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‘Tenho potencial para ser campeã olímpica’, diz nova sensação brasileira após 2025 perfeito

Campeã no Mundial de Taekwondo em outubro, Maria Clara Pacheco, de 22 anos, foi entrevistada pelo Olimpicast, videocast do No Ataque

O ouro no Mundial de Taekwondo conquistado por Maria Clara Pacheco – Brasil só havia subido no lugar mais alto do pódio da competição em 2005, com Natália Falavigna – em 24 de outubro não foi construído de um dia para outro. A história da atleta número 1 do ranking mundial e olímpico na categoria até 57kg começou em São Vicente, no litoral de São Paulo, por meio de uma série adolescente, passou por uma frustração nos Jogos de Paris 2024 e alcançou o ápice com o principal título de um 2025 perfeito. Porém, ela ainda não se vê ainda no auge e deixa claro: “Tenho potencial para ser campeã olímpica”. 

Nova sensação do esporte brasileiro, Clara, como prefere ser chamada, foi a terceira entrevistada do Olimpicast, videocast do No Ataque com personagens conectados com os Jogos Olímpicos.

A conversa com a taekwondista campeã mundial, que está disponível na íntegra no Spotify e YouTube, passou por toda a vida da paulista de 22 anos, desde os primeiros contatos com o esporte. Naquele momento, ela só “queria bater em alguém”, brinca.

Série fez Clara buscar taekwondo

Nascida em Santos em 16 de julho de 2003, mas residente em um pequeno bairro de São Vicente desde os primeiros dias de vida, Maria Clara Pacheco iniciou a trajetória em diferentes esportes aos 5 anos e só foi descobrir o taekwondo aos 11 e com uma influência curiosa.

Ao assistir à série Os Guerreiros Wasabi (do original Kickin’ It), da Disney, surgiu o interesse em fazer karatê como os protagonistas, e a futura campeã mundial procurou, junto da mãe, um projeto social em São Vicente que os atletas usavam vestes semelhantes. Porém, o esporte em questão era o taekwondo. 

“Eu fazia esportes diferentes e decidi fazer luta, uma arte marcial. Até fazia capoeira, mas não tinha contato físico, não encostava, e eu queria bater em alguém. Assisti a uma série que passava no Disney XD, que era a um grupinho de adolescentes da minha idade que faziam karatê. Eu gostei e falei: ‘Quero fazer karatê ou alguma outra coisa parecida, para que eu chute as pessoas. Eu quero fazer isso’”, iniciou Clara. 

“Minha mãe costumava ver um pessoal passando com uma ‘roupinha branca’ que era um dobok, que é a roupa que uso hoje, mas achávamos que era um kimono de karatê e seguimos eles até a academia onde treinavam”, continua a nova campeã mundial.

“Lá, encontramos um projeto social com aulas de taekwondo, e até perguntei se era karatê, mas não era. Só que o mestre me falou para fazer uma aula experimental para ver se você gostava. Gostei e comecei. E o resto é história”, disse a jovem, que conquistaria o mundo 12 anos depois.

O mundo do taekwondo descobre Clara 

Os primeiros passos de Clara na modalidade foram dados no projeto social em São Vicente, mas ganharam capítulos internacionais rapidamente. Em 2017, com 14 anos, ingressou na Seleção Brasileira Cadete e conseguiu vaga em um Mundial da categoria, em Sharm-el-Sheikh, no Egito.

Para custear a primeira viagem para fora do Brasil da família – que não havia nem saído do estado de São Paulo -, a mãe fez rifa, promoveu vaquinha e virou noites pintando panos de prato para vender. E a consequência da viagem da dupla foi uma medalha de bronze inédita para o Brasil. 

A ida ao Mundial de Taekwondo Cadete na África aos 14 anos e o terceiro lugar foram um “divisor de águas” na carreira de Maria Clara Pacheco. Antes do bronze no Egito, não tinha nem dimensão do potencial e do que poderia ocorrer no futuro.

