A boxeadora argelina Imane Khelif, de 25 anos, recebeu uma onda de apoio de torcedores de todo o mundo – especialmente de italianos -, diante dos inúmeros comentários controversos que viralizaram nas redes sociais sobre a questão de seu gênero. Entre os ataques em maior evidência nas redes sociais, estão o de famosos como o bilionário Elon Musk e a escritora J. K. Rowling, que trataram a atleta como se ela fosse um homem.
Nesta quinta-feira (1/8), em sua estreia no boxe em Paris, Imane venceu a pugilista italiana Angela Carini, de 25, no primeiro round. Sua adversária foi golpeada com um forte direto no rosto e desistiu do combate com apenas 46 segundos.
“Não podia continuar. Meu nariz doía muito e eu disse: ‘Parem’. Era melhor não continuar”, relatou a italiana.
A polêmica sobre Imane tem como pano de fundo um teste de elegibilidade de gênero que a desqualificou do Mundial de 2023, em Nova Delhi, na Índia, competição organizada pela Federação Internacional de Boxe (IBA). A argelina foi eliminada por apresentar níveis elevados de testosterona.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) afirmou que todas as atletas que disputam os Jogos de Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade. A entidade ressaltou que todas apresentam as condições médicas aplicáveis de acordo com as regras da Unidade de Boxe de Paris, que regulamenta a competição. Em seu site, Imane Khelif consta como atleta mulher.
A IBA está suspensa pelo COI desde 26 de junho de 2019, por falhas recorrentes em integridade e transparência.
Boxeadora recebe onda de apoio
Em seu perfil no Instagram, Imane Khelif postou uma foto comemorando a vitória desta quinta-feira nos Jogos Olímpicos. Em poucas horas, havia mais de 7 mil comentários na publicação. Torcedores de diversos países – incluindo a Itália – manifestaram apoio à atleta e repudiaram os comentários negativos sobre seu gênero.
“Sou italiano e só quero parabenizá-la. Sinto-me muito envergonhado pelo drama cinematográfico que sua oponente fez no centro do ringue, que comportamento triste e sem orgulho. Você é uma campeã”, escreveu um torcedor compatriota de Angela Carini.
“Sou italiana e lamento muito o que a mídia disse sobre você. Nossos políticos espalharam muitas desinformações sobre seu gênero e eu realmente peço desculpas pelo que você passou. Espero vê-la na próxima luta. Boa sorte!”, comentou uma italiana.
“Também tivemos orgulho de você na Tunísia. Não se importe com os comentários de baixo QI”, encorajou mais um torcedor.
“Você venceu contra mentiras, racismo e rumores. Parabéns”, destacou mais um.
Famosos jogadores de futebol compatriotas de Imane também se posicionaram, como Ismaël Bennacer, do Milan, e Riyad Mahrez, do Al-Ahli.
“Apoio total à nossa campeã Imane Khelif, que está sendo submetida a uma onda de ódio injustificado. Sua presença nos Jogos Olímpicos é simplesmente o fruto de seu talento e trabalho árduo. Temos fé em você para levar as cores da Argélia bem alto”
Ismaël Bennacer, meio-campista do Milan
“Estamos com você, Imane”, escreveu o atacante Riyad, que atuou por Leicester (de 2013 a 2018) e no Manchester City (de 2018 a 2023).
Ataques nas redes
A autora J. K. Rowling, por sua vez, atacou Imane na rede social X (antigo Twitter) ao insinuar que a lutadora argelina é um “homem” que bateu em uma mulher com o consentimento do COI. O post teve milhares de curtidas e compartilhamentos.
“Alguma imagem poderia resumir melhor o nosso novo movimento pelos direitos dos homens? O sorriso de um homem que sabe que está protegido por um estabelecimento esportivo misógino, desfrutando da angústia de uma mulher que ele acabou de esmurrar na cabeça e cuja ambição de vida ele acabou de destruir”, escreveu a escritora da série Harry Potter.
Elon Musk, por sua vez, teve uma participação mais sutil no caso, mas que não deixou de impactar milhares de seguidores e disseminar ainda mais a repercussão negativa contra Imane.
O dono do X comentou e concordou com a publicação de uma ex-nadadora estadunidense que postou uma foto da pugilista italiana derrotada e escreveu: “O lugar dos homens não é nos esportes femininos. #EstouComAngelaCarini”, publicou.