Logo após a Copa do Mundo de 1994, conquistada pelo Brasil, o Cruzeiro vendeu Ronaldo, reserva da Seleção, ao PSV Eindhoven, da Holanda, por US$ 6 milhões. Aos 17 anos, o jovem encantou os torcedores celestes com a impressionante marca de 56 gols em 58 jogos. Era preciso, portanto, buscar um substituto que também fosse especialista em balançar a rede.
No Bahia, havia um atacante promissor. Aos 21 anos, Marcelo Ramos (que só incorporou o sobrenome no universo do futebol em 1998, por causa do xará Marcelo Djian) acumulava mais de 100 gols pelo Tricolor. A performance do atacante no Brasileirão de 1994, em que a equipe avançou às quartas de final e perdeu para o campeão Palmeiras, atraiu os olhares do Cruzeiro.
“Tinha 21 anos e já era considerado ídolo da torcida do Bahia. Ao término do campeonato, conseguimos ficar entre os oito primeiros. Enfrentamos o Palmeiras e fomos eliminados. Assim que termina o campeonato, recebi uma ligação do meu empresário, Antônio Gustavo, o Guga. O Cruzeiro estava interessado na minha contratação. O presidente Zezé Perrella assumiu o Cruzeiro, foi a Salvador e concretizou a compra”, relembrou Marcelo Ramos, em entrevista ao Cruzeiro Cast.
Marcelo jamais atribuiu a si o “peso” de substituir Ronaldo. Ele preferiu focar na própria evolução para cativar os corações dos cruzeirenses, sem, contudo, pensar que o Fenômeno seria esquecido.
“O Ronaldo saiu pós-Copa de 1994. E eu procurei manter a tranquilidade e ter a responsabilidade de honrar a camisa. Esse peso nunca me preocupou tanto. Sabia da minha capacidade. Obviamente, as características eram muito diferentes. Não vai ter nunca um jogador que faça o que o Ronaldo fez. É muito difícil. Mas eu sabia da capacidade de vencer aqui, como aconteceu”.
Marcelo Ramos
A virada de chave no Cruzeiro
No Campeonato Mineiro de 1995, vencido pelo Atlético, Marcelo fez seis gols. A “virada de chave” se deu a partir do Brasileirão, em que o Cruzeiro chegou às semifinais. O embate inesquecível ocorreu em 1º de outubro, contra o Botafogo, diante de 34 mil pessoas no Mineirão. Com três gols do Flecha Azul e dois de Paulinho McLaren, a Raposa ganhou por 5 a 3.
“Esse jogo foi a mudança de chave da minha relação com o torcedor e a imprensa. Já tínhamos um time forte e competitivo com o seu Ênio Andrade. Mas esse jogo eu só não fiz chover. Taticamente fui muito bem. Fisicamente, estava voando. Fiz dois gols logo no começo do jogo, o Botafogo vira para 3 a 2, e a gente retorna. Tínhamos uma sintonia muito grande ali na frente, eu, Roberto Gaúcho e Paulinho McLaren. Eu fiz três ou quatro gols, e o Paulinho fez dois – acabaram dando um gol para ele, o que foi muito bom também”.
Devido à atuação de gala, Marcelo recebeu a única convocação para a Seleção Brasileira. Ele ficou no banco de reservas na vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai, em 11 de outubro de 1995, na Arena Fonte Nova. Os dois gols foram justamente de Ronaldo.
“Depois desse jogo, eu chego ao vestiário e recebo os parabéns de todo mundo. Fui para casa e logo recebo a ligação do Benecy Queiroz, nosso supervisor, de que estava sendo convocado para a Seleção Brasileira principal. A única convocação que está marcada para a minha vida por um grande jogo e um grande campeonato”.
Marcelo Ramos
No Brasileirão de 1995, Marcelo Ramos marcou 14 gols. O Cruzeiro foi eliminado nas semifinais ao empatar duas vezes com o Botafogo, que viria a ser campeão em cima do Santos. O Glorioso levava vantagem em razão da campanha superior na primeira fase.
Multicampeão e sexto maior artilheiro
Marcelo representou o Cruzeiro em quatro passagens de 1995 a 2003 (somadas de forma contínua, duraram cinco anos e meio). Algumas fontes apontam 163 gols em 365 jogos do ex-centroavante, enquanto outras indicam 162 gols em 360 partidas. Independentemente da precisão do dado, ele é o sexto maior artilheiro de sempre e o segundo que mais levantou troféus.
