JOGOS OLÍMPICOS

De BH a Paris 2024: conheça Rayan Dutra, mineiro da ginástica de trampolim

Primeiro homem brasileiro da ginástica de trampolim a se classificar para uma Olimpíada na história, Rayan Dutra quer tornar a modalidade conhecida no Brasil; conheça a trajetória do mineiro
Foto do autor
Compartilhe

Era para ser mais um dia normal de aula na escola que Rayan Dutra estudava no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O garoto de 10 anos não esperava que, naquela manhã, um “evento canônico” mudaria a vida dele: dois técnicos do Minas Tênis Clube visitaram o local, perguntando se alguém ali gostaria de participar de uma peneira de ginástica. Rayan não hesitou – levantou a mão imediatamente. Era o início de uma trajetória que já dura 12 anos e levou o mineiro de BH a Paris, de trampolim.

Para Rayan, nunca houve outra opção. A ginástica sempre foi a paixão da vida dele. Ainda criança, ficava vidrado na televisão ao assistir aos irmãos Diego e Daniele Hipólito brilhando pelo Brasil em Jogos Pan-Americanos e Olímpicos. O pequeno mal sabia que, anos depois, seria a vez de ele representar o país na competição de esportes mais importante do mundo: em 2 de agosto, aos 22 anos, o belo-horizontino vai estrear na primeira Olimpíada da carreira.

Dutra seguiu, contudo, caminho diferente dos ídolos de infância. Embora sonhasse fazer ginástica artística, ele se descobriu em outra modalidade: a ginástica de trampolim.

“Eu assistia muito à ginástica na TV, então sempre quis fazer ginástica artística. Não sabia que existia a ginástica de trampolim, acho que pela falta de visibilidade da modalidade. Mas, quando fui fazer o teste no Minas, meu antigo técnico me perguntou se eu conseguia fazer alguma coisa no que na época era chamado ‘pula-pula’, mas que hoje chamamos de trampolim. Aí, consegui fazer, e ele já viu que eu tinha talento para aquilo. Então, me chamou para um teste de ginástica de trampolim”, disse Rayan, em entrevista exclusiva ao No Ataque.

Rayan é ‘pioneiro’ na ginástica de trampolim brasileira

O trampolim foi a última modalidade de ginástica a entrar para a Olimpíada, bem depois das ginásticas artística – presente desde a primeira edição dos Jogos na Era Moderna, em Atenas 1896 – e rítmica, que estreou em Los Angeles 1984.

Criada em 1934, nos Estados Unidos, inspirada nas redes de segurança usadas por trapezistas de circo, a modalidade foi incluída nos Jogos de Sydney, em 2000. Nela, o atleta salta sobre uma tela chamada de “cama elástica” e executa movimentos técnicos exigidos pelo árbitro.

Só por se classificar para Paris 2024, Rayan já cravou o nome na história da ginástica de trampolim nacional. É o primeiro brasileiro a conquistar vaga na modalidade (entre os homens) em uma Olimpiada. Antes, o Brasil tinha participado da Rio 2016 com a cota de país-sede – na ocasião, Rafael Andrade competiu, mesmo sem ter alcançado os critérios de classificação. Entre as mulheres, a primeira foi a mineira de Ouro Preto Alice Gomes, que carimbou passaporte para Paris alguns meses antes de Dutra.

Justamente pela curta história olímpica do Brasil na ginástica de trampolim, Rayan explica que é necessário prudência com as projeções para Paris 2024.

“Por ser a primeira vez que conquistamos uma vaga na Olimpíada, precisamos ter muito cuidado com as expectativas. É óbvio que o objetivo de todos é ser medalhista olímpico, mas acho que, por ser a primeira participação, conquistar a vaga já fala por si. E esse contexto já ajuda a aumentar a visibilidade, da ginástica como um todo. O fator Rebecca Andrade (brasileira que venceu o ouro olímpico em Tóquio 2020 e é um dos maiores destaques da ginástica artística mundial) ajudou demais as outras ginásticas. A ritmica, por exemplo, vem de crescente muito grande de visibilidade. Espero que o trampolim siga esse caminho”, contou ao No Ataque.

Rayan Dutra em ação - (foto: Divulgação/Minas Tênis Clube)
Rayan Dutra em ação(foto: Divulgação/Minas Tênis Clube)

A trajetória de Rayan até Paris 2024

A classificação para a Olimpíada de Paris 2024 coroa trajetória vitoriosa contruída por Rayan.

