Há quase dois anos, Matheus Pereira defende a camisa do Cruzeiro. Torcedor declarado do clube estrelado, o dono da camisa 10 se aproxima de 100 jogos pela Raposa em uma trajetória de amor, reviravoltas e agitado relacionamento com os fãs celestes.
O início da relação entre Cruzeiro e Matheus Pereira
A história de Matheus Pereira com o Cruzeiro é antiga. Iniciou-se na infância, quando o meio-campista, natural de Belo Horizonte, partiu na contramão da família atleticana e construiu afinidade com a Raposa por influência de um tio: “Aprendi a gostar do clube e foi algo natural. É uma relação de amor, amor puro e que foi crescendo com o passar do tempo”.
O ‘amor’ ganhou reciprocidade em julho de 2023. Precisamente no dia 24, o Cruzeiro anunciou a contratação de Matheus Pereira por empréstimo do Al-Hilal, da Arábia Saudita. “Meu maior desejo finalmente se realizou… Feliz pela oportunidade”, disse o atleta ao desembarcar na capital mineira com as expectativas nas alturas.
Àquela altura, o meia optou pelo número 96 na camisa em referência ao ano de nascimento, já que Nikão vestia a 10. A estreia ocorreu em 29 de julho, no empate por 3 a 3 com o Athletico-PR, na Ligga Arena, em Curitiba, pela 17ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Entre a frustração e a salvação
No primeiro ano como atleta do Cruzeiro, Matheus Pereira não teve tanta rodagem: 15 partidas e um gol. Logo no segundo jogo, sofreu lesões nos ligamentos cruzado posterior e colateral medial do joelho esquerdo e precisou ficar parado por cerca de dois meses. Na volta, fez-se essencial para salvar a equipe do rebaixamento e conquistar vaga na Copa Sul-Americana.
2024: auge de Matheus Pereira no Cruzeiro
Quando Nikão deixou a Raposa, Matheus Pereira assumiu a 10. Entrosado, conquistou a confiança da torcida, que passou a exigir a contratação. A diretoria celeste, liderada por Pedro Lourenço, atendeu ao pedido e, em 17 de junho, adquiriu 50% dos direitos econômicos do atleta por cerca de 5 milhões de euros (na época, algo em torno de 30 milhões).
Um dos líderes do Cruzeiro, o meio-campista participou de pouco mais de 90% dos jogos da equipe e acumulou 26 participações em gols em 59 duelos – 11 bolas na rede e 15 assistências. Graças ao rendimento, cavou vaga na Seleção Brasileira, comandada por Dorival Júnior, mas pouco atuou.
No segundo semestre, a Raposa viveu desilusões. Caiu de rendimento no Campeonato Brasileiro, no qual havia feito campanha de G4 no primeiro turno, perdeu vaga na Copa Libertadores e tropeçou na decisão da Copa Sul-Americana para o Racing, da Argentina. Obviamente, os insucessos fizeram a torcida perder a paciência, e a fúria sobrou para alguns jogadores, incluindo Matheus Pereira.
Relação estremecida no início de 2025
No início de 2025, o Cruzeiro anunciou um pacotão de reforços. Havia, portanto, a expectativa de ver o camisa 10 ao lado de nomes estrelados. Em campo, durante a pré-temporada, a torcida não se sentiu realizada. Fora dele, estremeceu a relação com Matheus Pereira devido a uma declaração do próprio.
Em entrevista, o meio-campista deixou o futuro em aberto ao dizer que não tinha controle do amanhã, mas também afirmou estar abençoado por vestir a camisa estrelada. A declaração dividiu opiniões – alguns fãs crucificaram a fala, enquanto outros espantaram polêmicas.
Pouco depois, durante derrota por 2 a 0 para o Atlético, pelo Campeonato Mineiro, o Mineirão se dividiu: vaias para o camisa 10 foram ouvidas, mas logo cobertas por aplausos e gritos de apoiado. Abalado, Matheus Pereira quebrou o silêncio. Admitiu que desejava sair do Cruzeiro rumo ao futebol da Europa no início do ano, mas que as propostas não agradaram.
