Destaque do Botafogo, campeão da Copa do Brasil pelo Palmeiras e com passagem pela Seleção Brasileira. O currículo de Lucas Rios Marques o credenciou como boa contratação do Cruzeiro em 2016. No entanto, o desempenho não foi conforme esperado pelos torcedores e o próprio atleta. Assim, o lateral-direito seguiu por outros rumos no fim da temporada.
De toda forma, Lucas lembra com carinho do período em que esteve no Cruzeiro. Afinal, seu avô Agostinho é um fervoroso fã da Raposa. Portanto, vestir a camisa estrelada, ainda que por pouco tempo, realizou o sonho do familiar.
“Meu avô por parte de pai é cruzeirense fanático. Ele é cruzeirense rachado. E quando eu tive a oportunidade de vestir a camisa do Cruzeiro, ele ficou feliz demais”, contou o ex-jogador de 37 anos, em entrevista ao No Ataque.
“Eu lembro muito bem de quando ia à casa dele. Tinha um quadro, não vou lembrar de qual ano era, de jogadores bem antigos, de algum título que o Cruzeiro teve nessa época. Entrávamos na casa dele e víamos esse quadro enorme do Cruzeiro. Então, eu tenho uma relação, com o Cruzeiro pelo meu avô”.
“E ele sempre foi cruzeirense. Sempre trocamos muitas ideias sobre futebol, falamos sobre o Cruzeiro também. Para ele, foi uma realização de um sonho”.
Lucas, ex-lateral do Cruzeiro
Aos 83 anos, Agostinho está com boa saúde. Apesar de dar orgulho ao avô, Lucas não escapou das broncas devido à performance discreta no Cruzeiro.
“Ele poder ver o neto jogar no clube do coração dele é fantástico. Até brinquei com os torcedores: ‘Os torcedores me xingaram, mas até meu avô brigou comigo, me xingou, falou que eu não fui bem no Cruzeiro, então está tudo certo, rapaziada'”.
Por que Lucas não foi bem no Cruzeiro?
O perfil “sincerão” de Lucas no Instagram vem repercutindo nas redes sociais. De forma bem-humorada, o ex-lateral-direito recordou um episódio nada agradável com a camisa do Cruzeiro: o gol contra marcado de cabeça na derrota por 2 a 0 para o Santos, na Vila Belmiro, pelo Campeonato Brasileiro de 2016.
Ao analisar o rendimento na Raposa, o ex-atleta falou sem rodeios. “Eu tive passagens boas por outros clubes. E quando eu cheguei no Cruzeiro, a expectativa era alta também. E sou bem sincero em falar, eu não fui bem no Cruzeiro, não joguei bem no Cruzeiro. São fases. Eu treinava para caramba, me dedicava muito, mas coisas não aconteciam”.
Cruzeiro e Palmeiras anunciaram a troca de jogadores, inicialmente por empréstimo, em 26 de abril de 2016. Lucas e o armador Robinho vieram para o time mineiro, enquanto o lateral-direito Fabiano e o lateral-esquerdo Fabrício seguiram rumo a São Paulo.
A estreia de Lucas foi na partida contra o Campinense, no Mineirão, pela primeira fase da Copa do Brasil. A Raposa sofreu para vencer o adversário por 3 a 2. Curiosamente, a última apresentação do lateral pelo clube ocorreu no mesmo torneio, na ida da semifinal, contra o Grêmio, também no Gigante da Pampulha (derrota por 2 a 0).
“Peguei a transição do Cruzeiro daquele time de 2013, 2014, que era um timaço. O elenco foi praticamente todo renovado. Fomos eu e o Robinho do Palmeiras. Duas grandes contratações para aquela época. Tive uma estreia muito boa, joguei muita bola e tinha sido considerado até um dos melhores no campo. A partir dali, acabou. Não consegui render aquilo que eu poderia render como eu como eu fiz em outros clubes”.
“Foi uma pena, porque eu queria ter jogado muita bola no Cruzeiro. Foi um clube que me abraçou demais, é muito legal morar em Belo Horizonte. A Toca da Raposa é maravilhosa, era tudo fantástico, mas as coisas não aconteceram. Depois de 2017, o Cruzeiro volta a ser protagonista, já com outras contratações. Mas foi uma pena eu não ter rendido”.
Lucas, ex-lateral-direito do Cruzeiro
Lucas disputou 30 jogos pelo Cruzeiro em 2016. Naquele ano, o time começou mal o Brasileirão com o português Paulo Bento, chegando a figurar na zona de rebaixamento. A partir da contratação de Mano Menezes, subiu da penúltima posição, na 16ª rodada (15 pontos), para 12º, ao término da competição (51 pontos).
