MERGULHO EM APNEIA

Brasileiro larga tudo para ser recordista em esporte pouco conhecido

Carlos tinha carreira de sucesso em multinacional na área de engenharia mecânica, mas deixou tudo de lado para se dedicar a sonho
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Renan Liskai – Carlos Diezel tinha emprego em uma empresa multinacional, mas deixou tudo de lado para realizar sonho: viver do mergulho em apneia.

De engenheiro mecânico a mergulhador

Carlos é engenheiro mecânico formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele chegou a trabalhar na Alemanha em uma empresa multinacional atuando na área.

Tudo mudou na vida do brasileiro após viagem para Bali, na Indonésia. Foi no país asiático onde Carlos teve o primeiro contato com o mergulho freedive, ou mergulho em apneia. A prática consiste em submergir sem nenhum tipo de aparelho, apenas controlando a própria respiração.

Algum tempo depois do primeiro contato com o mergulho em apneia, Carlos decidiu deixar o emprego na multinacional. Ele, inclusive, vinha de promoções frequentes dentro da empresa.

“Estava fazendo uma boa carreira, de sucesso, tendo promoções frequentes, mas sabia que com aquela vida eu não ia conseguir aproveitar o freediving da forma como queria. Quando experimentei pela primeira vez, sabia que queria fazer freediving de verdade, de fazer de uma forma dedicada, me desenvolver no esporte. Eu me apaixonei”, diz Carlos ao UOL.

O profissional mudou de carreira e, apesar de confiante, teve um medo: o lado financeiro. Ele, no entanto, nunca deixou de achar que a nova carreira daria certo.

“O medo que envolve uma mudança de carreira é isso, eu sou casado, tinha dois filhos à época, agora eu já tenho três, e a responsabilidade financeira que a gente tem é grande. Se tinha algum medo, era esse, de que talvez não desse certo, e eu ia ter de voltar para a carreira anterior tendo perdido algum tempo, algumas oportunidades, talvez dado uns passos atrás, mas em nenhum momento pensei que não ia dar certo”, conta.

Sucesso, recorde e nenhum ‘perrengue’

A nova carreira deu certo. Carlos virou instrutor de mergulho em apneia, já atuou como mergulhador de segurança em um campeonato importante e nesta quinta-feira (18/7) é sócio-diretor na Dahab Freedivers, escola egípcia que está entre as mais conhecidas para este tipo de prática esportiva.

Carlos é o recordista brasileiro no mergulho em apneia. Ele conseguiu a marca de 87 metros de profundidade durante um campeonato realizado no Egito. O mergulhador, no entanto, não está satisfeito.

“Não posso reclamar de ter conseguido atingir esses feitos em seis anos de dedicação ao freediving. Mas, estar satisfeito com o que atingi, não significa que não quero mais. Eu quero muito mais. Sei que ainda tenho muito que aprender, muito que desenvolver nas minhas técnicas, na parte mental, com técnicas de relaxamento e com outros métodos de treinamento […] Sou o primeiro brasileiro a bater os 80 metros e sei que dá para ir muito mais longe. Também sei que talvez demore para conseguir maiores avanços, mas não pretendo parar tão cedo”, afirma.

Apesar dos riscos, o brasileiro vê a prática do mergulho em apneia como segura. Ele, entretanto, destaca que é preciso seguir à risca as regras de segurança e ter um treinamento para seguir na modalidade.

É um esporte bastante seguro, desde que observadas as regras de segurança. Se a pessoa foi treinada, tem a educação dos cursos básicos, ela já sabe como evitar os principais riscos e quanto mais você avança na técnica, portanto na profundidade, ou na distância, ou no tempo, mais você deve saber sobre como se manter seguro.

Carlos já precisou realizar alguns salvamentos por desmaio durante alguns mergulhos com amigos. Mesmo com o risco, ele não vê a situação como um “evento complicado”.

Eu, por exemplo, já resgatei alguns atletas em competição de blackout, já resgatei atletas, amigos em treino, mas não chamo de perrengue porque estava absolutamente preparado para aquela situação. Quando a pessoa está preparada, quando o mergulhador e o parceiro estão trabalhando juntos, um evento de apagamento, por exemplo, não é um evento complicado de se resolver. Não se pode confundir com algo comum, um apagamento é relativamente comum na competição porque as pessoas ali estão trabalhando, testando limites, mas um apagamento assim no dia a dia, em treino, é bastante excepcional.

Brasil com potencial

Carlos vê o Brasil com potencial para se desenvolver na modalidade. A “conexão” do país com as práticas esportivas aquáticas e a ligação com o mar foram alguns pontos destacados pelo mergulhador.

Ele estará nesta quinta-feira (18/7), às 19h, na Escola de Educação Física da UFMG, em Belo Horizonte, para um bate-papo com a exibição do filme “De Tirar o Fôlego”, produção da Netflix da qual ele participou das filmagens.

O freediving tem um potencial enorme, ele agora tem se difundido muito rapidamente pelo mundo e vejo um enorme potencial no Brasil, porque tem uma grande população de nadadores. É um esporte e o Brasil é um país conectado com a água”, disse.

As saúdes mental e física também foram citadas por Carlos: “É um esporte que permite um autoconhecimento bastante acelerado e que ensina as pessoas a atingirem outros níveis de relaxamento. Descobri realmente como relaxar, como observar o nosso corpo, a nossa mente para entender de onde vem tensões, de onde vem elementos que às vezes estão dificultando o relaxamento. O freediving se mostra como uma boa ferramenta para trabalhar na saúde mental. Obviamente na saúde física também”.

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