APOSTAS ESPORTIVAS

COB reúne especialistas e promove evento contra manipulação de resultados no esporte

O 2º Fórum Esporte Seguro teve como tema a manipulação de resultados no esporte brasileiro, e o No Ataque foi convidado pelo COB

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A manipulação de resultados no esporte foi o tema do 2º Fórum Esporte Seguro, evento realizado pelo Comitê Olímpico do Brasil nesta quarta-feira (12/11), no Rio de Janeiro. O COB reuniu especialistas e promoveu debates sobre essas ações que ganharam força nos últimos anos devido ao aumento exponencial do número de sites de apostas no Brasil e no mundo.

No Ataque foi convidado pelo COB e esteve no evento que contou com um grupo seleto de autoridades, dirigentes, atletas e especialistas para o debate de como prevenir e combater a manipulação de resultados no esporte brasileiro.

“O Fórum Esporte Seguro de 2025, é um marco importante para proteger a integridade e os valores do esporte contra a manipulação de resultados. A principal estratégia para combater essa ameaça global é a informação e conscientização e, nesse sentido, estamos lançando o novo curso de combate à manipulação de resultados”, disse Sebastian Pereira, ex-judoca e gerente-executivo de Educação e Fomento do COB.

Outro ex-atleta que discursou no evento foi Emanuel Rego. Aposentado desde 2016 e atual diretor geral do COB, o multicampeão de vôlei de praia – conquistou um ouro em Atenas 2004, prata em Londres 2012 e bronze em Pequim 2008 – destacou que as glórias são importantes, mas é necessário que haja uma garantia de um ambiente justo para a prática esportiva.

“A evolução do esporte brasileiro não passa só pelas medalhas. Deve haver também a garantia de um ambiente seguro, um ambiente íntegro inteiramente para os nossos atletas. O nosso objetivo é o resultado esportivo, mas o máximo da nossa performance, mas também trazer clareza de que os impactos e da manipulação de dados corroem a confiança e a ética esportiva”, afirmou Emanuel. 

Além de Emanuel e Sebastian, outros atletas e ex-atletas estiveram no evento: Beatriz Futuro (rugbi), Bernard Rajzman (voleibol), Daniela Polzin (judô), Emanuel Rego (vôlei de praia), Fernanda Leal Nunes (remo), Iziane Marques (basquete), Marcelo Vido (basquete), Mariany Nonaka (tênis de mesa), Marina Canetti (polo aquático), Natalia Falavigna (taekwondo) e Rafael Silva (judô).

Curso gratuito anunciado pelo COB

No início do fórum, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) anunciou o lançamento de um curso gratuito e on-line para prevenir manipulação de resultados no esporte. O propósito da entidade é que todas as pessoas envolvidas no esporte olímpico façam essa aula que dura uma hora para conscientizar sobre as consequências desses atos.

Desenvolvido pelo Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), o curso foi nomeado como “Combate à Manipulação de Resultados, Juntos em Defesa do Jogo Responsável“. A proposta do COB é que todos os personagens do esporte façam esse curso, desde os atletas, até treinadores, árbitros e gestores. O intuito dessa capacitação é para que haja não só prevenção, mas como também a denúncia quando uma movimentação diferente for presenciada por esses atores.

Segundo a entidade responsável pelo esporte olímpico brasileiro, “o curso reforça a importância do jogo limpo e da integridade esportiva, apresentando boas práticas de prevenção e combate à manipulação”. A aula já está disponível na plataforma do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB) para todos os interessados.

“A manipulação de resultados é uma realidade. Os agentes do esporte sejam atletas, árbitros, treinadores, integrantes de comissões técnicas, etc, podem ser abordados a qualquer momento. Então, termos iniciativas para ajudar a prevenir esse tipo de ação é fundamental. Tanto o Fórum Esporte Seguro para debater esse tema, quanto o curso são ótimas iniciativas para a conscientização. O aprendizado, o acesso à informação e a consciência das consequências é o primeiro passo para evitar qualquer desvio”

Rafael Silva, ex-judoca medalhista olímpico e mestre de cerimônia do fórum

Presença de uma representante do Comitê Olímpico Internacional (COI)

Durante o evento, o COB chamou ao palco uma representante do Comitê Olímpico Internacional. A italiana Donata Taddia, que é oficial de Políticas de Ética e Compliance do COI e trabalha diretamente com o setor de prevenção da manipulação de resultados, falou sobre a ética e integridade no esporte e detalhou o MO PMC, sigla para o “Movimento Olímpico para a prevenção da manipulação de competições”.