Além disso, deu esperanças de título na Copa do Brasil ao alcançar as semifinais – perdeu para o Grêmio por 2 a 0, no Mineirão, e empatou no Rio Grande do Sul por 0 a 0. Antes, eliminou Campinense, Londrina, Vitória, Botafogo e Corinthians.
‘Eu treinava demais’
Se há algo que Lucas garante nunca ter faltado é a dedicação nos treinamentos. O lateral-direito trabalhou com três técnicos naquele ano: Geraldo Delamore (interino), Paulo Bento e Mano Menezes. No dia a dia na Toca da Raposa 2, conquistava a confiança dos comandantes com bastante disciplina e atenção ao que era pedido. Nos jogos, lidava com as cobranças da torcida.
“Honrei a camisa nos treinamentos. Eu treinava demais, me dedicava, me entregava, tentava me concentrar ao máximo, as coisas naquele momento não aconteceram. Acho que são fases que todo atleta passa e que realmente ali no Cruzeiro eu não consegui render aquilo que eu vinha rendendo nos outros clubes. Mas eu agradeço coração tudo que o Cruzeiro fez por mim”.
Lucas só ficou no Cruzeiro em 2016. Diferentemente de seu colega Robinho, que praticou bom futebol e permaneceu na Toca durante quatro anos, até junho de 2020, com 25 gols e 32 assistências em 180 jogos.
“Eu e Robinho chegamos para o Brasileiro e Copa do Brasil. Começamos muito mal no Brasileiro, com o Paulo Bento, um dos primeiros treinadores portugueses no Brasil. Era um excelente treinador. Eu adorava os treinos dele. Era muito bons mesmo, mas existia aquela transição, precisaríamos de tempo. Penamos nas primeiras rodadas, bem próximos à zona de rebaixamento. Quando chega o Mano Menezes, ele estruturou o time, e fomos bem no segundo turno do Brasileiro – se não me engano, a quinta melhor campanha do segundo turno. No final de tudo, ficamos em 12º na Série A e chegamos à semifinal da Copa do Brasil, contra o Grêmio, que tinha um timaço. Eles eliminaram a gente e depois ganharam do Atlético”.
Lucas
Jogadores contratados pelo Cruzeiro em 2016 fizeram parte do time campeão da Copa do Brasil de 2017, casos do lateral-direito Ezequiel, do volante Lucas Romero, dos meias Robinho e Rafinha e dos atacantes Rafael Sobis e Ramón Ábila. Lucas acredita que teria melhorado o nível técnico se seguisse em BH.
“Foi um ano que começou aos trancos e barrancos, mas depois acertou. De repente, se eu tivesse ficado nesse em 2017, as coisas poderiam ter dado uma melhorada, pois fiquei pouco tempo no clube, se não me engano, de seis a oito meses. Pela maneira como eu treinava e me dedicava, se ficasse em 2017, poderia ter feito grandes jogos com a camisa do Cabuloso”.
Lucas foi referendado por Mano a Abel
Sabendo que não continuaria no Cruzeiro, Lucas recebeu uma mensagem animadora de Mano Menezes no churrasco de fim de ano na Toca da Raposa. O técnico celeste deu referências positivas do lateral-direito a Abel Braga, então comandante do Fluminense. Logo, o atleta que ainda pertencia ao Palmeiras assinou por empréstimo com o Tricolor Carioca em 2017.
“Para ver como eu estava me dedicando de corpo e alma, no churrasco de final do ano na Toca, o Mano Menezes me chama e fala: ‘Lucas, o Abel Braga me ligou pedindo referência de você. Você vai para o Fluminense, porque a minha indicação foi positiva. Você só não conseguiu jogar aqui, mas eu não tenho o que falar. E eu te indiquei pro Fluminense, falei da sua carreira. Você não conseguiu jogar aqui, isso acontece dentro do futebol”.
Lucas, em entrevista ao No Ataque
“Nessa hora, eu me senti emocionado, muito emocionado, de coração. Não consegui render, mas consegui mostrar que me dediquei, que me entreguei para o clube, que eu deixei tudo. Fiz minha parte, treinei, me dediquei e o treinador, que era o Mano Menezes, está me indicando para um outro treinador, o Abel Braga. Olha que legal. E era difícil ficar no Cruzeiro, entendo o clube, eu não estava rendendo, já era reserva no fim do ano. Então, eu acho que o clube tinha que fazer essa renovação mesmo”.
Reta final da carreira
Lucas foi titular no Fluminense em 2017. Em 56 jogos, marcou três gols e deu duas assistências. Na sequência da carreira, passou por Vitória, Botafogo-SP e Figueirense, onde decidiu se aposentar aos 32 anos, em 2020.
Desde então, o ex-lateral divide a rotina entre Florianópolis (SC) e Franca (SP) à frente de uma empresa do ramo de vestuários em sociedade com o irmão e um amigo, além de reservar parte do tempo às postagens descontraídas no Instagram.