CRUZEIRO

Cruzeiro vive conflito interno sobre investimento no feminino e pode ter desmanche do elenco

Diretoria celeste não tem intenção de aumentar a verba para a equipe feminina para a próxima temporada, e destaques podem sair

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O clima nos bastidores do futebol feminino do Cruzeiro não condiz com a temporada histórica que a equipe realizou. A campanha do vice-campeonato no Campeonato Brasileiro, a vaga inédita na Copa Libertadores de 2026 e a estreita relação com a torcida não convenceram a diretoria celeste de aumentar o investimento para manter uma equipe competitiva para o ano que vem. O resultado? Conflito interno sobre o tema e desmanche à vista.

Desentendimento sobre qual caminho seguir

As questões que envolvem o planejamento da próxima temporada foram noticiadas inicialmente pelo ge e confirmadas pelo No Ataque, que avançou na apuração e traz os detalhes da situação a seguir.

Conforme apurado pela reportagem, há um desentendimento sobre qual caminho seguir. O departamento de futebol feminino já previa a necessidade de aumentar os investimentos para manter um elenco competitivo. Por outro lado, a gestão geral da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), liderada pelo empresário Pedro Lourenço, defende a manutenção dos valores injetados na atual temporada.

Em meio ao imbróglio, jogadoras do atual elenco têm recebido propostas para deixar o Cruzeiro, o que pode enfraquecer o nível de competitividade da equipe. Segurá-las significaria um aumento da folha, já que os contratos estabelecidos preveem valorização salarial para o próximo ano. Nesse contexto de potencial aumento de gastos, a intenção de Pedro Lourenço é manter o investimento na casa dos R$ 15 milhões.

Desmanche à vista

A manutenção do valor pode causar um desmanche no elenco. Dezesseis atletas têm vínculo com a Raposa até o fim de 2025. Ou seja, desde junho, todas podem assinar pré-contrato com outro clube. No pacote, estão jogadoras titulares: são os casos da zagueira Paloma Maciel, da meio-campista Gaby Soares, da volante Bedoya e da atacante Marília.

Caso a diretoria não entenda que é necessário ampliar o investimento, dificilmente terá condições de segurar as atletas mencionadas, o que vai contra o desejo do departamento de futebol feminino de mantê-las. Isso porque todas já receberam melhores propostas salariais de outros clubes. 

A zagueira Isa Haas, que tem projeção internacional devido às apresentações no Cruzeiro e na Seleção Brasileira (é uma das cotadas para vestir a amarelinha na Copa do Mundo de 2027), assinou com o clube estrelado até o fim de 2028. A diretoria já negou propostas que a tornariam a maior venda da Raposa e possibilitariam fechar o ano sem déficit financeiro.

A meio-campista Pri Back, que também chegou ao Cruzeiro com vínculo até o fim deste ano, permanecerá para a próxima temporada, pois atingiu meta de minutagem estabelecida no primeiro acordo. Não porque recebeu melhores condições financeiras. 

Mais jogadoras em fim de contrato

Também têm contrato com o Cruzeiro até dezembro de 2025 a goleira Taty Amaro, que já tem acordo para reforçar o Santos no próximo ano, as zagueiras Camila Ambrózio, Gio Oliveira e Layza, a lateral-esquerda Clara, a lateral-direita Limpia Fretes, as volantes Zóio e Monse Ayala, a meio-campista Patrícia Sochor e as atacantes Fabíola Sandoval e Miriã.

O departamento de futebol feminino já havia estabelecido acordos verbais com jogadoras para que reforçassem o Cruzeiro em 2026. Caso não altere a rota, o clube não terá fôlego para concretizar novos vínculos.

O cenário ainda aflige a comissão técnica, que enfrenta os mesmos percalços. O contrato de Jonas Urias, comandante das Cabulosas desde setembro de 2023, também prevê valorização salarial para 2026, ano em que o vínculo se encerra. 

