Errata: a primeira versão desta matéria afirmava que o ex-prefeito de BH a quem Muzzi se referia era Márcio Lacerda, que ocupou o cargo entre 2009 e 2016. Na verdade, o dirigente do Atlético-MG falava de Alexandre Kalil. O texto foi corrigido.
O CEO do Atlético-MG, Bruno Muzzi, disse que Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte (2017-2022), o chamou de irresponsável por assinar as contrapartidas da Arena MRV em uma reunião.
“Numa dessas reuniões, ele (Kalil) foi bastante duro comigo, acho que tinha várias pessoas presentes, e ele disse que eu estava sendo irresponsável por assinar as contrapartidas da Arena MRV, foi situação um pouco constrangedora, mas faz parte”, disse.
A declaração foi dada em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) – Abuso de Poder na PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), o dirigente do Galo detalhou os valores da construção do estádio e revelou que faltam R$ 150 milhões em recursos.
CPI Abuso de Poder na PBH
A CPI Abuso de Poder na PBH investiga possíveis excessos nas contrapartidas exigidas ao Atlético-MG pela prefeitura para a construção da Arena MRV.
O depoimento de Bruno Muzzi, CEO do Atlético-MG e do próprio estádio, é o segundo realizado nas duas últimas semanas.
Em 1º de junho, o arquiteto Bernardo Farkasvölgyi, responsável pelo design da Arena MRV, criticou a demora para a aprovação do projeto na PBH.
“Você protocolar um projeto em 2014 e esse projeto só ser aprovado em 2020, seis anos depois, eu, particularmente, acho um absurdo. Acho muito tempo, mesmo sendo um projeto da complexidade da Arena MRV e com tudo que tinha”, disse, na ocasião.
“Posso dizer com certa convicção, porque imagina o desgaste para você, como responsável técnico pela arquitetura do projeto, ter que lidar com o poder público por seis anos para licenciar um projeto. É uma loucura”, completou.
A CPI foi constituída em dezembro de 2022. Segundo requerimento assinado pela relatora Fernanda Pereira Altoé (Novo), o objetivo é investigar “uma clara suspeita de que as contrapartidas exigidas foram impostas exclusivamente para prejudicar o andamento das obras do novo complexo esportivo mineiro, por motivos alheios ao interesse da cidade”.
Antes dos depoimentos, integrantes da CPI fizeram uma visita técnica à Arena MRV para buscar informações sobre o processo de licenciamento e as contrapartidas.
Atlético-MG x Prefeitura de Belo Horizonte
Marcio Lacerda foi prefeito de Belo Horizonte de janeiro de 2009 a dezembro de 2016. O período englobou o início do projeto da Arena MRV, em que não houve conflitos diretos com o Atlético-MG.
Em seguida, o processo de licenciamento e definição de contrapartidas ocorreu durante a gestão do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG entre 2008 e 2014 e desafeto da atual diretoria alvinegra.
A equipe de Kalil, que ficou no cargo entre 2016 e 2022, fez um estudo profundo do projeto e, a partir disso, descartou a Operação Urbana Simplificada (OUS) para a construção do estádio – erguido em uma Área de Preservação Permanente (APP), com Mata Atlântica.
Com isso, a Prefeitura de BH estabeleceu uma série de contrapartidas para que a obra fosse realizada – o que deu início ao imbróglio com a diretoria do Atlético-MG.