JOGOS BRASILEIROS PARA TRANSPLANTADOS

Mineira de 17 anos é grande esperança de medalhas nos Jogos Brasileiros para Transplantados

Nadadora Maria Eduarda Porto, a Duda, de 17 anos, chega a Curitiba embalada por grandes resultados nos Jogos Mundiais, na Alemanha

Compartilhe
google-news-logo

Com a participação de mais de 100 atletas, começa nesta quinta-feira (18/9), em Curitiba, os 3º Jogos Brasileiros para Transplantados. Entre os participantes, uma atleta mineira se destaca. Ela é Maria Eduarda Porto, a Duda, de 17 anos, que recebeu a doação de um rim, há cinco anos, e isso mudou, completamente, a sua vida. Ela competirá na natação – provas de 100m livres, 50m peito, 50m peito e 50m borboleta.

Duda tem não só conquistas, regionais e nacionais, mas também internacionais. Está retornando dos Jogos Mundiais de Transplantados, disputados em agosto, em Dresden, na Alemanha, quando conquistou quatro medalhas, três de prata (costas, borboleta e peito) e uma de bronze (nos 100m livre).

Valeska Porto, mãe de Duda, conta que a filha teve de retirar o rim direito quando tinha três anos. “E o esquerdo tinha apenas 40% da função. Foi quando a coloquei na natação, para tentar impedir que ela fizesse hemodiálise. Deu certo, pelo menos por um tempo”.

Mas esse tempo durou até que Duda chegasse aos 11 anos, quando seu rim esquerdo entrou em colapso. “Tinha apenas 11% das funções, não mais 40%. Isso acarretou numa série de outros problemas”, conta Valeska. Até então, Duda já tinha passado por 19 cirurgias.

Duda sempre esteve, desde os três anos, na lista de transplantes. “O nosso drama durou até 18 de novembro de 2020. Foi quando uma família, de Ipatinga, doou os órgãos da filha, de apenas 13 anos. A menina teve um AVC. E a Duda recebeu um rim direito. Está viva por isso”.

Valeska diz que tem um lema na vida, uma frase que carrega em seu coração e sua mente: “A doação da família de Itabira salvou a minha filha. É o que carrego e não canso de repetir e contar para as pessoas.”

Para ela, não se falar em doação de órgãos, é um absurdo. “As pessoas têm de saber a importância desse ato. A importância de dar, ou devolver a vida a outra pessoa.”

Ela tem orgulho da filha. Conta que Duda compete com ajuda, como a Academia Mergulho, escola de natação do Barreiro, onde ela treina, com academia e técnico. “Tem também o Hospital Felício Rocho, para quem ela fez uma campanha de doação, “Setembro Verde”. Tem também o Via Shopping, aqui do Barreiro e a Escola de Inglês Rockfeller, que dá o curso da língua inglesa para ela”

Duda, a atleta

Nadadora Duda Porto - (foto: Arquivo pessoal)
Nadadora Duda Porto(foto: Arquivo pessoal)

Duda é a primeira atleta mineira transplantada a participar de competições nacionais e internacionais. Ela sonha alto. Estuda na Escola estadual Alberto Delfino, no Barreiro, e completará, em dezembro deste ano, o segundo grau.

E entre o estudo e o esporte, ela divide sua vida. “Eu treino, na piscina, às segundas, quartas e sextas-feiras, por uma hora, sempre a partir de 15h40. Às segundas, terças e quintas-feiras, faço musculação, na escola de natação, às 20h”.

O movimento de competições para transplantados não existe em Minas Gerais, somente nacionalmente. “Mas eu compito aqui. Disputei as competições normais da Federação Aquática Mineira (FAM). No ano passado, fui campeã de um torneio de natação no Sesi”.

Ela se diz apaixonada pelo esporte. “Desde pequena, muito pequena, eu estou dentro da piscina, nadando, competindo. A natação é minha paixão. Quero muito realizar, conquistar, como as da Alemanha. Foi muito importante para mim”.

Duda, assim que retornar de Curitiba, vai disputar uma etapa do Campeonato Mineiro, no final de semana seguinte. “Vou estar pronta, pois quero fazer bonito e conquistar medalhas”.

