FISICULTURISMO

Mr. Olympia: por que mulheres usam maquiagem no fisiculturismo?

Marcadores de feminilidade aparecem em competições de fisiculturismo, que avaliam volume, proporção e simetria para definir as vencedoras

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Músculos tonificados, cabelo, acessórios e maquiagem perfeitos. No fisiculturismo – que ganhou o notíciário no último fim de semana com a disputa do Mr. Olympia –, aspectos ligados à feminilidade se fazem cada vez mais presentes. Mas por quê?

Oficialmente, roupas, brincos, biquínis, maquiagem e penteado não fazem parte dos critérios de avaliação dos árbitros. Os principais fatores observados na definição das vencedoras das competições são volume, proporção e definição.

Mesmo assim, o cuidado com outros detalhes é considerado fundamental pelas atletas.

“Eu sinto que maquiagem e fisiculturismo são bem similares. Ambos aumentam sua confiança e fazem você se cuidar”, disse a fisiculturista Navreet Josan em entrevista à Mint Lounge.

“É como um desfile da Victoria’s Secret, você precisa estar bem arrumada, e muitas atletas também usam extensões de cabelo. Ter um look arredondado com maquiagem no rosto é importante para se destacar no palco”, prosseguiu.

Anos antes, a vitoriosa fisiculturista brasileira Silvia Finocchi reforçou a importância da maquiagem – especialmente em algumas categorias.

“Nós valorizamos muito a parte feminina, e a figure é muito feminina. Ela tem que estar uma boneca no palco, uma Susi musculosinha”, disse, em 2008.

“Nós priorizamos muito a maquiagem, o cabelo, a tonalidade da pele, cuidar da pele para que não fique áspera, não tenha espinhas. A gente está sempre se cuidando, e isso faz parte do treinamento, faz parte da preparação, também, ter a unha comprida e bem pintada”, pontuou.

Especialista analisa

Além da tentativa de chamar mais atenção no palco, a maquiagem e outros acessórios são meios de conferir feminilidade a corpos muitas vezes lidos como masculinos por conta dos músculos.

Essa é a análise das pesquisadoras Angelita Alice Jaeger, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e Silvana Vilodre Goellner, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

No artigo O músculo estraga a mulher? A produção de feminilidades no fisiculturismo, de 2011, elas fazem uma avaliação do uso de certos artifícios historicamente ligados ao feminino no fisiculturismo.

“Apesar de os cuidados meticulosos com a maquiagem e a preparação dos cabelos não se constituírem em critérios a serem avaliados nas disputas, as atletas também cuidam de outros marcadores da feminilidade referente, dedicando-se à preparação das unhas das mãos exibidas no formato longo e coloridas com tonalidades fortes ou delicadas, assim como à cor dos trajes e à pedraria dos modelos que compõem a produção das atletas”, lê-se.

“Ainda, detalhadamente escolhem adereços para os cabelos, brincos, cordões, gargantilhas, anéis, braceletes, tornozeleiras e piercing usados nas apresentações. Toda essa preparação precisa ser complementada com uma cuidadosa escolha do modelo de calçados com saltos altos usados na primeira etapa de exibição – com exceção da modalidade physique ou culturismo –, geralmente com plataforma, saltos finos e em acrílico incolor”, prosseguem.

“Todos esses investimentos sugerem que, se o músculo pode produzir dúvidas acerca do sexo, pois são os sinais exteriores que identificam os sujeitos, nada mais produtivo do que insistir e acentuar outros componentes da aparência, afirmando e reafirmando um modo singular de ser mulher, hiperfeminilizando-a”, completam.

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