O baiano natural de Salvador foi decisivo em dois dos principais títulos do clube mineiro. Na Copa do Brasil de 1996, fez gols nos dois jogos da final contra o Palmeiras – empate por 1 a 1, no Mineirão, e vitória por 2 a 1, no Palestra Itália. Na Libertadores de 1997, chegou ao time nos mata-matas, após breve passagem pelo PSV Eindhoven, e contabilizou quatro tentos – dois nas oitavas de final, contra o El Nacional (Equador), e dois nas semifinais, diante do Colo-Colo (Chile).
A lista com 14 taças é completada por Copa do Brasil (2003), Campeonato Brasileiro (2003), Recopa Sul-Americana (1998), Copa Ouro (1995), Copa Master (1995), Copa Sul-Minas (2001), Copa Centro-Oeste (1999), Campeonato Mineiro (1996, 1997, 1998 e 2003) e Copa dos Campeões Mineiros (1999).
‘Decisão tranquila’
Foi exatamente no ano de 2003, o mais vitorioso da história do Cruzeiro, que Marcelo Ramos encerrou o ciclo na Toca. Deu tempo de participar das competições e, desta forma, tornar-se campeão mineiro, da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro.
O ex-jogador ouviu do técnico Vanderlei Luxemburgo que seria uma peça importante no elenco, porém estaria abaixo dos titulares Deivid e Aristizábal. Assim, ao receber uma proposta do Sanfrecce Hiroshima, da segunda divisão do Japão, resolveu aceitar. De janeiro a maio daquele ano, o Flecha Azul tinha marcado quatro gols em 16 jogos.
“O Vanderlei foi muito direto comigo. Disse assim: ‘Marcelo, eu conto com você, vai agregar demais. Mas na minha cabeça estou trazendo o Deivid e o Aristizábal. Eles serão os meus titulares. Não foi essa questão de ficar no banco ou não, só que apareceu a situação de voltar ao Japão e eu aceitei. Imaginei que o ciclo no Cruzeiro estava se fechando. Já tinha conquistado tudo. Poderia dar oportunidades a outros para seguir”, disse o ex-jogador ao Cruzeiro Cast.
“Foi uma decisão tranquila, sem arrependimentos. O próprio Alex brinca que se eu tivesse continuado, chegaria perto dos 200 gols. Mas a minha história do Cruzeiro era pra ser assim. Aquele momento era de seguir a minha vida e sair da Toca. Minha missão estava cumprida. Por isso hoje estou contando essa história”.
Marcelo Ramos
Marcelo Ramos marcou mais de 400 gols
Nascido em 25 de junho de 1973, Marcelo Ramos pendurou as chuteiras em 2012, aos 39 anos. O ex-centroavante acumulou 450 gols em mais de 20 anos de carreira. O No Ataque cruzou os números divulgados pelos clubes com os do site Futebol 80.
- Cruzeiro – 162 gols
- Bahia – 128 gols*
- Santa Cruz – 46 gols
- PSV Eindhoven, da Holanda – 20 gols
- Athletico-PR – 17 gols
- Sanfreece Hiroshima, do Japão – 14 gols
- São Paulo – 13 gols
- Ipatinga – 10 gols
- Palmeiras – 10 gols
- Atlético Nacional, da Colômbia – 9 gols
- Nagoya Grampus, do Japão – 9 gols
- Madureira-RJ – 7 gols
- Corinthians – 2 gols
- Araxá-MG – 1 gol
- Itumbiara-GO – 1 gol
- Vitória – 1 gol
*O site Futebol 80 listou 445 gols de Marcelo Ramos, sendo 123 pelo Bahia; o próprio clube, no entanto, apresenta o número de 128 gols, fazendo a soma chegar a 450.
Números de Marcelo Ramos pelo Cruzeiro
- 1995 – 27 gols em 55 jogos
- 1996 – 31 gols em 40 jogos
- 1997 – 22 gols em 40 jogos
- 1998 – 27 gols em 72 jogos
- 1999 – 25 gols em 66 jogos
- 2000 – 4 gols em 10 jogos
- 2001 – 16 gols em 38 jogos
- 2002 – 6 gols em 23 jogos
- 2003 – 4 gols em 16 jogos
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