CRUZEIRO

Geovanni detalha bronca de Müller antes de gol histórico pelo Cruzeiro

Torcedores do Cruzeiro ainda se arrepiam com a bola arrematada por baixo da barreira do São Paulo na final da Copa do Brasil de 2000

O gol mais icônico da história do Cruzeiro foi de Joãozinho na final da Copa Libertadores de 1976. Em segundo lugar está o de Geovanni na decisão da Copa do Brasil de 2000. Passaram-se 25 anos da conquista, e os torcedores celestes ainda se arrepiam com a bola arrematada por baixo da barreira do São Paulo, deixando o goleiro Rogério Ceni praticamente sem reação aos 44 minutos do segundo tempo. O Mineirão tomado por 85 mil torcedores veio abaixo quando o camisa 11 fez o tento da vitória de virada por 2 a 1, na noite de domingo, 9 de julho, garantindo o terceiro dos seis troféus do clube na competição.

A Copa do Brasil de 2000 teve formato parecido ao de edições recentes, com os representantes do país na Copa Libertadores – Atlético, Athletico-PR, Corinthians, Juventude e Palmeiras – ingressando a partir das oitavas de final. A diferença é que naquela época o gol fora de casa contava como critério de desempate. E foi por isso que o São Paulo colocou uma mão e meia na taça ao abrir o placar em Belo Horizonte com Marcelinho Paraíba batendo falta aos 20 minutos da etapa final. A partida de ida, no Morumbi, havia terminado empatada por 0 a 0.

O Cruzeiro partiu para o tudo ou nada em busca da reação. Primeiro, o técnico Marco Aurélio tirou o meia Jackson e colocou o atacante Muller. Depois, trocou o lateral-direito Rodrigo pelo centroavante Fábio Júnior. Por fim, queimou a terceira substituição, com o armador colombiano Viveros na vaga do lateral-esquerdo Sorín. Com isso, a equipe se posicionou em uma espécie de 4-2-4, mas com os alas improvisados (Marcos Paulo na direita e Viveros na esquerda). E o empate veio em uma jogada de futsal: Muller recebeu de Ricardinho, fez o pivô e encontrou Fábio Júnior na ponta direita para bater cruzado aos 34 minutos: 1 a 1.

O resultado ainda era favorável ao São Paulo, que tentou segurar a bola no meio-campo. Aos 41 minutos, o volante Axel foi pressionado por Ricardinho e recuou com força. O zagueiro Rogério Pinheiro estava na sobra e viu Geovanni em seu encalço. Conhecido pela extrema velocidade, o atacante cruzeirense ultrapassou o defensor tricolor na corrida, controlou a redonda no pé direito e foi agarrado pela camisa na meia-lua. Falta para a Raposa. E cartão vermelho ao número 4 são-paulino.

“Se o Rogério Pinheiro não faz a falta, o Rogério Ceni estava saindo, e eu ia entrar com bola e tudo. Pela minha velocidade, eu ia tocar a bola de lado, nem pênalti ele ia conseguir fazer”.

Geovanni, ex-jogador do Cruzeiro
O puxão de Rogério Pinheiro, zagueiro do São Paulo, em Geovanni, atacante do Cruzeiro(foto: Paulo Filgueiras/Estado de Minas – 09/07/2000)

Geovanni recorda bronca de Müller: ‘Vou obedecer’

Geovanni detalhou os bastidores dos intermináveis segundos de conversa com Müller sobre como a falta deveria ser cobrada. Com apenas 20 anos na época, o camisa 11 costumava chutar colocado e com efeito, sendo um batedor de extrema qualidade. Por outro lado, o veterano de 34 anos, campeão mundial com a Seleção Brasileira em 1994 e presente nas Copas de 1986 e 1990, entendia que a finalização deveria ser forte. Por várias vezes, Müller buzinou no ouvido de Geovanni. E prevaleceu a voz da experiência.

“Falei assim: ‘Deus, essa é a última oportunidade no jogo’. Se errasse, praticamente acabava. Eu queria bater essa falta colocada. O Müller disse: ‘Geovanni, bate forte!’. Eu falei: ‘não, vou bater colocado’. Aí ele sai da bola, meio nervoso, e continua falando para chutar forte. Eu me posicionei para bater colocado, ele vem de novo, fica nervoso e fala para bater forte essa bola. Eu pensei: ‘vou obedecer, senão depois apanharei no vestiário’. E aí esse momento mágico”, recordou, em entrevista ao Cruzeiro Cast.

Em pé: Sorín, André, Cléber, Donizete Oliveira, Cris e Marcos Paulo; Agachados: Jackson, Geovanni, Rodrigo, Ricardinho, Oséas e Teo (Massagista)(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Um dos maiores ídolos do São Paulo, pelo qual anotou 160 gols em 387 jogos, Müller atuou por três anos no Cruzeiro. Comprado do Santos por R$ 3,5 milhões, em junho de 1998, o atacante disputou 121 jogos pela Raposa e contabilizou 24 gols. Geovanni, que subiu ao profissional aos 17 anos, em 1997, e defendeu o América por empréstimo, em 1998, teve a oportunidade de aprender com um dos principais nomes do futebol brasileiro assim que regressou à Toca, em 1999.

