Arquiteto da Arena MRV, estádio do Atlético-MG, Bernardo Farkasvölgyi criticou a demora para a aprovação do projeto do estádio junto à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Nesta quinta-feira (1/6), o profissional prestou depoimento para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) – Abuso de Poder, em Belo Horizonte.
A CPI em questão investiga possíveis excessos nas contrapartidas exigidas ao Atlético-MG pela PBH para a construção da Arena MRV. Em longa oitiva, Bernardo Farkasvölgyi fez uma cronologia de todo o processo, desde 2013, e opinou sobre parte do processo de licenciamento.
A princípio, o arquiteto destacou a multifuncionalidade da arena do Galo. “Não foi projetada como um estádio de futebol”, assegurou.
“É muito importante que se diga: a Arena MRV não é um estádio de futebol. A Arena MRV é uma arena multiuso. Foi projetada para ser multiuso, onde, entre seus eventos anuais, o Atlético-MG terá de 40 a 42 jogos feitos dentro da arena. Mas ela não foi projetada como um estádio de futebol, e sim como uma arena multiuso. É importante a gente trazer eventos pensando na necessidade da Grande BH de espaços para esse tipo de utilização”, afirmou.
Projeto e processo de licenciamento
Ao tratar diretamente sobre o projeto da Arena MRV, Farkasvölgyi foi enfático ao criticar a demora do poder público no processo de licenciamento. “É uma loucura”, opinou o arquiteto.
“Vou colocar uma questão minha como profissional. Você protocolar um projeto em 2014 e esse projeto só ser aprovado em 2020, seis anos depois, eu, particularmente, acho um absurdo. Acho muito tempo, mesmo sendo um projeto da complexidade da Arena MRV e com tudo que tinha. Posso dizer com certa convicção, porque imagina o desgaste para você, como responsável técnico pela arquitetura do projeto, ter que lidar com o poder público por seis anos para licenciar um projeto. É uma loucura”, disse em tom sincero.
Transição de gestões na PBH
Marcio Lacerda foi prefeito de Belo Horizonte de janeiro de 2009 a dezembro de 2016. O período englobou o início do projeto da Arena MRV. Segundo Farkasvölgyi, a gestão do político deu total apoio à construção do estádio.
Nas eleições municipais de 2016, Alexandre Kalil, ex-presidente do Atlético-MG, venceu a disputa pela PBH. A mudança na gestão de Belo Horizonte trouxe impactos diretos ao processo de licenciamento da Arena MRV. A equipe de Kalil fez um estudo profundo do projeto e, a partir disso, a Operação Urbana Simplificada (OUS) foi descartada.
“Entre final de 2016 e novembro de 2017, com a nova gestão do prefeito Alexandre Kalil, a gente discutiu muito a questão da Operação Urbana Simplificada. Na minha visão, a gente deu um passinho para trás, porque entrou um novo prefeito, com uma nova equipe técnica, novos secretários. O meu entendimento é que eles resolveram pegar esse projeto e estudar profundamente – o que acho, inclusive, normal. Não vejo nada de errado nisso. Poxa vida: ‘Eu entrei, sou um novo prefeito, tenho meus secretários, quero entender esse processo para poder ter conhecimento’”, relembrou Bernardo Farkasvölgyi.
“Gastou-se um ano entre as conversas que a gente teve com a secretária Maria Caldas (Política Urbana), com o secretário Mário Werneck (Meio Ambiente), dentre outros, para poder ter um entendimento do projeto. E, enfim, a gente partir para que o Executivo finalizasse o projeto de lei e encaminhasse ele para a Câmara Municipal”, acrescentou.
O arquiteto da Arena MRV também relembrou as dificuldades enfrentadas pelo Atlético-MG quando a OUS foi descartada. “Para nós, foi um desespero”, disse.
“No início de 2018, a prefeitura desistiu de fazer a Operação Urbana Simplificada. A secretária Maria Caldas nos procurou, mediante todas as análises que foram feitas nesse período de um ano e pouquinho, e entendeu que o projeto estava muito grande. Além da Arena MRV, a gente tinha um projeto de um mall, com centro de convenções e lojas. Era um projeto maior, de fato. (…) O poder público nos procurou, disse que estava desconfortável com o tamanho do projeto, entendendo que isso poderia trazer talvez mais impactos negativos do que positivos”, pontuou.
“Naquele momento, o mundo caiu e quase que a Arena MRV deixou de existir. Para nós, foi um desespero. Eu me lembro que, depois desse dia, a gente foi para o escritório e virou uma noite lá. Pegamos o projeto e começamos a recalcular ele inteiro, dentro da legislação. (…) O projeto tinha capacidade para 60 mil lugares. A gente teve que abaixar para 41 mil e tirar o centro de convenções e o mall. Depois, conseguimos aumentar um pouquinho da capacidade”, enfatizou Farkasvölgyi.
Contrapartidas da Arena MRV
Ao fim da oitiva, Bernardo Farkasvölgyi respondeu questionamentos de partes envolvidas na CPI. O arquiteto indicou Bruno Muzzi, CEO do Atlético-MG, como nome mais adequado para tratar sobre questões relacionadas às contrapartidas e se, de fato, houve excesso por parte da gestão de Kalil.
“O que chegou ao meu conhecimento é que o volume de contrapartidas viárias aumentou muito depois dessa primeira negociação de algumas contrapartidas. Na visão do empreendedor, que é o técnico de trânsito e não sou eu, parece que foram além daquilo que seria necessário. Mas o senhor Bruno Muzzi com certeza trará essa informação”, encerrou Farkasvölgyi.
O CEO do Galo e da Arena MRV também participará da CPI de Abuso de Poder. O depoimento do dirigente alvinegro está marcado para a manhã do dia 15 de junho.