Ao longo desta semana, o Atlético trabalhou para trazer à tona mais informações sobre a Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Ainda que muitas das questões levantadas por torcedores ainda não tenham sido respondidas, a estruturação da Galo Holding, sócia majoritária no projeto de clube-empresa, está cada vez mais clara.
Uma holding atua como uma sociedade criada com o objetivo de administrar um grupo empresarial. Essa sociedade controla companhias por deter grandes participações acionárias.
O aporte inicial da Galo Holding será de R$ 913 milhões por 75% das ações da SAF do Atlético. A associação conservará os outros 25%.
Do montante total aportado pela Galo Holding, R$ 313 milhões serão abatidos de dívidas já existentes do Galo com os 4 R’s: Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador. Dessa forma, o que de fato entrará para os cofres do clube mineiro são R$ 600 milhões.
Divisão da Galo Holding
Esses R$ 600 milhões serão advindos de três fontes. O maior aporte será dos 4 R’s: R$ 400 milhões. A quantia, somada aos R$ 313 milhões do perdão da dívida, corresponde a 78% da Galo Holding.
Os outros 22% serão divididos por dois fundos, que aportarão R$ 100 milhões cada. O primeiro deles já está definido, de acordo com o CEO Bruno Muzzi, mas ainda não foi divulgado.
O restante será aportado pelo Fundo de Investimento do Galo (FIGA) e, por meio dele, torcedores do Atlético poderão participar da futura SAF. A aplicação mínima para compor o FIGA é de R$ 1 milhão.
Esse montante, de toda forma, pode vir de uma composição financeira. Grupos de torcedores podem unir quantias para alcançar o valor e, a partir da criação de uma empresa, aportarem no FIGA.
Contradição com discursos
Ao longo dos últimos anos, em diversas oportunidades, parte dos 4 R’s enfatizou que o grupo não almejava participação na SAF do Atlético. No entanto, com o decorrer do tempo, o discurso mudou e os investidores passaram a considerar a ideia de ter pequena participação no clube-empresa alvinegro.
“Comprar o Atlético para quê? Deixa o Atlético quieto lá.”
Rubens Menin à Revista Encontro, em fevereiro de 2022.
“Não é para isso que estamos construindo esse novo Atlético. Estamos fazendo do Atlético uma empresa, que tem de ser administrada como um negócio autossustentável. Naturalmente, a tendência é que o Galo vire uma SAF, sim. E não é de interesse de ninguém desse grupo ser o principal administrador dessa SAF.”
Ricardo Guimarães à Revista Encontro, em fevereiro de 2022.
“Nenhum dos 4Rs quer participar do negócio. Uma coisa a gente tem certo: não seremos majoritários jamais. A gente acha que não devemos ter nada, mas o investidor pode pedir para transformar nosso crédito em ações e ficar com um pequeno percentual. A gente só entraria se o Conselho achar que vale a pena, se o investidor achar que vale. No máximo, uma participação bem minoritária.”
Ricardo Guimarães à Rádio Itatiaia, em setembro de 2022.
“Se o Conselho (Deliberativo) e o investidor entenderem que a nossa participação na SAF é fundamental, a gente fica. Se não, a gente não fica. Não é o tipo de investimento que a gente gostaria de fazer, investir em futebol. Mas, se for uma demanda para viabilizar a SAF, a gente topa ficar.”
Rafael Menin ao Bica Galo, em fevereiro de 2023.
De acordo com Bruno Muzzi, CEO do Atlético, a mudança de planos foi ocasionada especialmente pela impossibilidade de chegar a um acordo com um investidor estrangeiro. A responsabilidade pela dívida do Galo (R$ 1,8 bilhão), a maior do futebol brasileiro, foi um fator dificultador nas negociações com interessados, segundo o dirigente.
Muzzi enfatizou que o clube mineiro buscava um aporte maior para aliviar o endividamento. No entanto, com a dificuldade para captar investidores, “não havia mais solução”, nas palavras do CEO. Diante disso, “a solução caseira veio à tona”.