A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, se manifestou publicamente sobre o episódio machista envolvendo o técnico do clube, Abel Ferreira em agosto. Em resposta a pergunta feita pela repórter Alinne Fanelli durante entrevista coletiva, após a goleada sobre o Cuiabá (5 a 0), o treinador disse que devia satisfação somente a três mulheres: à mãe e à esposa dele, além da presidente do clube.
A reação de Abel surpreendeu, já que a repórter apenas pediu uma atualização sobre a situação do lateral Mayke, que deixara a partida no primeiro tempo, lesionado, e foi flagrado chorando no banco de reservas.
Em entrevista ao portal Uol, Leila Pereira procurou dissociar as declarações de Abel de machismo. Ela usou a própria ascensão na carreira, tanto empresarial quanto no futebol, como argumento.
“Eu nunca liguei com esse negócio de ‘você é mulher então tem mais dificuldade’. Não sei se é porque sempre estive em uma empresa do meu marido, muito rica, pode ser com que isso não tenha me feito perceber essa dificuldade que as mulheres têm. Sempre lidei com muito homem no mercado corporativo e financeiro. Sempre lidei de igual para igual, com muita personalidade. Eu me tornei conselheira e presidente do Palmeiras, fui eleita pela grande maioria de votos de homem”, afirmou.
Para Leila, o fato de ela ser presidente de um clube de futebol é sinal de que o Palmeiras não é machista: “Não posso dizer que meu clube foi machista porque eles elegeram pela primeira vez na história uma mulher presidente desse clube gigante, de tradição italiana, machista, mas eu não me coloco nessa posição”.
A dirigente, que já chegou a reunir apenas repórteres femininas durante uma entrevista coletiva para reafirmar a necessidade de igualdade no meio do futebol, disse se irritar “profundamente quando uma mulher se vitimiza”.
“Eu me coloco de igual pra igual, eles não se sentem constrangidos comigo e eu não me sinto constrangido com eles. Se eles são grosseiros comigo, eu não deixo barato, não me vitimizo. Me irrita profundamente quando a mulher se vitimiza”, comentou.
Na época, o próprio técnico se manifestou, pedindo desculpas e lamentando “tudo o que aconteceu”.
Fala machista de Abel Ferreira
Ela citou, então, especificamente, a repórter que recebeu a resposta machista de Abel Ferreira para dizer que não quer carregar o “fardo” de se manifestar em casos envolvendo mulheres: “Vou te dar um exemplo: no caso da Aline Fanelli. Naquele episódio, veio uma enxurrada de pessoas: ‘Leila, você tem que se manifestar’. Eu vou me manifestar quando eu achar que eu deva me manifestar. Toda hora que acontecer algo com uma mulher, a Leila Presidente, que é presidente do Palmeiras, tem que manifestar? Não é assim. Daqui a pouco é um fardo pra mim ser mulher em posição de destaque”.
A dirigente afirmou não concordar, por vezes, certos posicionamentos de mulheres. E saiu em defesa do treinador do Palmeiras: “Naquele caso, não achei que ele foi machista. É difícil pra mim porque eu conheço o Abel, estou diariamente com ele. É diferente de pessoas que não convivem com ele diariamente. Eu não tenho dúvida nenhuma se fosse um homem perguntando aquilo, ele falaria a mesma coisa. O azar foi que era uma mulher”.
Leila até entende que Abel errou, mas não o acusa de ter tido uma atitude machista: “Ele errou, claro. Mas o Abel não é machista, então eu não vou me indispor com o meu treinador. Eu conhecendo como ele trata as mulheres, como ele é no dia a dia, eu não vou fazer isso. Achei que não deveria falar absolutamente nada’
Eu, no lugar do jornalista, qualquer homem que me fale uma coisa que eu não goste, no momento eu falaria: ‘olha só, estou aqui trabalhando, e você também. Estou fazendo uma pergunta, singela. Por favor, não seja grosseiro comigo’
Leila Pereira, presidente do Palmeiras
A dirigente palmeirense também disse ter conversado com Alinne Fanelli recentemente: “Ela não é uma simples jornalista. Ela é uma profissional. Eu falei isso pra ela no último jogo. Se toda vez que eu achar que fui agredida verbalmente vou dizer ‘coitada de mim’, ‘mulherada do mundo inteiro, me protejam’. Não. Vai pra cima, fala. Educadamente. Qualquer homem que escutasse isso pediria desculpa. A presidente do Palmeiras vai falar quando achar que deve. Mulheres ricas também sofrem abuso, violência. O mérito nunca é nosso, é dos outros que ajudaram. Cheguei nessa altura da minha vida.
Por fim, na entrevista ao Uol, Leila Pereira falou que é preciso cuidado para a luta feminista não virar “histerismo”: “Nós precisamos tomar muito cuidado para não tornar um ‘histerismo’. Não fico pedindo socorro pra ninguém, e acho que a mulher não tem que agir dessa forma, porque assim não vamos acabar com isso nunca. Se todas nós nos posicionarmos de maneira firme, sem esperar uma explosão do mundo para se defender e eu ficar ‘olha só o que ele fez comigo’. Nós não precisamos”.
Não somos sexo frágil, enquanto não colocarmos isso na cabeça. Uma sofre, isso é bacana, porque dá publicidade. Mas a vítima tem que se ajudar. Meu filho, você me respeita. Uma jornalista com microfone na mão, olha o poder que essa mulher tem”
Leila Pereira, presidente do Palmeiras