O Conselho Deliberativo do Atlético aprovou, na quinta-feira (20/7), a venda de 75% das ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Durante e após a votação, dirigentes do Atlético chegaram a citar o Cruzeiro para elogiar a negociação do alvinegro. Com isso, o No Ataque traz, a seguir, uma comparação dos investimentos, forma de pagamento da dívida, percentuais, patrimônios que entraram no negócio e mais.
Os valores das SAFs de Atlético e Cruzeiro
Apesar de o Atlético divulgar que o valuation do clube é de R$ 2,1 bilhões, a venda de 75% das ações para a Galo Holding foi feita por R$ 913 milhões. Ou seja, os 100% seriam correspondentes a R$ 1,2 bilhão.
Para chegar ao valuation, o alvinegro considerou R$ 1,3 bilhão da Arena MRV + Cidade do Galo e R$ 800 milhões do departamento de futebol.
O clube mineiro receberá, de imediato, R$ 600 milhões no caixa. Isso porque R$ 313 milhões serão abatidos em dívidas com os 4 R’s, Rafael Menin, Renato Salvador, Ricardo Guimarães e Rubens Menin.
Já o Cruzeiro vendeu 90% das ações a Ronaldo por R$ 400 milhões. Cerca de R$ 50 milhões foram aportados de imediato pelo ex-jogador para abater dívidas que gerariam punições esportivas na Fifa e impediriam o clube de registrar reforços.
Além disso, o acordo prevê que o investimento total deve ser feito até 2027. O valor pode ser oriundo de recursos próprios de Ronaldo e/ou receitas incrementais geradas pela atividade do futebol (vendas de atletas, direitos de TV, premiação, bilheteria, sócio e patrocínios). Para isso foi considerado um faturamento médio de R$ 220 milhões de 2017 a 2021.
Em 2022, a Raposa teve receita de R$ 150,3 milhões, quase R$ 70 milhões abaixo da média de R$ 220 milhões dos cinco anos anteriores. Para 2023, a gestão de Ronaldo estima uma arrecadação de R$ 212 milhões. Em 2032, a expectativa é de R$ 430 milhões.
Investimento no futebol
Segundo o CEO do Atlético, Bruno Muzzi, o clube planeja investir R$ 40 milhões em contratações em 2024 – contabilizando também luvas e comissões. Para isso, o Atlético vai contar com o fluxo de caixa, como vendas de outros atletas.
Já a folha salarial será baseada no faturamento do Galo. Haverá tetos de 30% a 40% desse valor. Por exemplo: se a receita for de R$ 600 milhões, a folha seria de no máximo R$ 240 milhões e no mínimo R$ 180 milhões.
O Cruzeiro, por sua vez, pode ter investimento de Ronaldo. No entanto, assim como no acordo de compra, o ex-jogador pode utilizar as receitas ‘acima da média’ para adquirir jogadores.
Desta forma, se a Raposa obtiver um ganho de R$ 300 milhões com a atividade esportiva em um determinado ano, será como se o Fenômeno tivesse aplicado R$ 80 milhões. Esse valor “adicional” pode ser destinado ao futebol.
Patrimônios de Atlético e Cruzeiro nas SAFs
Ambos os clubes consideraram os CT’s (Centro de Treinamentos) no negócio. O Atlético avaliou a Cidade do Galo em R$ 317 milhões, além R$ 981 milhões da Arena MRV. A associação ficou com a sede administrativa e os clubes Labareda e Vila Olímpica
O Cruzeiro incluiu as Tocas da Raposa I e II na negociação da SAF. Em contrapartida, Ronaldo assumiu a íntegra da dívida tributária da associação civil, na ordem de R$ 180 milhões e com parcelas mensais acima de R$ 1 milhão até 2032.
O clube celeste manteve os parques esportivos Barro Preto e da Pampulha, além do prédio da antiga sede administrativa – alugado para o Supermercados BH até 2031.
Dívidas bilionárias de Atlético e Cruzeiro
Atlético e Cruzeiro aderiram à SAF principalmente pelas dívidas bilionárias. O Galo transferiu toda a responsabilidade dos pagamentos para a Galo Holding, enquanto a associação civil da Raposa receberá recursos da administração de Ronaldo.
O alvinegro deve aproximadamente R$ 1,8 bilhão, mas pretende abater R$ 913 milhões em médio prazo, sendo R$ 313 milhões em dívidas com os 4 R’s e o restante em dívidas onerosas. O clube não prevê recuperação judicial.
O Galo pretende negociar com credores para conseguir um desconto. A ideia é manter um fluxo de caixa e zerar todo o passivo até 2027.
“Eu não estou pegando R$ 600 milhões e estou abatendo de dívida imediatamente, tenho que manter a operação, tem que manter a folha, tenho que equilibrar, e os três primeiros anos serão para manter equilíbrio, com bom investimento no futebol, pagando a dívida de forma saudável e apostando no crescimento de receita (com a inauguração da Arena MRV)”.
Bruno Muzzi
Ronaldo, por sua vez, tem como obrigação, de acordo com a lei da SAF, repassar 20% do faturamento do clube-empresa para o abatimento das dívidas da associação.
O Cruzeiro já teve a recuperação judicial aprovada pelos credores e aguarda apenas a homologação da Justiça. Caso isso ocorra, a previsão de repasse é de até R$ 682 milhões (incluindo juros e correções) em 18 anos para a amortização dos débitos.
O clube celeste devia R$ 1 bilhão quando o ex-jogador assumiu a gestão. Em maio deste ano, as Tocas da Raposas I e II foram transferidas para a SAF por R$ 209 milhões, o que significou uma diminuição para cerca de R$ 800 milhões no passivo da associação.
Divisão das ações
Um dos pontos bem diferentes nas SAFs de Atlético e Cruzeiro é a divisão de ações. Se Ronaldo detém 90% de participação na Raposa, no Galo serão ao menos seis na sociedade.
Os 4 R’s entraram com R$ 400 milhões (além de R$ 313 milhões em abatimento de dívidas) e vão assumir 78% da Galo Holding. Além deles, estão previstos dois fundos de R$ 100 milhões cada.
Galo Holding
- 78% – Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador
- 11% – Fundo de investimento 1 (Galo Holding)
- 11% – Fundo de investimento 2 (Galo Holding | FIGA – Fundo de Investimento do Galo)
SAF do Atlético – geral
- 58,5% – 4 Rs – Rubens e Rafael Menin; Ricardo Guimarães e Renato Salvador (Galo Holding)
- 8,25% – Fundo de investimento 1
- 8,25% – Fundo de investimento 2
- 25% – Atlético (associação civil)
No Cruzeiro, a conta é mais simples: Ronaldo tem 90% das ações. Todavia, o clube fez uma operação de debêntures conversíveis com o empresário Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH.
Pedrinho, como é conhecido o proprietário da rede varejista, transferiu R$ 100 milhões para a gestão do Fenômeno, que deu como garantia de pagamento a possibilidade de conversão dos valores em 20% das ações da SAF.
Desse montante, R$ 70 milhões foram utilizados exclusivamente para necessidades urgentes do clube. A quantia foi paga à vista. Os outros R$ 30 milhões estão diretamente relacionados a uma dívida que a associação tinha com Pedro Lourenço.
Modelos e projetos diferentes
Diante disso, fica claro que as propostas e avaliações das SAFs de Atlético e Cruzeiro foram feitas de formas muito diferentes. Os valores são muito distintos, mas as responsabilidades e investimentos de cada sócio-majoritário também. Mais importante do que julgar cada negociação é avaliar como cada clube está sendo conduzido nesse novo modelo de gestão.