Com apenas 17 anos, o mineiro chegou à final individual na primeira vez que disputou os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, em 2019 – apresentou boa execução e quase chegou ao pódio, terminando em quinto lugar.

No mesmo ano, o belo-horizontino conquistou o primeiro título do Campeonato Brasileiro. Dois anos depois, em 2021, voltou a faturar a medalha de ouro da competição.

Marcas internacionais

O ano de 2021 também reservou a Rayan duas marcas internacionais.

  • Estreou no Campeonato Mundial, em Baku, no Azerbaidjão, e fez bonito: chegou à final no sincronizado masculino, resultado inédito para o Brasil. Ao lado de Rafael Andrade, terminou em sétimo lugar.
  • Venceu o primeiro – e único – título internacional da carreira: garantiu a medalha de ouro na categoria individual da ginástica de trampolim nos Jogos Pan-Americanos Júnior de Cali, além de conquistar a prata no sincronizado

A palavra superação resume bem o ano de 2022 de Rayan Castro. Em junho, o atleta passou por cirurgia na coluna. Contrariando as expectativas, ele conseguiu se recuperar a tempo de disputar os Jogos Sul-Americanos. Na competição, o mineiro brilhou, conquistando a medalha de prata.

No ano seguinte, Dutra faturou mais medalhas: bronze no individual do Campeonato Pan-Americano, ouro no Campeonato Brasileiro, prata no individual dos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile, e bronze no sincronizado da mesma competição.

Em março de 2024, Rayan atingiu o ápice da carreira: após chegar à semifinal da etapa de Cottbus da Copa do Mundo de Ginástica, o mineiro conseguiu colocação suficiente no ranking olímpico para garantir vaga nos Jogos de Paris.

Expectativa para Paris 2024

E qual a meta para os Jogos de Paris? Rayan revela ao No Ataque sua ambição.

“A minha expectativa é chegar a uma final. Desde que entrei no esporte, coloquei na minha cabeça que eu queria ir para a Olimpíada. Ir para a final é o ápice da vida de qualquer atleta. E são só oito atletas que conseguem se classificar para a decisão. São só 16 atletas que competem em Olimpíada. Eu normalmente compito com mais de 100 atletas em campeonatos de Copa do Mundo e mundiais. Estar na Olimpíada já é o ápice, mas chegar a uma final é o meu grande objetivo da vida”

Rayan Dutra, ginasta olímpico

Importância do Minas para a ginástica de trampolim

O Minas tem papel central na ascensão da ginástica de trampolim brasileira. Os dois representantes do Brasil na modalidade em Paris 2024, Rayan Dutra e Alice Gomes, treinam no clube da Rua da Bahia.

Rayan não poupou elogios à estrutura do Minas, onde treina desde os 10 anos, e destacou a importância do clube mineiro para a modalidade.

“Sem o Minas eu não seria nada. Sem o Minas, provavelmente, não teria ginástica de trampolim no país no nível que temos hoje. No Minas, treina 75% da Seleção Brasileira olímpica, contando titulares e reservas. O apoio do clube vem sendo indescritível desde que entrei. Sempre com muito planejamento, visão, apoio, tanto financeiramente como de estrutura. O Minas, na ginástica de trampolim, é o melhor lugar do mundo para treinar. Eu sempre falo isso para todo mundo, ninguém tem a estrutura que temos. Fico muito feliz de estarem comigo desde o primeiro dia.”

Ficha técnica

  • Modalidade: ginástica de trampolim
  • Naturalidade: Belo Horizonte
  • Data de nascimento: 29 de março de 2002 (22 anos)
  • Altura: 1,94m
  • Chance de medalha: baixa
  • Olimpíadas anteriores: estreante
  • Principais conquistas: medalha de ouro na categoria individual dos Jogos Pan-Americanos Júnior de Cali (2021), prata no individual dos Jogos Pan-Americanos de Santiago (2023), bronze no sincronizado do Pan de Santiago (2023) e ouro no Campeonato Brasileiro de Ginástica (2019, 2021 e 2023)

Cronograma de Rayan em Paris

  • 2 de agosto, às 13h: Qualificatória masculina individual (16 participantes)
  • 2 de agosto, às 14:50: Final masculina individual (caso fique entre os oito melhores na qualificatória)
Compartilhe