Aos 22 anos, Gabriel Araújo, o Gabrielzinho, como é carinhosamente conhecido, já entrou para a história do esporte Paralímpico do Brasil. Ganhador de três medalhas de ouro em Paris 2024, o nadador mineiro foi a grande sensação do torneio – recebeu o apelido de ‘Pelé das piscinas’ por veículos franceses.
Nascido em Corinto, Gabrielzinho mora e estuda em Juiz de Fora, na Zona da Mata Mineira, e é vinculado ao Praia Clube, de Uberlândia. No retorno ao Brasil, a promessa é de festa em todas as cidades que fazem parte da trajetória do nadador.
Em JF, desfilou em um carro do Corpo de Bombeiros e concedeu entrevista coletiva ao lado do treinador Fábio Antunes, na faculdade onde cursa Jornalismo. Por hora, ele quer um descanso, mas já começa a projetar Los Angeles, em 2028.
“Eu penso em entrar para a história. É só o começo. Tenho que manter os pés no chão. A gente bateu as metas dos jogos de Paris. Tem muita coisa ainda. Los Angeles tem que ser muito melhor. Meu pensamento é sempre esse”, disse o nadador.
Em Paris, Gabrielzinho foi com o objetivo de conquistar três medalhas de ouro na categoria S2. Desafio concluído com sucesso. E com direito a recordes e muita dancinha: “Vim mais preparado. Entendi mais o processo, as etapas, cada periodização. O mais importante é a evolução diária. E dar o melhor de mim para a competição”.
Na sequência, o treinador detalhou que Gabrielzinho evoluiu muito fisicamente. Contou que, ao longo dos cinco anos de parceria, precisou estudar muito para ajudar o atleta a se desenvolver no esporte: “É muita criatividade. Ele é muito inteligente. Conhece muito o corpo, é muito habilidoso e coordenado. Eu faço as propostas e ele dá o feedback. Tem uma equipe multidisciplinar. Alguns exercícios podem ter lesão, então tem fisioterapeuta que auxilia na criação. Pesquisa, análise de imagens, de biomecânica, para poder chegar a esse modelo”.
Reprovação na faculdade e desejo de maior investimento
Na parte mais divertida da entrevista, Gabrielzinho foi questionado sobre a rotina acadêmica, já que há um ano e meio cursa jornalismo em uma faculdade privada de Juiz de Fora. Tricampeão paralímpico, já foi reprovado em algumas matérias.
“Ele deu uma sumidinha. Falei, ‘Tia Renata [Renata Vargas, professora dele], reprova. Se ele não foi na aula, reprova. E reprovou”, dedurou Fábio. “Acabou o Parapan [em 2023], mereço umas férias, eu estava focado no descanso e esqueci do ano acadêmico”, brincou Gabrielzinho.
O atleta destacou que espera que as medalhas tragam mais patrocinadores privados. Hoje, apenas uma empresa de transporte patrocina o atleta. O restante dos vencimentos vêm do contrato com o Praia Clube e de incentivos do governo federal e de Minas Gerais.
“Temos que aproveitar essas oportunidades para ter mais espaço… A empresa tem que arriscar o investimento com atleta individual. Não é só jogador de futebol que tem que ganhar milhões”, refletiu.
O mesmo vale para o treinador. Segundo Fábio, todo o patrocínio é voltado para o atleta. “Pessoal sempre associa tudo ao atleta e esquece que os treinadores precisam sobreviver.. Sou treinador do Praia e recebo por lá. E do Centro de Referência [parceria do governo federal com a UFJF]. Tem a Bolsa Treinador do Governo de Minas. Mas os patrocínios são vinculados ao atleta”, disse.
Agora, Gabrielzinho vai descansar e estudar. Sempre com alegria no rosto: “Ser reconhecido pela pessoa que sou é minha maior medalha. Esse é meu objetivo, que as pessoas conheçam minha história e que eu possa me divertir”.
Matheus Brum/Especial para o Estado de Minas