O No Ataque teve acesso a áudios vazados de uma reunião realizada na manhã desta terça-feira (18/7), na sede do Atlético, no bairro de Lourdes, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Nas gravações, dois conselheiros detonam a atual gestão alvinegra e o projeto de Sociedade Anônima de Futebol (SAF) que está prestes a ser votado pelo Conselho Deliberativo do clube mineiro.
O primeiro deles é de Cláudio Utsch, figura ativa na oposição aos 4 R’s (Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador). No áudio, o Delegado da Polícia Civil se diz favorável à SAF, mas mostra preocupação com os moldes em que a negociação está sendo conduzida.
“Não há um acordo de acionistas para deliberação do Conselho Deliberativo. Isso é uma aberração jurídica. Alguém está falando isso? Não, estão preocupados com o time, com passado e tal. Passado é muito bonito, e a gente tem que reverenciar. Mas vamos tratar disso aqui”, pediu Utsch.
“Sem esse acordo de acionistas aprovado pelo Conselho Deliberativo, pode ocorrer coisas muito graves. Como, por exemplo, uma sucessão de acionistas que poderá causar a perda do estádio e da Cidade do Galo no caso da morte ou da falência de um acionista. Isso poderá acontecer. Minha grande preocupação é essa”, prosseguiu. Ouça o conteúdo no player abaixo.
Em seguida, o conselheiro criticou os investidores ligados à gestão alvinegra. “O endividamento atual do Atlético foi feito por um javali chamado 4 R’s. Eles fizeram. (…) Uma dívida que em 2019 era em torno de R$ 800 milhões, hoje é de quase R$ 2 bilhões. A dívida onerosa ia ser paga com o dinheiro do shopping. Não pagaram”, afirmou.
“Esses tais 4 R’s fizeram o endividamento. Eles são os responsáveis pela venda do clube, e eles vão ser os donos. Ainda tem na presidência do Conselho Deliberativo um dos credores do clube (Ricardo Guimarães) e um dos que vai ser dono. Ele cobra escanteio, corre para área para cabecear e depois ainda vai pegar o rebote”, fez analogia.
Por fim, Utsch pediu para que conselheiros não compareçam à votação que definirá a aprovação ou não da SAF do Atlético. O pleito ocorrerá nos próximos dias 20 e 21 de julho.
“Esse processo está viciado, cheio de ilegalidades, e a Justiça não irá, em hipótese alguma, fechar os olhos para isso. (…) Isso vai ser judicializado. Não tem como”, enfatizou Cláudio Utsch. O conselheiro protocolou uma notificação extrajudicial ao presidente do Atlético, Sérgio Coelho, ao vice-presidente José Murilo Procópio e aos conselheiros. Ele pediu “juízo e responsabilidade” aos membros do Conselho Deliberativo, além de mais discussões antes de uma votação.
Conselheiro benemérito endossa discurso
Ainda na reunião na sede do Atlético, o conselheiro benemérito Sérgio Salum reforçou o discurso de Cláudio Utsch. “Um Conselho sendo obrigado a votar uma coisa sem o menor amadurecimento. Não estou nem discutindo se está certo. Não tem o menor amadurecimento”, disse.
“Qual o detalhamento que esse Conselho tem para votar? Como a coisa vai funcionar? Ninguém sabe. Quem vai mexer com o futebol? Sabe o que é o futebol do Atlético hoje? É um brinquedo de rico”, disparou. Ouça o conteúdo no player abaixo.
Sérgio também criticou várias das decisões da atual gestão do Atlético nos últimos anos, como as trocas e escolhas de treinadores. Além disso, apontou possível falta de autonomia de Rodrigo Caetano na diretoria de futebol.
“Pode ter certeza, eu estou viajando amanhã porque não quero nem estar aqui. Se eu vier aqui, eu não vou me sentir bem. Estando aprovado, com certeza na segunda-feira (24/7), eu, como conselheiro benemérito, entrego meu cargo e meu título de sócio”, prometeu.
SAF do Atlético
O novo modelo da SAF do Atlético avalia o clube-empresa alvinegro em R$ 2,1 bilhões, envolvendo a avaliação da Arena MRV e da Cidade do Galo, além do patrimônio do futebol. Como a dívida ronda a casa de R$ 1,8 bilhão, a conta é de que a associação entra com aproximadamente R$ 300 milhões na nova proposta.
Diante disso, os cerca de R$ 300 milhões correspondem a 25% da SAF atleticana. Os R$ 913 milhões aportados pelos investidores, portanto, representam 75%. Nesse valor, está incluído o perdão da dívida com a família Menin, avaliada em aproximadamente R$ 300 milhões.
Na prática, portanto, o aporte inicial para o caixa do Atlético seria de R$ 600 milhões. Recursos que serão utilizados principalmente para a quitação de dívidas onerosas, as mais prejudiciais à saúde financeira do clube.
A Galo Holding teria controle majoritário dos 4 R’s, que devem ser detentores de 78% dos 100% da sociedade gestora. A nova composição, portanto, vai na contramão dos discursos de parte dos investidores nos últimos anos.
O Banco BTG também terá participação importante na SAF do Atlético. A empresa de investimentos pretende integrar o clube-empresa alvinegro a partir de um aporte financeiro.
Outros empresários mineiros devem se associar ao projeto. A ideia é que outros dois grupos aportem cerca de R$ 100 milhões cada (um deles já definido, mas não divulgado), complementando parte dos R$ 913 milhões.
Agora, o clube se prepara para uma das votações mais importantes de sua história. Os conselheiros vão decidir, entre 20 e 21 de julho, se a transformação em SAF e, consequentemente, se a venda das ações será aprovada ou não. Depois disso, caso o projeto seja validado, haverá a assinatura dos documentos definitivos e a conclusão da transação.