
O Flamengo faturou R$ 1,287 bilhão em 2024, recorde no futebol brasileiro, acima de Palmeiras (R$ 1,128 bilhão) e Corinthians (R$ 1,12 bilhão). Houve uma queda de 9% em relação a 2023, quando o Rubro-Negro acumulou R$ 1,413 bilhão. Mesmo assim, os números são expressivos, conforme mostrou o Relatório Convocados, publicado neste mês pelo economista Cesar Grafietti.
O documento de mais de 250 páginas detalha as finanças dos clubes da Série A em 2024. Somente com direitos de transmissão – que englobam as cotas fixas e o valor atrelado ao desempenho esportivo -, o Flamengo embolsou R$ 453,5 milhões – alta de 2% em comparção aos R$ 442,7 milhões do ano anterior. Essa receita teve peso de 35% no montante geral do clube carioca.
Dos mais de R$ 453 milhões recebidos pelo Flamengo em direitos de TV, R$ 178 milhões foram pela performance nos torneios. O título da Copa do Brasil rendeu R$ 93 milhões, enquanto a ida às quartas de final da Copa Libertadores proporcionou R$ 42 milhões. Já a terceira posição no Campeonato Brasileiro de 2024 gerou R$ 43 milhões ao Urubu.
Somente com TV, o Flamengo superou os ganhos totais de nove adversários no Brasileirão de 2024: Vasco – R$ 408 milhões; Cruzeiro – R$ 372 milhões; Bahia – R$ 298 milhões; Fortaleza – R$ 269 milhões; Cuiabá – R$ 224 milhões; Vitória – R$ 186 milhões; Juventude – R$ 135 milhões; Atlético-GO – R$ 110 milhões; e Criciúma – R$ 101 milhões.
Somando direitos de TV e patrocínio, o Rubro-Negro chegou a mais de R$ 871 milhões, ultrapassando o orçamento total de São Paulo – R$ 732 milhões; Fluminense – R$ 684 milhões; Atlético – R$ 607 milhões; Botafogo – R$ 540 milhões; Internacional – R$ 517 milhões; Bragantino – R$ 504 milhões; Athletico-PR – R$ 497 milhões; e Grêmio – R$ 490 milhões.
Foi um bom ano, mas inferior aos anteriores, seja porque negociou menos atletas, seja porque aumentou investimentos e dívidas, consumindo caixa num projeto de grande porte. Segue sendo equilibrado, mas atenção é sempre bom.
Cesar Grafietti sobre as receitas do Flamengo
As receitas do Flamengo em 2024
- Direitos de TV: R$ 453,5 milhões
- Publicidade e patrocínio: R$ 417,7 milhões
- Transação de atletas: R$ 76,3 milhões
- Bilheteria/sócio-torcedor: R$ 243,6 milhões
- Social: R$ 25,3 milhões
- Outros: R$ 70,2 milhões
Total: R$ 1,287 bilhão
E o peso da torcida?

Diversas pesquisas sobre o tamanho das torcidas apontam a do Flamengo como a maior do Brasil. Estima-se que 20% da população do país – cerca de 42 milhões de pessoas – tenham o Rubro-Negro Carioca como clube do coração. O time costuma encher não apenas o Maracanã, no Rio de Janeiro, mas também estádios nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O Relatório Convocados elaborou o ranking de receitas com “matchday” (dia de jogo). O Flamengo movimentou R$ 244 milhões – R$ 78 milhões com os sócios, R$ 118 milhões em bilheteria e R$ 48 milhões de operação de estádio. O Corinthians aparece em segundo, com R$ 165 milhões (R$ 94 milhões em sócios e R$ 71 milhões de ingressos avulsos).
Receitas de ‘matchday’ em 2024
- Flamengo: R$ 244 milhões
- Corinthians: R$ 165 milhões
- São Paulo: R$ 148 milhões
- Palmeiras: R$ 127 milhões
- Atlético: R$ 113 milhões
- Grêmio: R$ 111 milhões
- Internacional: R$ 105 milhões
- Fluminense: R$ 99 milhões
- Athletico-PR: R$ 85 milhões
- Vasco: R$ 84 milhões
- Cruzeiro: R$ 84 milhões
- Bahia: R$ 83 milhões
- Botafogo: R$ 75 milhões
- Fortaleza: R$ 65 milhões
- Criciúma: R$ 23 milhões
- Cuiabá: R$ 15 milhões
- Atlético-GO: R$ 14 milhões
- Bragantino: R$ 13 milhões
- Vitória: R$ 10 milhões
- Juventude: R$ 4 milhões
O sucesso esportivo do Flamengo, a valorização da marca da instituição e o apoio dos torcedores viabilizaram a manutenção de um elenco qualificado, sem a necessidade de abrir mão de jogadores. Prova disso é que o dinheiro oriundo de transferências de atletas, visto como receita não recorrente, fechou em “apenas” R$ 76 milhões em 2024. Por outro lado, o clube se tornou um comprador “agressivo”, com R$ 413 milhões de investimentos no elenco profissional e nas categorias de base.