Exames para assinar com Zenit e desistência
Em fevereiro, o Zenit, da Rússia, enviou proposta por Matheus Pereira (os valores giravam em torno de R$ 83 milhões de reais). A diretoria celeste, ciente dos desejos do atleta, aceitou os termos e deixou a transação nas mãos do camisa 10. O atleta deu o sinal positivo à equipe estrangeira, fez exames médicos e foi aprovado. Nos minutos que antecederam o fechamento da janela de transferências, entretanto, recuou e desistiu do acordo.
Página virada no Cruzeiro
Nos dias posteriores, a curiosidade tinha relação com o clima na Toca da Raposa 2 após a movimentação de Matheus Pereira. Sem novidades. O meia preferiu ‘enterrar’ o assunto e voltou à rotina do clube normalmente – inclusive com boa relação com os companheiros de elenco.
O silêncio do camisa 10 geriu a crise que havia iniciado com a torcida. O nome de Matheus Pereira chegou a estampar um boneco pendurado em viaduto – Marlon e William também foram incluídos na violência.
Quando voltou a atuar, entretanto, o meio-campista foi recebido de braços abertos pelos fãs. Um dos nomes mais gritados nos anúncios das escalações, ganhou outro voto de confiança e paciência.
Pelo imbróglio, perdeu espaço no time do técnico Leonardo Jardim, mas não demorou para recuperá-lo. Criativo, responsável por construções de jogadas e decisivo, o camisa 10 tem vaga cativa entre os 11 iniciais. Diferentemente da temporada passada, agora não carrega sozinho o peso de distribuir jogo e tem mais liberdade ofensiva.
100º jogo de Matheus Pereira pelo Cruzeiro
Segundo controle feito pelo Cruzeiro, que também inclui partidas amistosa, Matheus Pereira completou a 99ª partida pelo clube na vitória por 1 a 0 sobre o Banfield, nesse domingo (6/7), no Kleber Andrade, em Cariacica, pela Vitória Cup.
No jogo em questão, Leonardo Jardim esboçou a escalação da Raposa para o retorno do Brasileiro. A tendência, portanto, é que Matheus Pereira alcance o centésimo jogo neste domingo (13/7), às 20h30, contra o Grêmio, no Mineirão, em Belo Horizonte, pela 13ª rodada do torneio nacional.
Outros camisas 10 do Cruzeiro
Com contrato até junho de 2026, Matheus Pereira ainda tem a missão de coroar os bons jogos com títulos e fazer caminho inverso dos últimos camisas 10 do Cruzeiro. A partir de 2019, ano do rebaixamento à Série B, os donos do número não tiveram muito sucesso.
Destaque da Raposa em 2017 e 2018, Thiago Neves assumiu a 10 em 2019. Conquistou o Campeonato Mineiro naquele ano, mas borrou a passagem com o rebaixamento. Dali em diante, vestiram o número Rodriguinho, Regis, Rafael Sóbis, Giovanni Piccolomo e Nikão – nenhum ocupou a função por mais de um ano, diferentemente de Matheus Pereira.
A veste celeste também já viveu momentos de glórias. Entre 1963 e 1977, por exemplo, Dirceu Lopes conquistou o Campeonato Brasileiro (1966) e nove edições do Campeonato Mineiro (1965, 1966, 1967, 1968, 1969, 1972, 1973, 1974 e 1975). Alex também fez história ao conquistar o Mineiro (2003 e 2004), o Brasileiro (2003) e a Copa do Brasil (2003).
Depois da saída do craque, a 10 passou por Kelly, Wagner, Gilberto, Montillo, Diego Souza, Julio Baptista e Arrascaeta.
Montillo e Arrascaeta ainda estão marcados. O argentino, apesar de ter levantado apenas o título estadual (2011), carrega até hoje o carinho da torcida. O uruguaio se consolidou como o principal nome do Cruzeiro nas conquistas da Copa do Brasil de 2017 e 2018, mas deixou o clube de forma conturbada para se transferir ao Flamengo.