“Sou suspeito para falar do Muller. Foi o melhor jogador em termos de jogar com e sem a bola. Ele abria espaço para os outros jogarem. O Djalminha até comentou sobre isso, às vezes as pessoas não veem o brilho e a qualidade que ele tem. Eu ouvi a voz da experiência, 34 anos, já tinha sido campeão do mundo com a Seleção, no São Paulo. É um jogador com quem aprendi muito, um líder nato, um cara excepcional com quem tive o privilégio de falar com ele”.

Trajetória de Geovanni

Geovanni Deiberson Maurício Gomez nasceu em 11 de janeiro de 1980 em Acaiaca, Minas Gerais. Em três passagens pelo Cruzeiro, marcou 47 gols em 190 jogos e conquistou sete títulos: Campeonato Mineiro (1997 e 1998), Recopa Sul-Americana de 1998, Copa Centro Oeste 1999, Copa dos Campeões Mineiros 1999, Copa do Brasil 2000 e Copa Sul-Minas 2001. Uma curiosidade sobre o ex-camisa 11 é que ele é tio de Wendel, meio-campista campeão da Tríplice Coroa em 2003.

A venda de Geovanni para o Barcelona, em junho de 2001, é a maior do Cruzeiro em valores corrigidos. Os US$ 18 milhões pagos pelo clube espanhol naquela época – R$ 43 milhões – equivalem hoje a R$ 181 milhões. No decorrer da carreira, o atacante passou a jogar no meio-campo e fez sucesso no Benfica, de Portugal, e nos ingleses Manchester City e Hull City. Também jogou por SJ Earthquakes (EUA), Vitória, América e Bragantino, onde se aposentou em 2013, aos 33 anos.

Jogadores do Cruzeiro com o troféu da Copa do Brasil de 2000, o terceiro dos seis que o clube conquistou(foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas – 09/07/2000)

Campanha do Cruzeiro na Copa do Brasil 2000

  • 14/3 – Gama 1 x 1 Cruzeiro – 1ª fase
  • 17/3 – Cruzeiro 4 x 1 Gama – 1ª fase
  • 6/4 – Paraná 0 x 2 Cruzeiro – 2ª fase
  • 27/4 – Caxias 1 x 3 Cruzeiro – 3ª fase
  • 3/5 – Cruzeiro 6 x 1 Caxias – 3ª fase
  • 24/5 – Cruzeiro 2 x 1 Athletico-PR – oitavas de final
  • 31/5 – Athletico-PR 2 x 2 Cruzeiro – oitavas de final
  • 15/6 – Cruzeiro 3 x 2 Botafogo – quartas de final
  • 22/6 – Botafogo 0 x 0 Cruzeiro – quartas de final
  • 29/6 – Cruzeiro 2 x 0 Santos – semifinal
  • 2/7 – Santos 2 x 2 Cruzeiro – semifinal
  • 5/7 – São Paulo 0 x 0 Cruzeiro – final
  • 9/7 – Cruzeiro 2 x 1 São Paulo – final

Artilheiros

  • Oséas – 10 gols
  • Fábio Júnior – 6 gols
  • Geovanni – 5 gols
  • Viveros e Ricardinho – 2 gols
  • Jackson, Alexandre e Donizete Oliveira – 1 gol

CRUZEIRO 2 X 1 SÃO PAULO

Cruzeiro: André; Rodrigo (Fábio Júnior, aos 23 do 2T), Cris, Cléber e Sorín (Viveros, aos 25 do 2T); Donizete, Marcos Paulo, Ricardinho e Jackson (Müller, aos 20 do 2T); Geovanni e Oséas. Técnico: Marco Aurélio

São Paulo: Rogério Ceni; Belletti, Edmílson, Rogério Pinheiro e Fábio Aurélio; Alexandre (Axel, aos 41 do 2T), Maldonado, Marcelinho Paraíba e Raí; França (Carlos Miguel, aos 29 do 2T) e Edu (Fabiano, aos 39 do 2T). Técnico: Levir Culpi

Gols: Marcelinho Paraíba, aos 20 do 2T (São Paulo); Fábio Júnior, aos 34, e Geovanni, aos 44 do 2T (Cruzeiro)
Cartões amarelos: Cléber, Sorín e Oséas (Cruzeiro); Belletti, Maldonado e Raí (São Paulo)
Cartão vermelho: Rogério Pinheiro (São Paulo)

Motivo: final da Copa do Brasil
Data: domingo, 9/7/2000
Estádio: Mineirão
Árbitro: Carlos Eugênio Simon (RS)
Assistentes: José Carlos Oliveira e Marcos Ibanez (RS)

Público: 85.841
Renda: R$ 817.816,00

Compartilhe
Sair da versão mobile