Em entrevista ao podcast Mano a Mano, do rapper Mano Brown, Ronaldo Nazário explicou como foi o processo de assumir a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Cruzeiro. No relato, o Fenômeno ressaltou as dívidas – que passavam de R$ 1 bilhão – e os problemas políticos que deixaram o clube em grave crise.
Na visão de Ronaldo, a chegada da SAF evitou o desaparecimento do Cruzeiro. O modelo de gestão foi introduzido ao departamento de futebol do clube em 2022, ano em que a Raposa conseguiu o acesso à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro após disputar a Série B pela terceira temporada seguida.
“Esse caso do Cruzeiro foi uma loucura. Salvamos o Cruzeiro de desaparecer. Assim, saí daquele risco de assumir R$ 1 bilhão. Era um risco muito grande”, iniciou Ronaldo.
“Temos que pensar o futebol como a política do futebol. O Cruzeiro tinha 400 conselheiros que votavam em assembleia para determinar o futuro de cada ação do clube. Mas como os conselheiros deixaram o clube chegar aonde chegou? Não tem responsabilidade fiscal em um clube associativo”, salientou.
“A cada quatro anos muda de presidente, e um passa o pepino para o outro. O cara que chega começa a resolver os pepinos antigos e não tem tempo para planejar o que ele quer fazer. O cara pensa: ‘vou aumentar um pouco dessa dívida para fazer um bom time’. Sucessivamente, essa dívida vai aumentando até chegar a um limite que ninguém paga”, criticou o ex-jogador.
‘Não paguei barato’
Ronaldo também rebateu as acusações de que pagou ‘barato’ pela SAF do Cruzeiro.
“No meu caso, no Cruzeiro, ninguém (governo e credores) está perdoando nada para mim. Assumi uma dívida que nem era minha, era da associação. Tenho o mérito de ter uma equipe de gestão f***. Por isso, muitos torcedores contestam que eu peguei o Cruzeiro muito barato. Não foi barato. Pô, eu peguei o Cruzeiro com R$ 1 bilhão a menos”, justificou.
“Agora está bem. Conseguimos a recuperação judicial, estamos na Sèrie A… Eu tenho uma ligação linda com o Cruzeiro. Eu comecei profissionalmente no Cruzeiro. O investidor não quer mudar a história do clube. O investidor quer fazer dinheiro e ter o sucesso esportivo para fazer a máquina girar e gerar mais receitas”, concluiu.
Venda da SAF do Cruzeiro
O acordo da venda da SAF do Cruzeiro a Ronaldo, formalizado em abril de 2022, prevê investimento de R$ 400 milhões nos próximos cinco anos. Além de ser sócio majoritário, Ronaldo tem a propriedade das Tocas da Raposa I e II.
Contudo, Ronaldo não aportou R$ 400 milhões no Cruzeiro. Na oferta de compra de 90% das ações, ele se propôs a investir R$ 50 milhões de forma imediata – R$ 40 milhões serviram para pagar dívidas urgentes na Fifa -, além de outros R$ 350 milhões em receitas incrementais ao longo dos próximos anos.
Receitas incrementais, de acordo com o Conselho Deliberativo do Cruzeiro, foram definidas em contrato como sendo aquelas que suplantassem, a cada ano, a receita média anual apurada com base na média ponderada das receitas auferidas pelo Cruzeiro no período compreendido entre 2017 e 2021.
Em fevereiro deste ano, o empresário Pedro Lourenço acertou a compra de 20% das ações da Sociedade Anônima do Futebol do Cruzeiro por cerca de R$ 100 milhões.
Pelo contrato da aquisição da SAF, Ronaldo não poderia vender o controle acionário a um terceiro durante o período de 60 meses ou até alcançar os R$ 350 milhões de investimento adicionais. Sendo assim, Pedrinho se tornará sócio minoritário.
A nova divisão da porcentagem da SAF será: Ronaldo com 70%, Pedro Lourenço com 20% e o Cruzeiro com os 10% restantes.
Recuperação judicial do Cruzeiro
Em junho deste ano, os credores do Cruzeiro aprovaram por maioria de votos o plano de recuperação judicial da associação civil. Com isso, o clube deve pagar R$ 500 milhões em moeda nacional, além de 2,566 milhões de dólares e 60,5 mil euros em moeda estrangeira.
O Cruzeiro obteve aprovação da maioria nas quatro classes de credores: trabalhistas, garantia real, quirografários e microempresas/empresas de pequeno porte.
Conforme documento anexado ao processo no fim de março, o Cruzeiro deve R$ 216,2 milhões aos credores trabalhistas. O maior passivo é com o ex-atacante Fred (R$ 30,5 milhões). Em seguida aparecem o goleiro Fábio (R$ 20,7 milhões) e o zagueiro Dedé (R$ 18,8 milhões).
Em créditos quirografários, o valor é de 209,5 milhões. O banco Bmg tem R$ 37,3 milhões a receber. Na sequência aparecem o Supermercados BH, R$ 28,8 milhões; e os jogadores Marcelo Moreno e Eugenio Mena – R$ 24,9 milhões e 22,5 milhões, respectivamente.