Corinthians, assim como ocorreu no Cruzeiro.
Embora não acredite na hipótese de o Timão seguir esse caminho – muito em função do ambiente político conturbado da associação civil -, o Fenômeno enxerga que seria uma solução interessante para encontrar o equilíbrio financeiro. Hoje, a dívida corintiana é calculada em R$ 2,3 bilhões – R$ 710 milhões somente pelo financiamento da construção da Neo Química Arena.
“A gente mostrou isso para o torcedor do Cruzeiro. Fizemos uma gestão sustentável e responsável por dois anos e meio. Pegamos uma dívida de R$ 1,2 bilhão, diminuímos pela metade, aprovamos a recuperação judicial do clube e saímos da Segunda Divisão, onde o time estava há três anos”.
Ronaldo foi dono de 90% das ações da SAF do Cruzeiro de janeiro de 2022 a abril de 2024. No primeiro ano de sua gestão, o time subiu da Série B para a A como campeão. Na segunda temporada, obteve vaga na Copa Sul-Americana ao terminar o Brasileirão em 14º lugar. Por fim, no início da terceira época, o ex-camisa 9 da Seleção Brasileira vendeu o controle acionário ao empresário Pedro Lourenço, dono dos Supermercados BH, por R$ 482 milhões.
Naquela altura, Ronaldo já lidava com cobranças dos torcedores para alcançar resultados expressivos na elite, pois a Raposa havia perdido a final do Mineiro para o Atlético e caído na primeira fase da Copa do Brasil para o Sousa (PB), time da Série D. Por isso, enxergou em Pedrinho o perfil ideal para diminuir as dívidas e qualificar o elenco na agilidade esperada pelos cruzeirenses.
“É questão de tempo que o Cruzeiro realmente domine. O Pedro é agressivo, é muito bom, um líder apaixonado pelo clube. Acertei muito na pessoa para quem vender. O Pedrinho sempre esteve comigo, desde o início”.
Ronaldo Nazário
O craque histórico de Barcelona, Inter de Milão e Real Madrid ainda deixou um recado a quem tem receio das SAFs. “O torcedor não tem que ter medo do clube virar SAF. Ela foi criada para ajudar os clubes a encontrar soluções para más gestões anteriores”.
O Cruzeiro sob o comando de Pedrinho
Quando tomou frente do Cruzeiro, Pedro Lourenço nomeou Alexandre Mattos como CEO de futebol e buscou reforços de peso. De abril de 2024 até o momento, o clube se comprometeu a arcar com cerca de R$ 300 milhões em aquisições de direitos econômicos. Atletas de peso chegaram à Toca, casos do goleiro Cássio, o lateral-direito Fagner, o zagueiro Fabrício Bruno, os volantes Walace e Matheus Henrique e os atacantes Gabriel Barbosa e Kaio Jorge.
Em 2024, o Cruzeiro vinha bem na Copa Sul-Americana com o técnico Fernando Seabra, porém emplacou sequência ruim no Campeonato Brasileiro, causando sua demissão. A diretoria contratou Fernando Diniz, que até levou a equipe à final da Copa Sul-Americana, mas amargou a derrota para o Racing, da Argentna, por 3 a 1. Na Série A, a Raposa não conseguiu se recuperar e terminou fora da zona de classificação para a Libertadores (nono lugar, com 52 pontos).
Mantido para 2025, Diniz durou somente até as primeiras rodadas do Mineiro. Para o seu lugar, foi contratado o técnico português Leonardo Jardim, cuja filosofia de trabalho encantou Pedro Lourenço, a ponto de ele exercer o papel de “manager” do departamento de futebol. Isso fez com que Alexandre Mattos perdesse espaço na tomada de decisões. Desta forma, tão logo recebeu proposta do Santos, o CEO optou por deixar o Cruzeiro.
Os torcedores do Cruzeiro estão empolgados com Leonardo Jardim, que deu bom padrão de jogo à equipe neste início de Campeonato Brasileiro. Antes da pausa para a disputa do Mundial de Clubes da Fifa, nos Estados Unidos, a Raposa somou 24 pontos – sete vitórias, três empates e duas derrotas -, ocupando a vice-liderança. Na Copa do Brasil, o clube celeste entrou diretamente na terceira fase e ganhou as duas partidas do Vila Nova (2 a 0, no Mineirão, e 3 a 0, no Serra Dourada).
Dívida do Cruzeiro
Segundo o Relatório Convocados, do economista Cesar Grafietti, a dívida do Cruzeiro é de R$ 1,158 bilhão. Apesar do valor vultoso, o clube mantém os compromissos em dia, sobretudo em função dos aportes de Pedro Lourenço. Além disso, mais de R$ 500 milhões estão dentro da recuperação judicial, com prazo de pagamento até 2041, enquanto cerca de R$ 220 milhões são do parcelamento dos débitos fiscais, que vencem em 2033.
