
Desejado por Pedro Lourenço, sócio majoritário da Sociedade Anônima de Futebol (SAF) do Cruzeiro, Cássio assinou contrato com a Raposa em maio de 2024 para, segundo o goleiro, respirar novos ares e evitar desgaste maior com o Corinthians, ex-clube. Em ‘depressão profunda’, levou tempo para ganhar a confiança dos fãs celestes e, por vezes, foi alvo de críticas.
Em entrevista ao CruzeiroCast, da TV Cruzeiro, Cássio abriu o jogo sobre a mudança de clube, destacou o tema ‘saúde mental’ e comentou os desentendimentos e a retratação com a torcida cruzeirense – evidenciando, inclusive, a importância da chegada do técnico Leonardo Jardim.
Saída do Corinthians e ‘depressão profunda’
Cássio rescindiu contrato com o Corinthians em maio de 2024, depois de mais de 12 anos em São Paulo e uma série de conquistas, incluindo a Copa Libertadores e o Mundial de 2012. Para tomar a decisão de deixar o clube, levou em consideração a saúde mental e a possibilidade de desgastar ainda mais a relação – na época, a ligação com a torcida já estava em descenso.
“Muitos jogadores não falam (sobre saúde mental). Tenho uma psicóloga, Lizandra, consigo conversar com ela, desabafar, conversar todo tipo de assunto. Mas não adianta você ir e não ter confiança no psicólogo. A pessoa quando está nesse sentido de depressão, não consegue, vai dar risada, conversas, mas o íntimo”, iniciou o goleiro.
Na sequência, Cássio deu detalhes sobre o que sentia quando optou por sair do Corinthians. Segundo ele, não conseguia contribuir positivamente e vivia ‘depressão profunda’.
“Foi o que vivi no Corinthians, quando saí do Corinthians. Olhando com calma, eu acho que foi a melhor coisa para os dois lados. Eu já não tinha forças para poder ajudar naquele momento e estava numa depressão profunda. Quando cheguei no Cruzeiro, os caras falavam ‘pô, chegou com olho fundo, semblante diferente do que tem hoje’. Às vezes, a gente precisa de ajuda. Se você não tem ajuda da pessoa certa, não sei se consegue evoluir”, continuou.
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Cássio demorou a ter a confiança da torcida cruzeirense
Quando assinou com a Raposa, Cássio tinha a missão de sanar a desconfiança que envolvia a meta – depois que Fábio deixou o Cruzeiro, no início de 2022, Rafael Cabral assumiu e não correspondeu, no ponto de vista da torcida. Entretanto, demorou a receber respaldo.
“Tento ser e sou muito comprometido com a instituição. Cobro muito quando as coisas não dão certo… Imagina, saí do Corinthians, venho para o Cruzeiro, sou muito bem recebido e não consigo dar as respostas que queria. Cara, é frustrante. Você treina, tenho dois excelentes treinadores de goleiro, Robertinho e João… E aí você trabalha, se dedica e parece que as coisas não acontecem”, desabafou.
A vitória por 1 a 0 sobre o Vasco, em 27 de abril, pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro, mudou a relação de Cássio com a torcida do Cruzeiro. Naquela noite, o goleiro exibiu poder de reação, salvou a Raposa em pelo menos três momentos, garantiu o triunfo e não conseguiu segurar o choro de emoção.
“Mas eu, com o tempo, fui aprendendo. Independentemente se você está trabalhando e não está dando certo, continue trabalhando, fazendo as coisas certas, se dedicando, porque uma hora vai acontecer. E foi o que aconteceu. Depois daquele jogo do Vasco, a gente conseguiu dar uma virada, o time melhorou, evoluiu”, explicou.
“Nesse jogo contra o Vasco, estava muito pressionado. É aí que você olha para trás e pensa ‘cara, olha o que construí, olha onde cheguei, é mais um obstáculo’. Aí coloquei minha cabeça no lugar, me concentrei, consegui fazer uma boa partida. Depois do jogo, toda a felicidade pela vitória, tudo junto, vem a emoção”, completou.
Cássio define jogo com Vasco como ‘emblemático’
Justamente por ter significado uma mudança de chave para Cássio, o jogo com o Vasco é tratado pelo goleiro como ‘emblemático’. Ele resgatou o momento em que foi vaiado no Mineirão – em 10 de fevereiro, na derrota por 2 a 0 para o Atlético, pela sétima rodada do Campeonato Mineiro – para explicar que ainda não havia se desvencilhado da realidade no Corinthians.
“Demorei um pouco para entender e conhecer. Vinha preso com o que acontecia no Corinthians. Pelo tempo que fiquei lá, acabei perdendo o foco. Honestamente, fiquei chateado e entendo quando fui vaiado no Mineirão. Não tenho vergonha de falar, tudo é aprendizado. Não vejo nada de errado, cada um tem direito de ter sua opinião. Eu vim de um clube que fiquei 12 anos e meio e nunca tinha acontecido isso comigo. Fiquei um pouco chateado e frustrado, porque as coisas não estavam acontecendo bem, o time não vinha bem, eu vinha tomando gols que, pela minha qualidade, eu tinha que defender”, disse.
Apoio interno para se recuperar no Cruzeiro
O choro de Cássio após a vitória sobre o cruz-maltino tinha motivo. O arqueiro vinha sendo duramente criticado desde a quinta-feira anterior (24/4), quando falhou na derrota por 2 a 1 para o Palestino-CHI, pela terceira rodada da Copa Sul-Americana – o resultado praticamente eliminou o clube do torneio.
Para superar, voltou a mencionar a psicóloga e deu méritos ao elenco celeste e aos gestores Pedro Lourenço e Pedro Junio, vice-presidente do Cruzeiro.
“Fizemos um jogo péssimo, perdemos e praticamente fomos eliminados da Sul-Americana no Chile. Veio uma pressão muito grande de buscar resultado. Cara, é você sentar e colocar a cabeça no lugar, entra a parte mental do jogador. Beleza, você é jogador, mas também é ser humano. Já tive outros momentos com esse tipo de situação, agora foi um momento específico, tenho uma psicóloga, Lizandra. Senti um pouco tudo isso, mas tive aprendizado com os jogadores, Pedrinho, Pedro Junio. Nesse momento que você vê as pessoas. Eles nunca viraram a cara para mim, sempre foram honestos. Tenho muito respeito por eles”.
No processo de recuperação, Cássio também exaltou Leonardo Jardim, no Cruzeiro desde fevereiro: “A chegada do professor foi muito importante para mim. Ele me passou muita confiança, foi muito franco, honesto, e eu prezo isso. Me ajudou muito. Automaticamente as coisas foram se encaixando, e a gente foi melhorando e evoluindo em conjunto”.