O CEO do Atlético-MG, Bruno Muzzi, declarou nesta quinta-feira (15/6) que o clube não tem dinheiro para concluir as obras de contrapartidas da Arena MRV.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) – Abuso de Poder na PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), o dirigente do Galo detalhou os valores da construção do estádio e revelou que faltam R$ 150 milhões em recursos.
De acordo com Muzzi, a estimativa atual é que a obra da Arena MRV custe cerca de R$ 1,2 bilhão:
- R$ 750 milhões em obras no perímetro do estádio
- R$ 335 milhões em contrapartidas
- Mais de R$ 100 milhões em “custos acessórios”
As obras do estádio em si estão praticamente concluídas. Nessa terça-feira (13/6), por exemplo, o Galo inaugurou os vestiários do estádio.
Porém, o Atlético-MG alega não ter dinheiro suficiente para bancar todas as contrapartidas exigidas pela PBH – obras sociais, viárias e ambientais solicitadas para a aprovação do projeto.
“Algumas dessas contrapartidas viárias, principalmente, que fazem a ligação do Anel Rodoviário com a Via Expressa, com a BR-040, e uma ou outra passarela, nós não temos mais o recurso para fazer e estamos vendo como proceder em relação a isso. Estamos falando de uns R$ 150 milhões, eu acho”, declarou Muzzi.
Atlético-MG: valores das contrapartidas da Arena MRV
Durante o depoimento, Bruno Muzzi detalhou o valor das contrapartidas exigidas do Atlético-MG pela construção da Arena MRV e do licenciamento para que as obras se iniciassem.
Somados, os custos chegam a R$ 335.336.697,58 – quase 50% dos R$ 750 milhões investidos na obra do estádio em si.
Valores das contrapartidas da Arena MRV
- Contrapartidas ambientais: R$ 95.304.168,44
- Contrapartidas sociais: R$ 12.767.950,87
- Contrapartidas viárias: R$ 212.471.874,99
- Total: R$ 320.543.994,30
Valores do licenciamento da Arena MRV
- Licenciamento ambiental: R$ 14.792.703,28
- Taxas e impostos: R$ 1.434.179,82
- Licenciamento viário: R$ 3.297.274,70
- Total: R$ 3.297.274,70
CPI Abuso de Poder na PBH
A CPI Abuso de Poder na PBH investiga possíveis excessos nas contrapartidas exigidas ao Atlético-MG pela prefeitura para a construção da Arena MRV.
O depoimento de Bruno Muzzi, CEO do Atlético-MG e do próprio estádio, é o segundo realizado nas duas últimas semanas.
Em 1º de junho, o arquiteto Bernardo Farkasvölgyi, responsável pelo design da Arena MRV, criticou a demora para a aprovação do projeto na PBH.
“Você protocolar um projeto em 2014 e esse projeto só ser aprovado em 2020, seis anos depois, eu, particularmente, acho um absurdo. Acho muito tempo, mesmo sendo um projeto da complexidade da Arena MRV e com tudo que tinha”, disse, na ocasião.
“Posso dizer com certa convicção, porque imagina o desgaste para você, como responsável técnico pela arquitetura do projeto, ter que lidar com o poder público por seis anos para licenciar um projeto. É uma loucura”, completou.
A CPI foi constituída em dezembro de 2022. Segundo requerimento assinado pela relatora Fernanda Pereira Altoé (Novo), o objetivo é investigar “uma clara suspeita de que as contrapartidas exigidas foram impostas exclusivamente para prejudicar o andamento das obras do novo complexo esportivo mineiro, por motivos alheios ao interesse da cidade”.
Antes dos depoimentos, integrantes da CPI fizeram uma visita técnica à Arena MRV para buscar informações sobre o processo de licenciamento e as contrapartidas.
Atlético-MG x Prefeitura de Belo Horizonte
Marcio Lacerda foi prefeito de Belo Horizonte de janeiro de 2009 a dezembro de 2016. O período englobou o início do projeto da Arena MRV, em que não houve conflitos diretos com o Atlético-MG.
Em seguida, o processo de licenciamento e definição de contrapartidas ocorreu durante a gestão do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG entre 2008 e 2014 e desafeto da atual diretoria alvinegra.
A equipe de Kalil, que ficou no cargo entre 2016 e 2022, fez um estudo profundo do projeto e, a partir disso, descartou a Operação Urbana Simplificada (OUS) para a construção do estádio – erguido em uma Área de Preservação Permanente (APP), com Mata Atlântica.
Com isso, a Prefeitura de BH estabeleceu uma série de contrapartidas para que a obra fosse realizada – o que deu início ao imbróglio com a diretoria do Atlético-MG.