No retorno da Alemanha, Duda teve uma mostra da importância dos colegas da escola. “Os meus colegas me deram um monte de bilhetinhos, em apoio ao fato de ser nadadora. Eles me incentivaram, com palavras. Disseram que eu era inspiração. Fiquei muito feliz com isso, saber que posso ser útil e, de alguma forma, fazer o bem, estimular as pessoas. Sou muito grata.”

E lembra o passado, quando recebeu a notícia de que precisava fazer um transplante. “Receber a notícia de que eu precisaria de um transplante foi bem pesado, por eu ser muito nova. Mas, graças a Deus, deu tudo certo, e hoje estou aqui cheia de energia e esperança”, conta.

Ela não conheceu a família do doador, mas ressalta a importância desse gesto que mudou sua vida. “Tenho muita curiosidade de conhecer a família do meu doador, mas sei que a lei não permite. Ainda assim, carrego comigo essa gratidão todos os dias e quero mostrar, através do esporte, que a doação salva vidas.”

Após conquistar medalhas nos Jogos Mundiais para Transplantados, uma experiência marcante em sua vida, Duda tem uma grande expectativa nos Jogos Brasileiros. “Espero bons resultados, quero fazer uma prova excelente e continuar mostrando que é possível viver plenamente depois de um transplante. Estou treinando bastante para isso e não vejo a hora de competir em Curitiba.”

Luta

Valeska diz que seria muito importante, nesse momento, se fazer uma campanha para estimular a doação de órgãos e também que houvesse uma campanha para estimular o esporte para transplantados.

“No Brasil, o governo apoia o esporte paralímpico, mas não se fala em esporte para transplantados, o que acontece em grande parte do mundo. Seria muito importante se criar um movimento nesse sentido, pois doar órgão, é vida, é dar vida a quem tem problemas e precisa”, diz.

Os Jogos

A 3ª edição dos Jogos Brasileiros para Transplantados, que ocorre em Curitiba de 18 a 21 de setembro, reúne atletas transplantados, doadores e equipe multidisciplinar de saúde que atua em transplantes.

O objetivo principal do evento é celebrar a superação e promover a conscientização sobre a doação de órgãos. Atualmente, no Brasil, 45% das famílias ainda se recusam a autorizar a doação, segundo a Associação Brasileira dos Transplantados (ABTx).

Segundo o Ministério da Saúde, 78 mil pessoas estão na fila da doação de órgãos.

Para quem consegue o transplante, os Jogos são uma forma de celebrar a vida e, sobretudo, conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos. É o caso de Duda, atleta júnior de apenas 17 anos, que vai participar pela primeira vez da competição nacional.

Além da natação, modalidade em que Duda competirá, os Jogos também terão caminhada (3, 5 e 10km), atletismo, beach tênis, corrida de rua, ciclismo, tênis de campo, tênis de mesa e triatlo virtual. Nesta edição, além de transplantados e doadores, também poderão competir equipes de saúde que atuam diretamente com transplantes.

As provas serão divididas por faixa etária e gênero (somente para os adultos), com as categorias: infantil (até 13 anos), júnior (14 a 17 anos) e adulto (a partir de 18 anos). Cada atleta pode participar de até cinco modalidades.

Provas

  • Atletismo: 100m, 200m, 400m, 800m, salto em distância, arremesso de peso e pentatlo infantil
  • Beach tênis: disputado em duplas
  • Corrida e caminhada: corrida de rua (5 e 10 km) e caminhada (5 km)
  • Ciclismo: 20 km
  • Natação: provas livres (25m a 400m), peito e costas (50m e 100m)
  • Tênis de campo: simples e duplas
  • Tênis de mesa: categoria simples
  • Triatlo virtual: corrida, ciclismo e natação combinados
  • Locais de provas: Praça Oswaldo Cruz, Clube Três Marias e o Velódromo de Curitiba.
  • Premiação: Os três primeiros colocados em cada categoria recebem medalhas. No evento Circuito para categoria infantil (até 13 anos), todos os atletas receberão medalhas de participação. No Tênis de campo, serão distribuidas medalhas de bronze duplicadas, ou seja, para os derrotados nas semifinais.
Compartilhe
google-news-logo