A pancadaria generalizada que maculou o evento Spaten Fight Night 2, no último sábado (28/9), após a luta entre Acelino Popó Freitas e Wanderlei Silva, foi classificada por especialistas como um episódio isolado no universo dos esportes de combate.
Em debate no Podcast do Carlini, do Portal Uai, os renomados treinadores Marcelo Richard (Sanda e MMA) e Joel Lage (Boxe) isentaram parcialmente os lutadores e apontaram os córneres das equipes, que invadiram o ringue do evento, como responsáveis pela violência. Durante a conversa, eles lamentaram o grave prejuízo à imagem das artes marciais.
Um ‘show de horrores’
A cena de caos transmitida ao vivo para todo o Brasil foi recebida com indignação por quem dedica a vida a ensinar os valores das artes marciais.
Com mais de 40 anos dedicados às artes marciais, sendo 19 deles como mestre e treinador, Marcelo Richard mantém um trabalho de base com jovens no CT Templo da Luta, em Belo Horizonte. No Podcast do Carlini, ele destacou o impacto negativo da briga generalizada na formação de novos atletas.
“Era para ser entretenimento, que pudesse levar coisas boas para quem estava assistindo. E no final de tudo, acabou com aquele show de horrores”, lamentou.
“Fica meio complicado você depois explicar para a criança e o adolescente que aquilo ali não condiz com o que a gente passa. Arte marcial é disciplina e respeito. Foi o que faltou no evento no final da luta”.
Mestre Marcelo Richard, treinador de Sanda e MMA
A culpa dos córneres
O consenso entre os analistas no programa foi claro: enquanto Popó e Wanderlei Silva se mantiveram relativamente controlados após o início da confusão, foram suas equipes que transformaram uma disputa esportiva em uma briga generalizada. A atitude dos córneres, que deveriam apaziguar os ânimos, foi o estopim da violência.
“Tudo bem você entrar lá para comemorar com seu atleta, é um momento de euforia. Agora, você fazer esse tipo de entrada ameaçando a outra equipe, jogando palavras de ofensas que pudessem promover a violência, eu acho que está totalmente errado”, afirmou Marcelo Richard.
Nomes como Fabrício Werdum e André Dida, referências no esporte e presentes nos córneres, foram criticados pelo envolvimento direto na confusão. Para os especialistas, a responsabilidade de atletas e treinadores com essa envergadura é muito maior.
“São dois lutadores que têm o respeito nacional. Deixaram uma marca muito triste na história deles, ao meu ver”, completou Richard.
‘A sociedade gostou da baixaria’
Já o treinador Joel Lage, responsável há 20 anos pelo projeto social Boxe Velha Guarda, também na capital mineira, trouxe uma reflexão sobre o comportamento de diversas pessoas que se manifestaram nas redes sociais sobre o conflito no Spaten Fight Night. Ele ressaltou que a briga, por mais prejudicial que tenha sido para o esporte, agradou parte da audiência e gerou engajamento.
“Para mim, aquilo ali foi lamentável. Mas, infelizmente, para alguns, é o que muitos gostam: a baixaria. A gente falar que ninguém no Brasil gostou, aí a gente tá sendo um pouco hipócrita, porque realmente chamou atenção e um lado da sociedade gostou, sim”.
Joel Lage, treinador de boxe
Essa dualidade, segundo Lage, é perigosa. Enquanto a violência vende e atrai olhares, ela destrói décadas de trabalho para construir uma imagem de respeito e disciplina para o esporte, afastando patrocinadores sérios e, principalmente, minando o trabalho de formação de caráter realizado em centenas de academias pelo país.