Ídolo do Cruzeiro, Tostão se manifestou a favor das críticas feitas pelo técnico da Raposa, Leonardo Jardim, aos problemas crônicos do futebol brasileiro. O desabafo do português ocorreu após o empate por 0 a 0 com o Palmeiras no último domingo (26/10), pela 30ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Tostão utilizou sua coluna no jornal Folha de S. Paulo para endossar o discurso do treinador. “Parabenizo o treinador do Cruzeiro, Leonardo Jardim, pelas duras críticas contra os péssimos gramados, as arbitragens e o calendário, que deve mudar no próximo ano. Abel Ferreira tem dito o mesmo há anos. A má-formação técnica dos árbitros atingiu níveis insuportáveis, agravada pelo comportamento belicoso e irresponsável dos jogadores durante as partidas. A maioria dos jogadores parece não orientar os atletas”, escreveu.
O craque, conhecido tanto por sua habilidade com a bola quanto pela qualidade de sua escrita, encerrou o artigo com uma reflexão sobre o que pode ser o futuro do futebol no país.
“Temo que no futuro a história conte que, no passado, havia um país do futebol que tinha um rei, Pelé, muitos craques e que jogava um futebol bonito e fascinante. O mundo parava para ver o Brasil jogar. Porém, por causa da incompetência, da desorganização e de outros tantos fatores, o futebol do país se tornou pior ou igual aos outros. O futuro não é destino. O futuro tem que ser construído”, finalizou.
Desabafo de Jardim
O técnico Leonardo Jardim fez um desabafo sobre o futebol brasileiro após o empate entre Cruzeiro e Palmeiras. Ele se disse frustrado com a organização do esporte no país, reclamou da atuação do árbitro Rafael Rodrigo Klein (RS) e afirmou que o zagueiro Fabrício Bruno não mereceu ser expulso.
“Eu entrei agora aqui e duas ou três pessoas me disseram: bem-vindo ao Brasil. Mas vocês sabem que estou tão frustrado. Eu como treinador só consigo interferir em algumas coisas, não é? Para os jogadores e treinar. E a alegria que eu tenho tido aqui no Brasil, com os torcedores, com o grupo fantástico que tenho no Cruzeiro, com toda essa gente. Depois, estou frustrado se vale a pena continuar, quando na realidade não somos nós que controlamos os jogos. E eu fico extremamente frustrado porque isso é uma balança, e o peso da frustração está quase igualando o peso da satisfação daquilo que eu já disse que vim para o Brasil para usufruir do jogo, para usufruir da emoção dos torcedores, desta paixão que as pessoas têm pelo futebol”, desabafou.
“Em relação ao jogo, acho que muitas coisas aconteceram. Não vale a pena relatar, vocês viram, desde o nosso Kaiki, que tem o lábio todo inchado e não houve paralisação de jogo. Qualquer lance na primeira parte, estava um jogador do adversário no chão, o árbitro parava o jogo e ia lá assistir. O Fabrício, acho que nem fez falta nenhuma, quem faz falta é o adversário, que roda, bate nas pernas dele. É a expulsão, a dualidade de critérios…”, acrescentou.
Visivelmente incomodado, Jardim encerrou a coletiva após a primeira pergunta. Antes de sair da sala de imprensa, ele elencou alguns fatores que merecem ser aperfeiçoados no futebol brasileiro e, mais uma vez, mostrou desânimo.
“Eu estava com o Gabriel, e o Gabriel perguntou-me se acho que o Brasil está no top 5 da minha experiência internacional. Eu disse que não. Eu não estou aqui para puxar o saco a ninguém. Enquanto um grupo de profissionais estiver sendo arbitrado ou avaliado dentro de campo por um conjunto de amadores, enquanto não houver uma organização dos gramados, enquanto não houver um sindicato dos jogadores forte para defender os interesses dos jogadores e do calendário, enquanto não houver essas coisas todas, não vamos entrar no top 5. Temos talento, temos emoção, temos os fãs mais espetaculares com os quais eu trabalhei, mas sinceramente não sei se tudo isto vale a pena”, finalizou o técnico.