Foco no Mineiro?

Nesse cenário de indefinições, as Cabulosas reúnem forças para buscar o quarto título do Campeonato Mineiro Feminino. Líder, com seis pontos, a Raposa volta a campo neste sábado (4/10), quando recebe o Atlético na Arena Gregorão, em Contagem, às 15h, pela terceira rodada do Estadual.

Feitos do Cruzeiro em 2025

Conquistas desportivas e premiações

O Cruzeiro encerrou a fase de grupos do Campeonato Brasileiro na liderança, com 36 pontos de 45 possíveis. As Cabulosas só perderam um jogo, para o Corinthians.

No mata-mata, a Raposa avançou à semifinal pela primeira vez ao despachar o Bragantino. Depois, eliminou o Palmeiras e se classificou para a decisão, o que também deu ao clube vaga na próxima edição da Libertadores. Com o vice-campeonato da Série A1, a equipe belo-horizontina arrecadou R$ 1,5 milhão.

Antes, a participação na Supercopa – eliminação na semifinal para o Corinthians – havia rendido R$ 44 mil. A disputa da terceira fase da Copa do Brasil – outra queda diante do Timão – gerou R$ 40 mil.

Lucro com bilheteria

O Cruzeiro lucrou com bilheteria no Brasileiro pela primeira vez. Somados, os 11 jogos como mandante renderam ao clube estrelado R$ 444.677,63, segundo os borderôs disponibilizados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em levantamento realizado pelo No Ataque.

Recordes de público

Por duas vezes, a Raposa quebrou recorde de público do estado de Minas Gerais quando o assunto é futebol de clubes. Na volta da semifinal do Brasileiro, a derrota por 2 a 1 para o Palmeiras, 13.533 torcedores foram ao Independência, em Belo Horizonte. Depois, na ida da final, o empate por 2 a 2 com o Corinthians, o Cruzeiro arrastou 19.175 pessoas para o mesmo local.

Vendas de jogadoras

Em 2025, o departamento de futebol feminino do Cruzeiro realizou a primeira venda de sua história. Em março, a volante Rebeca, na época com 19 anos, transferiu-se ao Houston Dash, dos Estados Unidos, por cerca de R$ 1 milhão. O clube ainda permaneceu com 10% dos direitos econômicos da atleta.

Mais tarde, em setembro, outra negociação concretizada. Um dos pilares do Cruzeiro na temporada, a lateral-direita Isa Chagas, destaque pela polivalência, assinou com o PSG. A venda rendeu R$ 2 milhões livres aos cofres celestes.

Meta do departamento de futebol feminino

A meta do departamento de futebol feminino, exposta em outras oportunidades, é se tornar autossustentável até 2028, ano que sucede a Copa do Mundo Feminina. Para isso, brigar em alto nível, arrecadar com premiações e negociar atletas são fatores essenciais. Atrair patrocinadores – nove marcas atendem a equipe feminina – e gerar renda com bilheteria também.

Cruzeiro se pronuncia

Em contato com a reportagem, o Cruzeiro disse que a intenção é investir na próxima temporada valor semelhante àquele aplicado em 2025. Confira a nota:

“O Cruzeiro esclarece que não procede a informação sobre redução de investimento no futebol feminino para a próxima temporada. Diferentemente disto, o clube ressalta que o orçamento para a modalidade será similar ao destinado na temporada 2025, quando alcançou sua melhor colocação na história do Campeonato Brasileiro e classificou-se, de maneira inédita, para a Copa Libertadores.

No presente momento, o Cruzeiro tem como foco o desempenho esportivo na disputa do Campeonato Mineiro, torneio em que é o atual bicampeão, e também já atua no planejamento para a próxima temporada, avaliando individualmente as situações contratuais de cada atleta.

Com responsabilidade e compromisso, o Cruzeiro tem como meta continuar evoluindo no futebol feminino e contar com uma equipe competitiva, novamente, em 2026″.

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