
A aposentadoria custou muito caro para saúde de Jason Mcateer, reconhecido especialmente por sua passagem pelo Liverpool. A discrepância no ritmo de vida, da pressão nos compromissos semanais à pacatez da liberdade, colocou o jogador frente a frente com seu principal adversário: a depressão. Um árduo período relatado pelo próprio em entrevista ao podcast Tales, Tears and Trophies, da beIN Sports.
McAteer vestiu-se de coragem para enfrentar gatilhos durante o importante relato sobre saúde mental. O ex-jogador teve problemas em se reconhecer dentro de uma vida fora do futebol, com outro tipo de rotina e menos compromissos. A natureza esporádica da carreira de comentarista, por exemplo, o deixou “sem senso de propósito” e trouxe ainda mais mergulhado na doença.
“Eu simplesmente não tinha propósito, cara. Não via estrutura. A coisa da TV, quero dizer, eu não trabalhava todos os dias da semana. Como se fosse um ou dois shows semanais. Muito esporádico. Dias e dias sem fazer nada”, iniciou.
“Tudo tinha acabado. Não sinto nem um pouco de falta [da TV]. Sinto falta de tudo sobre jogar. Apenas correr, livre em um campo de futebol. Sem problemas. Nada na vida é um problema para aqueles 90 minutos”, acresceu.
“Quis acabar com tudo”
Jason seguiu o relato e reviveu os momentos mais sombrios à flor da pele. Ele recordou um dos momentos mais difíceis da luta, quando pensou em ‘acabar com tudo’ no caminho da casa do filho.
“Cheguei ao túnel, aquele entre Wirral e Liverpool. Meu filho, com quem eu mantinha esse relacionamento em circunstâncias difíceis, morava do outro lado deste túnel. E eu estava dirigindo pelo túnel, e isso me perturba porque me leva de volta a esse momento, porque eu posso senti-lo”, e prosseguiu:
“E quando você sai da luz do dia para a luz do túnel, é como esse tipo de luz. Lembro-me de pensar comigo mesmo: ‘Vou apenas balançar o carro aqui e acabar com isso’. Tão fácil assim. Eu estava lutando comigo mesmo para não fazer isso. Minha cabeça ficava: ‘faça, faça, faça, faça’. E eu dizia: ‘Não’. Eu estava lutando no volante”.
“E eu lembro de sair do túnel pensando: ‘Graças a Deus. Apenas agradeça a Deus’. E eu fui buscar meu garotinho, porque eu sempre o levava para o cinema. Eu o levei para o cinema e dirigi para casa”, completou.
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Passagem pelo Liverpool
Mcateer estreou pelos Reds, clube de maior expressão em toda sua carreira, no dia 16 de setembro de 1995 e se despediu em janeiro de 1999 – três dias antes do fim de seu contrato.
Disputou 139 partidas nesses quase quatro anos, contribuindo com seus gols e 18 assistências. Desse total, 100 jogos foram pela liga inglesa, com três tentos e 12 passes para os companheiros.
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