CRUZEIRO

Diretora do Cruzeiro detona FMF: ‘Não tem aptidão para lidar com o feminino’

Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino do Cruzeiro, alegou que a FMF 'não tem feito nada' para a modalidade ao reagir a declarações do presidente Adriano Aro

Compartilhe

Diretora de futebol feminino do Cruzeiro, Bárbara Fonseca detonou a postura da Federação Mineira de Futebol (FMF) em relação ao tratamento do futebol feminino. Ao No Ataque, a dirigente reagiu às declarações que Adriano Aro, presidente da entidade, fez durante a Conafut (Conferência Nacional de Futebol), sediada pelo Mineirão, em Belo Horizonte, nessa sexta-feira (8/8).

Declarações de Adriano Aro

No evento, Adriano Aro disse que o desenvolvimento do futebol feminino é um dos maiores desafios da FMF: “porque, em regra, não gera receita, mas despesas. Então não é todo clube que consegue manter um elenco de atletas. Quando a gente vai organizar uma competição, tem um quórum muito baixo de clubes. Com poucas equipes disputando, você não consegue atrair patrocinador, porque não tem capilaridade”.

O dirigente admitiu não haver um plano concreto para contribuir a nível estadual. Detalhou que a entidade busca dar visibilidade para obter engajamento e, consequentemente, investimento – resultado que ele espera alcançar com a Copa do Mundo de 2027, a ser disputada no Brasil.

“A preocupação principal tem sido, em primeiro lugar, dar visibilidade, que gera engajamento. É o engajamento que vai trazer o resultado que o patrocinador precisa para estar disposto a investir mais, ter um fôlego maior para colaborar… Não temos ainda uma solução clara. O que a gente tem feito é na base da tentativa e erro. Ano passado nós fizemos aqui a grande final, entre América e Cruzeiro, público expressivo. A gente tem visto que o público tem crescido nos últimos anos, mas ainda está muito aquém do potencial. A gente tem tentado extrair mais, mas encontrado dificuldades”, prosseguiu Adriano Aro.

Cruzeiro tem atraído marcas

Inicialmente, Bárbara Fonseca discordou com a ideia de que o futebol feminino não angaria patrocinadores: “A fala dele diz muita coisa. Primeiro fala não ter conhecimento do que fazer em prol do desenvolvimento e justifica o desconhecimento em afirmar que as marcas não têm interesse. Olha só, o Cruzeiro, hoje, tem sete marcas na sua camisa, patrocínio direto. Cinco são marcas que só têm interesse em patrocinar o futebol feminino. E as outras duas (três) marcas estão na camisa do masculino também”.

Estampam o uniforme das Cabulosas as seguintes marcas: Bis, Cimed, Gerdau, Neutrox, Rexona, Supermercados BH e Betfair. O nome da Modess aparece no short. E a Trident está presente na camiseta de treinos.

Bárbara Fonseca indica caminho à FMF

Na sequência, a diretora do Cruzeiro argumentou que falta na FMF uma pessoa que tenha como responsabilidade exclusiva discutir a modalidade.

Como exemplo, relembrou manobra da Federação Paulista de Futebol (FPF), que, em julho de 2016, criou o departamento de futebol feminino e contratou Aline Pellegrino, ex-zagueira da Seleção Brasileira, para a gestão. Em 2020, a dirigente se tornou coordenadora de competições femininas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – hoje, o cargo deixado por ela na entidade que rege o futebol em São Paulo é ocupado por Kin Saito, ex-diretora do Cruzeiro.

“O que eu acho que falta é uma pessoa, e eu venho falando isso com a federação desde 2015, quando profissionalizei a primeira equipe do estado, do América. Desde aquela oportunidade me reúno com a Federação e peço para fazer o que a Federação Paulista fez quando contratou Aline Pelegrino para pensar exclusivamente no futebol feminino. Recentemente eu tive uma conversa com Helena Abreu, que exerce cargo de gestão na FMF, meu único pedido foi exatamente esse. Teve uma arbitral que envolveu outros gerentes do futebol feminino e meu pedido foi novamente esse”, continuou.

‘Não tem aptidão’, diz a diretora sobre a FMF

Para Bárbara Fonseca, a FMF não tem tato para lidar com a temática nem tem contribuído ativamente para fomentar o crescimento da modalidade. A diretora voltou a sugerir que a pasta seja criada.

“A FMF precisa entender que não tem aptidão para lidar com o desenvolvimento do futebol feminino e tem que buscar alguém no mercado. Enquanto não tiver essa pessoa, é muito mais fácil fazer o discurso de que não dá, que as marcas não têm interesse, que não dá para viabilizar o crescimento do campeonato, porque, na verdade, eles não têm feito nada. Eles estão esperando somente que os clubes façam seus movimentos e entrem numa competição que não gera premiação nem visibilidade, porque a FMF tem uma dificuldade enorme de conseguir transmissão dos jogos, não subsidia custos da competição”

Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino do Cruzeiro, ao No Ataque

Campeonato Mineiro de 2025

Havia uma expectativa em relação ao aumento de equipes na disputa do Campeonato Mineiro deste ano, mas apenas seis brigarão pelo título: América, Araguaria, Atlético, Cruzeiro, Itabirito e Valadares. No ano passado, sete times brigaram no torneio.

Segundo Adriano Aro, trata-se de uma “decorrência natural do interesse dos clubes”: “A Federação é aberta para qualquer equipe que queira apresentar um time feminino. Acreditávamos que teríamos um aumento de equipes, mas houve diminuição. Ou seja, um maior número de clubes não está interessado no futebol feminino. Enquanto a isso, não há muito o que a federação possa fazer”.

Bárbara Fonseca, no entanto, discorda: “Como um clube do interior, que tem grandes dificuldades para arcar com a equipe masculina e com as categorias de base, vai pensar que é importante ou que vai gerar receitar? Eles podem até pensar em valorização do produto e isso vai acontecer. É indiscutível que todo clube que tem uma equipe feminina valoriza seu produto. Mas como quem tem dificuldade financeira extrema vai querer bancar uma equipe para disputar uma competição que não traz visibilidade, não traz premiação e só traz custo?”.

“Falta a FMF sair desse discurso da dificuldade e entender por que encontra tanta dificuldade. Pra mim, a receita está pronta, não tem uma pessoa exclusiva para pensar o futebol feminino, trazer marcas, pensar competições, conversar com clubes sobre o departamento, e tantas outras coisas que essa pessoa estaria capacitada e habilitada para fazer”

Bárbara Fonseca, diretora de futebol feminino do Cruzeiro, ao No Ataque
Compartilhe
Sair da versão mobile