FUTEBOL MINEIRO

Cruzeiro: como foi a passagem de Tite pelo Atlético?

Em 2005, Tite foi aposta da diretoria do Atlético, mas iniciou campanha ruim que terminou com rebaixamento inédito à Série B

O novo técnico do Cruzeiro é Tite, ídolo do Corinthians e dono de longa passagem pela Seleção Brasileira (2016 a 2022). Esta será a primeira passagem do treinador pela Toca da Raposa, mas não a única em Belo Horizonte.

Em 2005, quando tinha 44 anos, Tite comandou o Atlético, arquirrival do Cruzeiro. Ele treinou o Galo em 21 jogos no ano que terminou com rebaixamento inédito, tendo somado apenas quatro vitórias.

Tite foi contratado pelo Atlético em 6 de abril daquele ano, com a missão de substituir Procópio Cardoso – que havia sido eliminado pela Raposa na semifinal do Campeonato Mineiro. No início do trabalho, o gaúcho falou até mesmo em levar o time alvinegro à Copa Libertadores de 2006, mas o que se viu dentro das quatro linhas foi bem distante do projetado.

O começo até teve sinais positivos, com quatro jogos de invencibilidade e classificação sobre o Ituano nas oitavas de final da Copa do Brasil. No entanto, logo depois desta sequência, o Galo emendou nove jogos sem vitórias, tendo sido eliminado do torneio mata-mata pelo Ceará nas quartas de final e registrado péssimo início na Série A do Campeonato Brasileiro.

Os números de Tite no Atlético

  • 21 jogos
  • 4 vitórias
  • 6 empates
  • 11 derrotas
  • 28,5% de aproveitamento

Tite enfrentou ambiente desafiador no Atlético

Naquela temporada, o Atlético enfrentava sérias dificuldades. Uma delas era o constante atraso de salários dos jogadores, como relatou o volante Walker ao UOL em 2022.

“O Tite esteve no Galo numa fase conturbada, porque os salários de todos os jogadores estavam atrasados. Nós éramos pais de família, precisávamos ter o que comer dentro de casa, e aí víamos uma falta de comprometimento do próprio clube para quitar essas dívidas. Sentíamos que o clube não estava nem aí e isso desinteressou muitos jogadores.”

Walker, ex-volante do Atlético

O ambiente interno era complexo, e Tite chegou a afastar seis atletas em meio à sequência de maus resultados. Em junho daquele ano, o comandante chegou a ter desavença pública com o ex-volante Amaral, que fez história por Palmeiras, Corinthians e Vasco antes de defender o Galo.

Durante um treinamento na Cidade do Galo, em Vespasiano, Amaral demonstrou descontentamento com a ida ao banco de reservas e deu chutão na bola para o alto depois de um cruzamento. Aos gritos, Tite se irritou e expulsou um dos principais nomes do elenco de campo: “Displicência aqui não”, conforme relataram veículos de imprensa à época.

A diretoria alvinegra até apostou em reforços experientes no meio da temporada, como os atacantes Luis Mário e Marques, além do lateral-direito Evanilson, mas nada parecia resolver os problemas. À medida que os resultados ruins se intensificavam, crescia a pressão sobre o treinador gaúcho.

A gota d’água para Tite no Atlético

Tite chegou a pedir demissão do Atlético em 30 de julho de 2005, depois de derrota para o Goiás, fora de casa, por 3 a 1. A gestão alvinegra, no entanto, entendeu naquele momento que a reação poderia começar dias depois, em confronto contra o lanterna Paysandu, e convenceu o profissional a permanecer.

Em 3 de agosto, o duelo contra o Paysandu teve direito até mesmo a sal grosso nas escadas de acesso ao gramado do Mineirão. Não foi suficiente: o Galo empatou com o pior time da competição, por 2 a 2, e o pedido de desligamento que novamente partiu do gaúcho foi, enfim, aceito. “Adeus, Tite”, ouviu Adenor das arquibancadas do Gigante da Pampulha naquela noite.

Protesto da torcida do Atlético no Mineirão contra o técnico Tite(foto: Jorge Gontijo/Estado de Minas – 03/08/2005)

O Atlético ainda viria a ser comandado por Marco Aurélio e Lori Sandri em 2005, mas não conseguiu evitar o inédito rebaixamento. O clube mineiro foi o 20º colocado entre 22 times naquele Brasileirão, com campanha que teve as marcas digitais de Tite em um dos piores trabalhos da carreira do multicampeão.

O arrependimento de Tite

A sombra do trabalho ruim no Atlético parece perseguir Tite até os dias de hoje. Em diversas oportunidades ao longo da carreira, o técnico reforçou a tristeza pelos resultados que teve no Galo.

“Único trabalho que eu gostaria de ter feito e que eu fracassei. (…) Te passo meu lado humano de senso de dívida. Não de caráter, mas de resultado”, chegou a declarar em 2022.

“Tenho um respeito muito grande e entendo toda chateação. Gostaria de ter feito um trabalho melhor. É humano, mas tenho que compreender que, às vezes, não dá, que não consegui. Fica a lástima, mas também o respeito que tenho pelo torcedor do Atlético e pelo clube. Quando penso onde eu gostaria de reformatar e reconduzir um trabalho: só no Atlético”, avaliou em outra ocasião naquele ano.

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