Esse projeto da entidade máxima do esporte olímpico usa de três pilares para tentar conscientizar os atletas: regulamentos e legislação; sensibilização; e monitoramento, inteligência e investigação. Essas ações estão sendo executadas com atletas que disputarão a Olimpíada de Inverno de Milano-Cortina, em 2026.

A especialista ainda fez questão de frisar que todos os esportes têm mercado de apostas. Embora os mais populares, como futebol e basquete, por exemplo, contem com mais dinheiro, os outros esportes também podem ter manipulação. E é nisso que as pessoas que estão no entorno esportivo devem se atentar.

“Alguns esportes tradicionalmente já têm uma base de apostas, um mercado bem desenvolvido. Mas tem mercado de apostas em esporte que a gente nem pensaria que tinha, como judô e outros esportes que tem vulnerabilidade. A gente pode pensar que ‘isso aqui não tem problema’, mas é necessário não diminuir as atenções porque os riscos existem”

Donata Taddia, especialista em manipulação de resultados do COI

Outro ponto que a italiana destacou é que os atletas devem ser conscientizados a ponto de ter uma “maldade” sobre presentes misteriosos. A especialista frisou que essas manipulações costumam acontecer com pessoas que já eram próximas aos atletas, tendo a facilidade para obter informações privilegiadas que se tornam apostas certeiras.

Números sobre o mercado de apostas no Brasil

O evento reuniu diversos especialistas, como Giovanni Rocco. O secretário nacional de apostas esportivas representou o Governo Federal no evento e destacou: o Brasil está entre os três maiores mercados de apostas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e disputando a segunda colocação com a Inglaterra. E 80% das apostas em território brasileiro são oriundas do futebol.

“O Ministério do Esporte e o Comitê Olímpico do Brasil, juntos, têm muito a contribuir na construção de uma cultura de integridade no esporte brasileiro entregando conhecimento para os atletas, capacitação para que eles entendam as consequências se eles optarem pela manipulação de resultados. Então, o principal mecanismo é a prevenção. Acredito que essa cooperação entre o Ministério e o COB pode ser muito positiva na proteção da integridade e no futuro dos atletas brasileiros”

Giovanni Rocco, secretário nacional de apostas esportivas

O futebol brasileiro também foi o tema da apresentação de Felippe Marchetti. O profissional do Sportradar, empresa focada em tecnologia esportiva, é especialista em medidas de anticorrupção no esporte e tem doutorado e pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O foco da pesquisa foi a ameaça que a manipulação de resultados representa para o esporte brasileiro.

Felippe fez questão de frisar o valor total que o mercado de apostas gira no mundo em um ano: R$ 7,25 trilhões, sendo que 70% desse montante é oriundo de sites de aposta irregulares. Outro ponto destacado é a estimativa feita pelo Sportradar sobre jogos do futebol brasileiro. Por exemplo, uma partida da Série A do Campeonato Brasileiro gira, em média, R$ 206,6 milhões no mercado mundial de apostas.

Os números assustadores também estão presentes na Série C. No terceiro nível nacional, R$ 43,6 milhões são gerados por partida. Até por isso, Felippe chamou a atenção para a importância da educação para os atletas, a fim de que as altas cifras não os convençam.

O fórum foi concluído com os estudos de caso, citando alguns escândalos em que o futebol brasileiro foi inserido, como a Máfia do Apito, em 2005, e até a “Operação Penalidade Máxima” e os casos recentes de Bruno Henrique, Lucas Paquetá e Luiz Henrique.

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