Mas a conquista pela Seleção mudou a adolescente de patamar, fez com que começasse a receber bolsa-atleta e compreender que seria uma atleta: “Foi aí que tive dimensão do que era o esporte de alto rendimento e decidi que queria aquilo ali para minha vida”.

Os anos seguintes da promessa do esporte brasileiro foram bons. Inclusive, Clara estreou no Mundial de Taekwondo entre adultos em 2023 e logo conquistou a medalha de bronze. Já no Pan-Americano de Santiago, no mesmo ano, ela foi prata na disputa até 57kg e ficou em terceiro junto da equipe brasileira. No entanto, a temporada seguinte ficou marcada por uma frustração para Maria Clara Pacheco. 

Frustração e reviravolta após Paris 2024

A atleta entrou nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 entre as favoritas ao pódio. Nas quartas de final, enfrentou a chinesa Luo Zongshi e até abriu vantagem, mas sofreu a virada e nem sequer disputou medalha na estreia olímpica. Esse resultado frustrante levou Clara a promover uma mudança bem significativa. 

Ela rompeu com a comissão técnica e iniciou uma parceria importante com o namorado José Carlos Figueiredo Coelho Júnior, taekwondista que se aposentou no ano passado justamente para mudar de cargo.

A pedido de Maria Clara Pacheco, ele deixou a carreira de atleta, tornou-se técnico e fundou a Team One, que também é a equipe de outros atletas da Seleção Brasileira de Taekwondo. E o impacto dessa mudança foi imediato. 

Nos meses seguintes à Olimpíada de Paris, ainda em 2024, Maria Clara Pacheco venceu o Aberto da Holanda e ficou com o bronze no Grand Slam de Wuxi, na China.

E o melhor estava reservado para 2025, que tem sido um ano absolutamente perfeito para ela: venceu todas as lutas, colocou a medalha de ouro no peito nas nove competições disputadas e atingiu o ápice da carreira. Ao menos, até esse momento. 

Clara foi campeã de torneios desde o início do ano, passando por níveis universitários, como a Universíade, e pelas disputas mais importantes do profissional, como duas edições de Grand Prix e o Mundial.

Em 24 de outubro, ela bateu a coreana Yu-Jin Kim, que é a atual campeã olímpica, e colocou o Brasil no lugar mais alto do pódio da mais importante competição de taekwondo do ano. Já nessa quinta-feira (6/11), na Copa do Mundo por equipes, a atleta e os companheiros da Seleção conquistaram mais um ouro.

Sonho do ouro olímpico

E esse ano perfeito a proporcionou sensações de que pode ir além. Ainda é cedo, mas Clara não esconde que a meta é mesmo chegar ao ápice em 2028, durante os Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos Estados Unidos.

“Esse título mundial não foi conquistado há uma semana atrás, mas sim durante todo esse ano de mudança e tudo. Eu fui me sentindo a campeã mundial, a melhor do mundo, ao longo do ano. Conforme eu ganhei o primeiro Grand Prix, venci a algoz da Olimpíada, me senti melhor, que evoluí. Depois, eu ganhei da campeã olímpica, e isso já me deu mais confiança. Eu ganhei da campeã olímpica, então eu tenho potencial para ser a próxima campeã olímpica”, disse Maria Clara Pacheco.

“Fui sentindo isso ao longo das competições e das conquistas ao longo do ano. Então, quando chego no Mundial, eu não tive essa sensação de que eu não era nada. Eu senti isso já ao longo de todas as conquistas e os títulos que tivemos ao longo do ano. Acredito que essa ficha não vai cair, mas me deixa muito feliz de saber que eu estou no caminho certo”, concluiu. 

O futuro ainda é incerto. O ciclo até os Jogos Olímpicos de Los Angeles 2028 é longo. Mas ela crê no próprio potencial, e os resultados deixam claro: Maria Clara Pacheco, ou melhor, Clara, é um nome que o Brasil ainda acompanhará em muitas façanhas nos próximos anos.

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