LUTAS

Após briga em Popó x Wanderlei, mestre critica lutas de boxe com influencers e atletas de MMA: ‘Nunca vai dar certo’

Referência do boxe rechaça formato de eventos que mistura atletas de modalidades distintas e celebridades

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Joel Lage, referência no boxe em Minas Gerais, foi categórico ao afirmar que é “totalmente contra” lutas da nobre arte entre atletas de modalidades diferentes ou celebridades. Segundo o treinador, o formato incentiva a rivalidade pessoal em vez do esporte.

Em debate no Podcast do Carlini, do Portal Uai, Lage ressaltou que a briga generalizada envolvendo as equipes de Popó e Wanderlei Silva, no Spaten Fight Night 2, foi consequência de um modelo que prioriza o “show” sobre a competição.

A pancadaria que encerrou o evento do último sábado (27/9) não foi, para alguns especialistas, uma surpresa, mas sim o resultado esperado de um formato perigoso. Joel Lage, responsável há 20 anos pelo projeto social Boxe Velha Guarda, em Belo Horizonte, criticou duramente a premissa de colocar lutadores de origens distintas, como Popó (boxe) e Wanderlei Silva (MMA), frente a frente.

“Foi o primeiro comentário que eu coloquei nas redes sociais: sou totalmente contra esse tipo de evento com lutadores de MMA contra boxer. Isso não vai dar certo”, observou.

Seguindo o mesmo pensamento, o mestre Marcelo Richard, treinador de Sanda e MMA, resaltou que a incompatibilidade técnica entre os lutadores gera frustração e pode levar ao descontrole.

“A gente sabe que a especialidade do Wanderlei Silva não é o boxe. Ele estava totalmente fora da praia dele”, comentou.

A crítica de Lage se estende às lutas envolvendo celebridades e influenciadores, um modelo que tem se popularizado. “Tem uma briga feia lá fora e vai resolver no ringue. Pô, é um esporte, não é um lugar para resolver brigas pessoais. Então, está indo no caminho muito errado”, sentenciou.

Ricardo Carlini, Ailton do Vale, Marcelo Richard e Joel Lage debatem briga generalizada após luta Popó x Wand

Do ‘trash talk’ ao gatilho da violência

Para os treinadores, a promoção desses eventos muitas vezes já planta a semente do confronto. A rivalidade é exacerbada de forma artificial, transformando o que deveria ser marketing em um convite à animosidade real.

“Isso já vem desde a pesagem, com ofensas. A gente sabe que muita gente acha que é isso que promove a luta”, analisou Marcelo Richard. Ele contrapõe essa visão com o que acredita ser a verdadeira essência do esporte. “Eu acho que o que promove a luta é uma luta bem feita, uma luta bonita, onde todo mundo fala: ‘Pô, quero acompanhar a próxima luta desse cara'”.

Segundo Richard, alguns organizadores chegam a instruir os atletas a criarem confusão para gerar engajamento. Essa cultura do “trash talk” obrigatório, quando aplicada a rivalidades já existentes ou a atletas sem o preparo para separar o personagem do profissional, torna-se um “gatilho para acabar acontecendo um episódio” como o do Spaten Fight Night.

O contraste: a cena que a briga ofuscou

Horas antes da confusão entre as equipes de Popó e Wanderlei Silva, o mesmo ringue foi palco de uma demonstração do mais puro espírito esportivo. Após uma luta intensa, os atletas Hebert Conceição e Yamaguchi Falcão protagonizaram uma cena que representa a verdadeira arte marcial.

“Os dois ajoelharam, um de frente pro outro”, relembrou Ricardo Carlini, apresentador do podcast. O áudio da transmissão captou a fala de um lutador para o outro: “Eu te respeito, você é um pai de família. Admiro você. Isso aqui nós somos profissionais, nós lutamos”.

Para Marcelo Richard, essa cena, que foi completamente ofuscada pela pancadaria, é o que deveria ter ficado como a imagem do evento. “É aquilo que eleva o espírito esportivo, o espírito marcial, que é o que a gente preza. São essas atitudes que fazem as pessoas terem a visão da luta como uma coisa que vai agregar”.

Assista ao podcast na íntegra

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