ATLÉTICO-MG

Arena MRV será ‘caldeirão’ maior do que La Bombonera, prevê arquiteto

Em entrevista ao No Ataque, arquiteto responsável pela Arena MRV falou sobre os detalhes que vão intensificar o "efeito caldeirão" proporcionado pela torcida do Atlético-MG
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Temida por tantos clubes que vão enfrentar o Boca Juniors, em Buenos Aires, La Bombonera é mundialmente conhecida pelo efeito caldeirão ocasionado pelos fanáticos xeneizes que ficam bem próximos do campo. Entretanto, essa fama de causar desconforto aos times adversários devido à pressão da torcida pode ser superada por outro estádio na América Latina. É o que prevê o arquiteto Bernardo Farkasvölgyi, responsável pelo projeto da Arena MRV, futura casa do Atlético-MG. 

Em entrevista ao No Ataque, o arquiteto deu mais detalhes sobre como o Atlético-MG planejou a Arena MRV para transformar o local em um pesadelo para os rivais

Desde 2013, quando iniciou o projeto, Bernardo visitou mais de 20 estádios europeus, todos os principais no Brasil e alguns na América Latina. Segundo o arquiteto, o Atlético-MG selecionou as melhores características desses locais para conceber uma arena em Belo Horizonte que proporcione ao torcedor, além de conforto e ampla visibilidade do gramado, uma experiência única para intensificar o apoio dos atleticanos ao Galo durante as partidas.  

“O efeito caldeirão foi uma das coisas que pensamos inicialmente. Acho que será mais do que na Bombonera. O que fizemos? Padrão mínimo Fifa: a distância das arquibancadas para a lateral do campo é de oito metros e meio e atrás do gol pouco mais de dez metros. Levamos em conta a altura também. A primeira arquibancada está a um metro e dez centímetros acima do campo”, destaca Bernardo.  

“O interessante também é que não temos aberturas. Temos os túneis, obviamente, mas não são túneis em que o som saía [do campo]. E ainda temos todo o tratamento acústico da Arena MRV para que esse som da torcida bata e retorne”, completou. 

Leia a seguir a entrevista completa com o arquiteto da Arena MRV:

NA: Temos um projeto de lei em tramitação na Câmara Municipal, já aprovado em primeiro turno, que pode liberar em agosto a Arena MRV para jogos do Atlético-MG. Acredita que a primeira partida na nova casa possa acontecer mesmo contra o Santos, na 21ª rodada?

“Não estou com esperança não, tenho a convicção de que será a estreia do Atlético, e ainda vamos bater o Santos por 5 a 0. Só para começar nossa história, na nossa casa nova”.

NA: Constantemente diversos torcedores caminham do lado de fora da Arena MRV olhando para o estádio emocionados. Pessoas que chegam aqui só para ver o estádio. Qual a sensação como arquiteto ao ver a reação da torcida?

“Eu posso dizer que até hoje a sensação é indescritível. Toda vez que eu venho aqui, independentemente da época do ano ou da circunstância, é difícil até encontrar palavras para traduzir as emoções que a gente sente na hora em que entramos na Arena. É um trabalho que comecei lá em 2013, estamos falando de 10 anos. Está lindo, maravilhoso e o Galo vai ser campeão de tudo aí dentro. É o maior retorno que o arquiteto pode ter, quando uma obra em que ele concebe fica pronta e as pessoas admiram essa obra. Não tem um melhor retorno para mim do que ver [as pessoas emocionadas com o estádio]. E muita gente tem comentado comigo: ‘Bernardo, sabe por que a Arena MRV é bacana? Porque ela reflete o Atlético. Você bate o olho nela e fala, essa Arena é do Galo’. Se você olhar outras arenas ao redor do mundo, normalmente elas não refletem imediatamente aquilo que é o time. Então acho que deu uma sinergia muito grande e isso é um presente para a torcida”.

NA: Muito se fala sobre a acústica da Arena MRV planejada para que o som reverbere e fique “preso” dentro do estádio causando um efeito caldeirão. Além disso, o campo está bem perto da torcida. Quais são os detalhes que foram pensados para isso?

“O efeito caldeirão foi uma das coisas que pensamos inicialmente. Acho que será mais do que na Bombonera. O que fizemos? Padrão mínimo Fifa: a distância das arquibancadas para a lateral do campo é de oito metros e meio e atrás do gol pouco mais de dez metros. Levamos em conta a altura também. A primeira arquibancada está a um metro e dez centímetros acima do campo. O interessante também é que não temos aberturas. Temos os túneis, obviamente, mas não são túneis em que o som saía [do campo]. E ainda temos todo o tratamento acústico da Arena MRV para que esse som da torcida bata e retorne”

NA: Uma grande preocupação dos torcedores com as arenas é em relação aos shows. Percebemos, principalmente em Belo Horizonte, com o Mineirão, conflitos de datas envolvendo jogos de futebol e outras atrações. Como será essa questão na Arena MRV?

“A nossa arena é uma arena de multieventos onde teremos 42 jogos de futebol por ano. Não é um estádio de futebol que terá eventos. É uma arena de eventos que terá jogos de futebol. E uma das coisas que a gente viu é a dificuldade de montagem e desmontagem de palco para show. O Mineirão, por exemplo, leva seis dias para fazer o palco, o Allianz Parque leva de três a quatro. Aqui na Arena MRV criamos uma rua interna que entra uma carreta de 22 metros de comprimento e ela consegue passar pela lateral do campo, onde tem uma faixa de concreto. A carreta para na arquibancada norte onde é montado o palco. Ela fica estacionada dentro da arena, após o show ela desmonta. O que eu quero dizer com isso? É que na Arena MRV eu monto e desmonto tudo em apenas um dia. Isso é um atrativo excepcional para a gente atrair todos os grandes shows para cá. Com certeza ficará mais fácil para casar com as datas dos jogos. Até porque isso é fundamental. Todas as arenas no Brasil ou são gestão compartilhada ou com dinheiro emprestado. A nossa não. A nossa é recurso próprio. Então a administração dos eventos é feita pelo Atlético. Então o clube é quem escolhe. No Allianz Parque, por exemplo, vai ter um show, o show prevalece sobre o futebol. Aqui não. Aqui o Atlético é quem escolhe”.

NA: Mas e em relação ao gramado. Como prevenir o desgaste dos shows?

“O trabalho que foi feito para que isso não impacte o gramado é muito forte. Quando você monta um show, por exemplo, no Allianz Parque, você cobre o gramado por dois, três dias. Aqui não. Aqui vamos cobrir apenas por algumas horas. É uma diferença muito grande”. 

NA: Caso ocorra algum conflito de agenda no Mineirão ou o Independência esteja indisponível, há alguma chance de que o Atlético aceite uma negociação e receba jogos de outros times na Arena MRV?

“O Cruzeiro nunca, mas é nunca mesmo. A chance é zero. Já o América é legal. Um time mais ou menos irmão. Mas o América, se quiser jogar, o Atlético terá boa vontade para conversar”. 

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