Analisamos o futebol sob duas óticas. Em receitas totais, consideramos tudo que é operacional, ou seja, tudo que foi gerado no dia a dia do clube. Na receita recorrente, excluímos as receitas com negociação de atletas, pois trata-se de uma receita muito errática. Para fins de cálculos desconsideramos todas as receitas que não foram obtidas através da operação natural do clube, como perdão de dívidas, reavaliação de ativos e outras.
Cesar Grafietti
Dívida do Flamengo
Em seu balanço financeiro, o Flamengo informa ter aumentado sua dívida de R$ 48 milhões, em 2023, para R$ 327 milhões, em 2024. A conta diverge das cifras do relatório elaborado por Grafietti: de R$ 391 milhões para R$ 666 milhões.
De acordo com o especialista, um erro comum cometido pelas agremiações é calcular a dívida como “passivo circulante menos ativo circulante”. “Tecnicamente, isto é uma forma de liquidez, e no caso de um clube que tem mais passivos que ativos, significa que está mais próximo da insolvência, especialmente se o fluxo de caixa é negativo”.
Outra falha é deduzir os valores a receber de transferência de atletas. “Na Europa, com regras rígidas contra quem não paga, funciona. No Brasil, onde clubes contratam, não pagam e ainda conseguem prazos longos, é um erro considerar o ativo como redutor de dívida”, escreveu Grafietti.
Assim, a fórmula aplicada para chegar ao valor que o Flamengo precisará arcar é:
- (+) Dívida com fornecedores: R$ 76,4 milhões
- (+) Contas a pagar a clubes: R$ 369,2 milhões
- (+) Adiantamentos de TV: R$ 56,7 milhões
- (+) Adiantamentos de patrocínio e licenciamento: R$ 39,8 milhões
- (+) Adiantamentos dos camarotes: R$ 9,1 milhões
- (+) Salários, encargos e impostos: R$ 41,6 milhões
- (+) Impostos parcelados e acordos: R$ 165 milhões
- (-) Disponibilidades e aplicações financeiras: R$ 91,8 milhões
Total: R$ 666 milhões
Conquistas recentes do clube
A mudança de patamar do Flamengo ocorreu a partir da gestão de Eduardo Bandeira de Mello, de 2013 a 2018. O então presidente se preocupou em reduzir a dívida da agremiação, ainda que isso significasse um período sem brigar por títulos.
A medida abriu terreno para que o sucessor na presidência, Rodolfo Landim, herdasse um clube com as contas em dia e pudesse efetuar os investimentos em jogadores de renome. De 2019 para cá, o Mengão conquistou 15 títulos, entre os quais duas Libertadores, dois Brasileiros e duas Copas do Brasil.
Personagens fundamentais dessa fase mágica foram contratados graças ao poder aquisitivo do clube. O Flamengo pagou 18 milhões de euros pela contratação de Arrascaeta (Cruzeiro), em janeiro de 2019; 17 milhões de euros por Gabigol (Inter de Milão), em janeiro de 2020; e 14 milhões de euros por Pedro (Fiorentina), em dezembro de 2020.

O Rubro-Negro ainda comprou o volante Gerson em duas ocasiões: a primeira por 13 milhões de euros da Roma, da Itália, em julho de 2019; e a segunda por 15 milhões de euros do Olympique de Marselha, da França, em dezembro de 2022.
Títulos desde 2019
- Copa Libertadores: 2019 e 2022
- Recopa Sul-Americana: 2020
- Campeonato Brasileiro: 2019 e 2020
- Copa do Brasil: 2022 e 2024
- Supercopa do Brasil: 2020, 2021 e 2025
- Campeonato Carioca: 2019, 2020, 2021, 2024 e 2025
Flamengo em 2025
Com a alta arrecadação, a tendência é que o time carioca siga disputando os principais títulos do futebol brasileiro e sul-americano. Nesta temporada, a prioridade é voltar a conquistar o Campeonato Brasileiro, troféu que o Flamengo não levanta desde 2020. E a campanha começou bem – na 12ª rodada, o rubro-negro está na liderança, com o melhor ataque e a melhor defesa da competição.
Na Copa Libertadores, contudo, o desempenho até então é abaixo do esperado. O Urubu tropeçou duas vezes contra o estreante Central Córdoba na fase de grupos e passou perto de não avançar às oitavas de final, mas conseguiu o segundo lugar do Grupo C. No mata-mata, vai enfrentar o Internacional e ficou do lado considerado mais “fraco” da chave, já que só pode enfrentar os demais favoritos – Palmeiras, Botafogo e River Plate – na final.
A busca pelo hexacampeonato da Copa do Brasil está no terceiro lugar da lista de prioridades do Flamengo para 2025. A promessa da gestão do presidente Luiz Eduardo Baptista é não poupar no Brasileiro e na Libertadores para o mata-mata nacional, como foi feito nos últimos anos.
Após avançar com tranquilidade sobre o Botafogo-PB, o rubro-negro enfrentará o Atlético, o qual derrotou na última final do torneio, nas oitavas da Copa do Brasil. Os duelos serão entre o fim de julho e o início de agosto.